Sábado, 12 de Julho de 2025
(75) 99168-0053
Artigo Artigo

O Peso de envelhecer sendo mulher

A cobrança cruel das pressões femininas

17/06/2025 09h28 Atualizada há 3 semanas
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Reprodução
Reprodução

Por Emanueli Pilger, Mestra em Comunicação pela UFRB

Dias atrás, li uma entrevista com a apresentadora Xuxa Meneghel, conhecida como a Rainha dos Baixinhos, na qual ela desabafava sobre os julgamentos que sofre simplesmente por se permitir envelhecer. Criticada nas redes sociais, ela relata os ataques constantes à sua aparência física: a pele, o rosto, os sinais do tempo e, especialmente, os cabelos brancos, que para muitas mulheres se tornam símbolo de resistência e liberdade. O relato me levou a refletir sobre a cobrança implacável que recai sobre nós, mulheres, sobretudo após os 40 anos.

Nosso corpo é uma máquina, sim, mas uma máquina viva, que carrega histórias, memórias e transformações. E diferentemente da ilusão vendida por certos padrões estéticos, essa máquina não é perfeita, muito menos imutável. Ao longo do tempo, ela muda, se adapta, se desgasta e se reinventa. E isso é natural. A fisiologia humana se transforma com o envelhecimento e essa transformação precisa ser respeitada. Não apenas internamente, em silêncio, mas também externamente, com dignidade. O envelhecimento é um processo que merece reconhecimento e não julgamento.

Infelizmente, nem todas as mulheres têm condições de atender ao padrão estético imposto. Cirurgias plásticas, procedimentos caríssimos, aplicações constantes de botox. E mesmo aquelas que podem arcar com esses procedimentos, muitas vezes escolhem não fazer procedimentos e pronto.

Mas essa escolha vem com um preço. A sociedade cobra. Cobra alto. Porque ainda vivemos sob uma lógica em que envelhecer é permitido aos homens, mas não a nós. Um homem grisalho é considerado maduro, charmoso, atraente. Um sinal de prestígio. Já uma mulher de cabelos brancos é vista como relaxada, como alguém que “se deixou levar”, como quem não se cuida mais. O mesmo cabelo branco que encanta num homem é motivo de crítica cruel numa mulher.

Essa cobrança é tão desigual quanto perversa. Ela revela o quanto somos empurradas para um padrão que não é nosso, que não nasce de uma vontade própria, mas de uma exigência social violenta e, muitas vezes, capitalista. E isso pesa ainda mais para quem trabalha com a imagem ou com a voz porque, de alguma forma, o corpo também aparece. A estética passa a ser parte da “embalagem” profissional.

Nesse contexto, é desesperador perceber quantas mulheres se submetem a procedimentos e sacrifícios físicos e mentais apenas para manter um padrão que nunca foi feito para elas. Um padrão que, em vez de incluir, exclui. Que, em vez de acolher, oprime. E que, em vez de libertar, aprisiona.

Talvez esteja na hora de observarmos a verdadeira  beleza. De entendermos que rugas contam histórias, que cabelos brancos são medalhas do tempo, e que amadurecer não deveria ser um peso, mas uma conquista.

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.