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Artigo Feira de Santana

Minha mãe e as rezadeiras, a chuva e a política no Brasil

Por Carlos Alberto

01/07/2021 09h11
Por: Ana Meire Fonte: Conectado News
Foto Reprodução
Foto Reprodução

Viúva do senhor Raimundo Rodrigues dos Santos (meu pai), com 46 anos a jovem-senhora Maria da Silva Santos, conhecida carinhosamente como D. Bembém, ficara com 9 filhos para criar: eu e mais 8 irmãos de um total de 12 filhos que tivera aquele casal. Todos naturais da Várzea-Tranqueira, interior do município de Oeiras, estado do Piauí. Bembém era uma mulher de fé, e na medida do possível ensinou aos filhos a seguirem nessa linha.  

De pouca escolaridade, mas com a sabedoria de “tirar um terço”, como dizemos no Piauí na hora de rezar, dona Bembém fez do instrumento religioso, o TERÇO, a força motriz que ensinou aos filhos o quão é importante viver sob as sete principais virtudes de um ser humano: GENEROSIDADE, HUMILDADE, HONESTIDADE, FIDELIDADE, PROSPERIDADE, DIGNIDADE e LEALDADE. 

Naquela época, assim como ainda hoje, muitos de nós nordestinos deixamos os nossos “cantinhos” para irmos à busca de trabalho e melhores condições de vida em outros “cantos”. Isso aconteceu comigo e com boa parte dos outros irmãos. Atualmente são 06 (seis) os Estados da Federação nos quais têm “gente espalhada” dessa família.

Lembro-me quando ainda criança naquele interior, sempre ouvia minha mãe e muitas outras mulheres rezando e pedindo a Deus para que mandasse chuvas. Isso ocorria em determinado período do ano, porém, salvo melhor juízo, tenho lembranças que nos meses de novembro e dezembro de cada ano isso era praxe, pois é quando se inicia o chamado inverno no Piauí e homens e mulheres da roça necessitam cuidar da plantação para ter colheita mais adiante. 

Inicialmente, se não me falha a memória, as rezas, em termos de escalas, aconteciam com pedidos de chuvas que atendessem necessidades mais localizadas. Ou seja, não me lembro de pedidos de chuvas em nível nacional, mas sim na Várzea e nas localidades próximas onde residiam todas aquelas rezadeiras e seus familiares. Creio que o restante do Território Nacional ficava a cargo das outras inúmeras rezadeiras que existem e que mantêm esse costume país a fora. As rezadeiras, sic, são mulheres com dom especial, que num misto de fé e prática da medicina popular, mantêm viva uma tradição cultural.

O tempo passou, morei em Brasília-(DF), Salvador e atualmente resido em Feira de Santana. Desde cedo carrego comigo os ensinamentos passados por Bembém que, atendendo chamado do pai-Maior nos deixou em 2017. Dos ensinamentos um me fez recordá-la, ainda mais, neste momento: a fé. E sobre fé dizia ela que “fé não tem religião, tem crer que Deus pode tudo”.  

Mas, por que me refiro a esses tempos e a questão da fé? Poderia ser questionado. Primeiro, preciso dizer que considerando os tempos nos quais estamos vivendo, especialmente de pandemia do novo coronavirus e de tantas tristezas pelas vítimas fatais, além da vacina é preciso que peçamos a Deus que aumente ainda mais nossa fé e que tudo isso passe logo. Seguindo, ouvi em alguns canais de televisão na quarta-feira, 30 de junho, que “Bandeira vermelha 2 da conta de energia vai subir 52% a partir de julho, anuncia Aneel”.

A Aneel, ou melhor, Agência Nacional de Energia Elétrica tem, por definição, que é uma “autarquia sob-regime especial (Agência Reguladora), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, com sede e foro no Distrito Federal. E tem como finalidade regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, de acordo com a legislação e em conformidade com as diretrizes e as políticas do governo federal”. Ou seja, está ligada ao governo federal e quem cabe regular energia elétrica no país.

Alegam os “senhores” da Aneel que o aumento ocorre após o Brasil sofrer com a maior crise hídrica dos últimos 91 anos, o que tem afetado os níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Em outras palavras, está faltando chuva para abastecer os tais reservatórios. 

Embora seja de conhecimento nacional que também há ausência de chuvas naquelas “cabeceiras de rios”, como diria a saudosa Bembém, qualquer ser humano, por mais ingênuo que possa “pare/ser”, sabe que a falta não é somente de chuva. Ou seja, entre interesses políticos nesse país, a politicagem e a falta d´água nos reservatórios 'há mais coisas que pode imaginar nossa “humilde imaginação”, diria William Shakespeare, com modificações. Há muito mais sujeira debaixo desse tapete do que a água seja capaz de aclarar.

Por fim, seja como for e já vivendo no limite da sensatez, com tantas contas para pagar; com o aumento dos preços da gasolina, carne, feijão, arroz [...]; com a pandemia que continua fazendo vítimas fatais e toda essa balbúrdia na aquisição e/ou falta de vacinas; com esse tempo todo (quase, ou mais de sete anos) que na Bahia o servidor público não tem sequer reposição inflacionária aos salários... ainda mais agora, com essa divisão da conta de energia em bandeiras e esse aumento do valor de uma dessas bandeiras, que já é vermelha, só restou lembrar minha mãe e as suas amigas rezadeiras e, como homem de fé, REZAR e pedir a Deus que mande chuva, desta feita em nível nacional e não somente do líquido precioso, água, mas, também, de honestidade, como diria Flávio Leandro em sua linda música, e de todas as demais virtudes ensinadas por dona Bembém.

 

Por Carlos Alberto professor e radialista

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