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Quando nem todo esforço basta

Por Emanueli Pilger, Mestra em Comunicação pela UFRB

22/07/2025 06h58 Atualizada há 18 horas
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
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A notícia da morte da cantora Preta Gil me atravessou como um vento frio que entra sem pedir licença. A gente sabia do diagnóstico, do tratamento intenso, da batalha diária. Sabia da metástase, daquela palavrinha que, dita assim, tão seca, parece selar um destino. E mesmo assim, no fundo, alimentava-se uma esperança. Porque é difícil aceitar que, apesar de tudo, às vezes nada é suficiente.

Diante de uma doença como o câncer, é impossível não se fazer perguntas. São tantas. Por que alguém tão cheio de vida, com acesso ao melhor que a medicina pode oferecer, não conseguiu vencer? Será que estamos todos à mercê de algo que não entendemos completamente?

Minha mãe, certa vez, contou que, na sua infância, raramente se ouvia falar de alguém que morria de câncer. Hoje, parece que todos nós temos alguém próximo que está em tratamento, que já passou por isso ou que não resistiu. Será que estamos mesmo adoecendo mais? Ou apenas estamos enxergando melhor, diagnosticando mais cedo, nomeando o que antes passava em silêncio?

Há quem aponte o dedo para a vida moderna: má alimentação, sedentarismo, estresse, poluição, a correria que nos impede de ouvir até o próprio corpo. Outros falam de causas emocionais, espirituais, energias mal resolvidas. Algumas dessas teorias tocam o coração, outras encontram resistência na razão. Mas a verdade é que nem mesmo a ciência, com todo o seu avanço, tem resposta para tudo. Preta Gil pôde ir além, buscar alternativas fora do Brasil, tentar tudo o que estava ao seu alcance. E ainda assim, chegou a hora. Assim como chegou para o humorista Paulo Gustavo, que, mesmo com tantos recursos, não conseguiu resistir à fúria da Covid.

Esses casos nos colocam frente a frente com a fragilidade da vida. E nos levam a uma pergunta incômoda: será que vale viver se privando de tanto, com medo do que pode vir amanhã? Será que adianta abrir mão de momentos felizes, de encontros simples, de uma taça de vinho ou de um pedaço de bolo de aniversário, achando que estamos comprando anos a mais? Será mesmo?

A verdade é que não há garantias. Conheço gente que se alimenta bem, corre na praia todo dia, medita ao nascer do sol, e ainda assim foi surpreendida por um diagnóstico difícil. E conheço outros que vivem sem filtro, sem medo, e seguem firmes, desafiando qualquer estatística.

Talvez o que nos reste seja mesmo orar, acreditar naquilo que faz sentido para cada um, seguir as orientações médicas com fé, mas também aprender a aceitar. Porque chega um momento em que lutar contra é como remar contra a maré. É cansativo, é solitário, e dói. A partida, quando chega, é também um descanso. Para quem vai e para quem fica. Porque a dor não é só de quem sente no corpo, é da família inteira, que adoece junto, vive cada pequeno avanço como uma vitória e cada retrocesso como um luto antecipado.

No fim, o que fica é a lembrança dos dias vividos com amor, dos abraços apertados, das conversas ao pé do ouvido. O que fica é o desejo de ter vivido, de verdade, antes de partir.

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