Estava na fila do supermercado, como em qualquer dia comum. Já com os itens no carrinho, me dei conta de que havia pego algo de que não precisava mais. Pedi licença à moça do caixa, disse que voltaria rapidinho e fui até a prateleira devolver o produto ao lugar de onde o havia tirado.
Quando retornei, ela me olhou com um sorriso sincero e disse:
— Parabéns.
Claro que me espantei. Perguntei se era pelo simples fato de ter desejado boa tarde. Ela respondeu:
— Também. Mas, principalmente, por ter levado o item de volta à prateleira. Isso é raro. 99% das pessoas deixam os produtos aqui no caixa, mesmo quando são carnes, iogurtes, manteiga… coisas que precisam de refrigeração. Abandonam como se não tivessem valor ou consequência.
Confesso que a fala dela ficou ressoando dentro de mim. Não pela atitude em si, que considero natural, mas pelo espanto que ela teve ao ver algo que deveria ser básico: educação e empatia. Na mesma hora, me lembrei da minha mãe. Cresci ouvindo dela a seguinte frase:
“Sou pobre, mas sou educada. Posso não ter muito, mas sei entrar e sair de um ambiente. ”
Era o jeito dela de nos ensinar que educação não tem a ver com dinheiro, com classe social ou com aparência. Tem a ver com consciência e respeito. Hoje, o que vejo com frequência é o contrário: um ar de superioridade pairando sobre as relações cotidianas. Um silêncio frio no caixa do mercado, no balcão da farmácia, na recepção do consultório. As pessoas não dizem “bom dia”, não agradecem, não olham nos olhos. Quando não são ríspidas, são indiferentes o que, sinceramente, às vezes dói até mais.
É como se muitos acreditassem que serem atendidos os coloca automaticamente em posição de comando. Como se educação fosse algo que se exige, mas não se oferece.
Não é culpa da funcionária do supermercado se um item está caro, se o valor ultrapassou o limite do cartão, se no fim do mês a conta apertou. Mas, por alguma razão, ela acaba sendo o alvo do estresse de muitos. Deixam o produto ali, largado, como se não fosse nada e esquecem que alguém vai ter que recolher, organizar, cuidar.
Essa experiência me fez pensar o quanto ainda é revolucionário ser gentil. Que devolver um produto ao lugar pode dizer muito mais sobre você do que você imagina. Todo mundo quer sujar a rua para dar trabalho ao gari. Mas morrer para dar trabalho ao coveiro, ninguém quer. Consciência, empatia, educação essas coisas, que já deviam estar enraizadas, parecem ter virado item de luxo.
E eu sigo tentando, dia após dia, fazer jus aos ensinamentos de minha mãe.
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