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Achado não é roubado?

Por Emanueli Pilger, Mestra em Comunicação pela UFRB

03/09/2025 09h28
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Reprodução
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Hoje, na academia, ouvi a história de uma pessoa que perdeu o celular dentro do ônibus, voltando para casa após um dia de trabalho. Ela guardou o aparelho na bolsa e, sem perceber, o celular provavelmente caiu. Ao chegar em casa, notou a falta, tentou ligar: na primeira vez chamou, na segunda já caiu na caixa de mensagens.

Para surpresa dela, o localizador indicava que o aparelho estava… no condomínio vizinho ao dela, no mesmo bairro. Com essa informação, foi até a delegacia registrar ocorrência. Lá, ouviu do policial: encontrar um celular e não devolver caracteriza crime de apropriação de coisa achada, previsto no artigo 169, inciso II, do Código Penal. Ou seja, não é porque o celular caiu no ônibus que ele deixou de ter dono.

Esse episódio me fez lembrar da minha infância, quando minha mãe não aceitava que um lápis “estranho” aparecesse na minha mochila. “Não é seu”, ela dizia. Era a base do ensinamento: respeitar o que pertence ao outro.

Falamos tanto em violência, homicídios, furtos e roubos, mas esquecemos de refletir sobre o que sustenta tudo isso: os valores ensinados em casa. Um celular perdido em um ônibus cheio poderia ter sido devolvido. Bastava atender à ligação, avisar, entregar ao motorista, procurar a empresa. Mas, ao invés disso, alguém preferiu se apropriar. Talvez até uma pessoa que pega o mesmo ônibus diariamente que a dona do aparelho.

É nesse ponto que penso: por que o mundo anda tão atravessado, tão permeado de perigos e desconfiança? Talvez porque nos falte justamente o que deveria ser simples: o gesto silencioso de devolver o que não nos pertence.

No fim das contas, não é sobre um celular perdido. É sobre caráter. É sobre compreender que honestidade não depende de lei, mas de consciência. E que enquanto muitos se acostumarem a levar vantagem sobre aquilo que não é seu, continuaremos alimentando, no pequeno, a mesma violência que depois tanto condenamos no grande.

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