Terça, 05 de Agosto de 2025
(75) 99168-0053
Artigo Do negacionismo

Do negacionismo ao negocismo: retratos do governo Bolsonaro

Por Carlos Alberto

25/06/2021 15h06 Atualizada há 4 anos
Por: Ana Meire Fonte: Conectado News
 Foto: Reuters/Adriano Machado
Foto: Reuters/Adriano Machado

Não é maledicência nenhuma, nem para ninguém, que o presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, sempre foi um negacionista da pandemia do novo Coronavírus. Depois de muitos discursos nos quais considerou que o vírus “superdimensionado” ou a “gripizinha” causou “histeria” e que já estava “começando ir embora” deste país de “maricas” etc., cada dia que passa vimos/ouvimos/lemos mais e mais tentativas de negar a Covid-19 e seus efeitos fatais na vida de muitas pessoas no país. Só para informação, chegamos a 509.282 mortes causadas pela terrível doença.

Recentemente em discurso realizado no Palácio do Planalto por conta da abertura da Semana das Comunicações, em maio último, o presidente voltou a disparar seu arsenal negacionista e insinuou que a pandemia da covid-19 é resultado de guerra biológica cuja origem se deu na China, e insistiu no tratamento precoce, além de atacar o uso da peça com que se cobre parcial ou totalmente o rosto para proteção da doença, ou seja, a máscara, além de criticar o distanciamento social e fazer pouco caso do risco de aglomerações. Disse, também, que “A imprensa escreve: ‘O presidente estava sem máscara’. Já encheu o saco isso”.

Que o negacionismo da pandemia sempre foi traço forte desse governo, isso todos sabemos. Essa fala de Bolsonaro, por exemplo, segundo o site www.redebrasilatual.com.br, se deu “poucos dias após a publicação de uma pesquisa científica revelando que o índice de morte pela doença nos municípios onde ele venceu a eleição no segundo turno foi até sete vezes maior”. Disse o presidente: “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”.

O que provavelmente poucos saibam é que o Planalto tentou de todas as maneiras blindar o presidente Bolsonaro de negligenciar uma suspeita de corrupção no seu governo. Segundo informações colhidas, o presidente foi avisado em vinte de março sobre irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin e prometeu acionar a Polícia Federal, no entanto não o fez. Aliás, fez sim. Acionou a PF, a Advocacia Geral da União e até a Procuradoria Geral da República, mas para investigar “os irmãos Miranda”.

Segundo o site www.bbc.com Luis Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, disse ao Ministério Público Federal (MPF) ter sofrido uma "pressão incomum" de outra autoridade da pasta para assinar o contrato com a empresa Precisa Medicamentos, que intermediou o negócio com a Bharat Biotech, produtora da vacina Covaxin. Existe suspeita de compra superfaturada de 20 milhões de doses desse imunizante pelo governo federal. Nisso a CPI da Covid-19 está de olho. Ainda segundo o site, Luis Ricardo teria alertado o irmão, o deputado Luis Carlos Miranda (DEM-DF), sobre os problemas. Alinhado ao governo, o deputado disse ao jornal Folha de S. Paulo que avisou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre irregularidades na compra da vacina.

Documentos obtidos pela CPI e revelados pelo jornal Estado de S. Paulo mostram que o valor contratado pelo governo brasileiro, de US$ 15 por vacina (R$ 80,70), ficou bastante acima do preço inicialmente previsto pela empresa Bharat Biotech, de US$ 1,34 por dose. O gasto total do Brasil seria de R$ 1,6 bilhão. 

Por fim, depois de:

- afastar dois delegados da PF, Maurício Valeixo e Ricardo Saadi, que investigavam corrupção ou crimes praticados por seus filhos: o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ); 

- de trocar três ministros da Saúde, sendo que dois deles não seguiam as orientações bolsonarista em relação à pandemia;

- afastar o delegado da PF que investigava o agora ex-ministro, “incaível”, do Meio Ambiente, Ricardo Sales, alvo de operação da PF que apurava contrabando de madeira brasileira;

- trocar o Ministro da Defesa, Walter Braga Netto e todo o alto comando das Forças Armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha); 

- criar orçamento paralelo para “compra” de parlamentares; 

- da necessidade de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com objetivo de apurar se houve falhas por parte do Governo Federal no enfrentamento da pandemia; 

- negar a pandemia e duvidar da eficiência das vacinas para a covid-19;

- da suspeita de superfaturamento na compra de uma dessas vacinas, a Covaxin, pelo governo federal;

Depois de [...]

Creio que o governo Bolsonaro prova ter saído do negacionismo e alcançado o negocismo. Afinal, isso são retratos desse governo. 

Por . Carlos Alberto professor e radialista

1 comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Jorge DiasHá 4 anos Feira de Santana, BahiaExplicativo, objetivo e muito claro. Parabéns pela análise.
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.