As redes sociais se tornaram vitrines de afetos, mas também arenas de violência. Basta alguns segundos de rolagem para encontrar comentários carregados de rancor, desejos de morte, de doença, de silenciamento. O que antes poderia ser restrito a conversas de bar, hoje é potencializado pelo alcance global de um clique. O hater não apenas discorda: ele deseja o fim do outro.
Esse ambiente tóxico não é obra do acaso. Ele floresce porque o espaço digital ainda é tratado como terra sem lei. Há regras internas das plataformas, mas elas se escondem atrás do lucro e da conveniência, deixando o usuário à mercê de ataques que, na vida fora da tela, configurariam crime.
É nesse ponto que entra a urgência da regulamentação. Mas é preciso desfazer um mito alimentado por aqueles que temem perder privilégios no caos: regulamentar não é censurar. Regular não significa amordaçar, mas justamente o contrário criar condições para que a liberdade de expressão, direito fundamental e cláusula pétrea da Constituição brasileira, possa ser exercida de forma plena. Porque a liberdade só existe de fato quando não se transforma em arma. Quando alguém usa o discurso para negar a dignidade de outro, não está exercendo um direito, mas cometendo um abuso. E abusos, em qualquer sociedade democrática, precisam ser contidos.
A crítica, o humor, a ironia, até mesmo a indignação dura tudo isso é parte do jogo democrático. O que não pode ser naturalizado é o discurso de ódio que deseja que alguém adoeça, morra ou seja banido do convívio social apenas por pensar diferente. Isso não é opinião. É violência. No Brasil, aprendemos a duras penas que democracia se constrói com debate, mas também com limites. Nenhum direito é absoluto, nem mesmo a liberdade de expressão. O que a Constituição protege é o direito de falar, não o direito de agredir impunemente.
A ausência de regulamentação interessa a quem lucra com o caos. Plataformas crescem na base do engajamento, e nada engaja mais do que a polêmica e o ódio. Mas a sociedade não pode continuar refém desse modelo. Cabe ao Estado, em diálogo com a sociedade civil, criar marcos que responsabilizem, que deem transparência, que protejam.
Não se trata de calar vozes, mas de garantir que mais vozes possam falar sem medo. Porque onde reina o ódio, reina também o silêncio forçado daqueles que não suportam mais ser alvo. E uma democracia em que parte da população é calada pelo medo não é uma democracia plena.
O que está em jogo, portanto, não é apenas a saúde mental de quem sofre ataques, mas a própria saúde da nossa vida pública. Regular as redes é um ato de cuidado coletivo. É escolher que a liberdade continue sendo direito de todos e não privilégio dos mais barulhentos ou cruéis.
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