Esses dias, estava pensando: você já reparou como algumas pessoas só te procuram quando precisam de algo? Um favor, um contato, um ombro, uma atenção momentânea. Depois, somem. Não respondem mensagens, ignoram suas dores, mas aparecem com um “Oi, tudo bem?” Quando querem resolver algum problema. Delas, é claro./
Vivemos tempos de relações utilitárias. Pessoas são tratadas como serviços: acessadas quando convêm, descartadas quando deixam de ser úteis. E isso diz muito sobre os anseios de uma sociedade marcada pela pressa, pelo ego e pela superficialidade.
Estamos na era dos vínculos líquidos, como bem disse Zygmunt Bauman, em que amores evaporam na primeira crise, amizades se rompem por uma curtida ou por uma ausência, e afetos se tornam transações. E, no centro disso tudo, a pergunta incômoda: estamos nos tornando descartáveis? A rotina acelerada, o excesso de estímulos e a busca incessante por produtividade vão nos afastando, aos poucos, até das pessoas mais próximas. Às vezes, a distância nem é física, é emocional. Estamos perto, mas desconectados.
Por outro lado, há aquelas pessoas que estão por perto, mas fazem questão de se manter longe. Pessoas que conhecem sua história, sabem das suas lutas, mas escolhem não se envolver. Somem nas suas dificuldades, mas aparecem sorrindo nas suas vitórias só para não deixar de marcar presença. E o mais duro: há quem se aproveite da sua bondade. Gente que percebe seu coração disponível e transforma isso em oportunidade para tirar vantagem, sugar até a última gota e ir embora sem olhar para trás.
É nesse cenário que o utilitarismo deixa de ser uma teoria filosófica para virar prática cotidiana. O outro não é visto como alguém com sentimentos, limites e necessidades, mas como um recurso a ser explorado. Enquanto serve, está presente. Quando não serve mais, vira peso. Relações assim não adoecem apenas o coração elas corroem a nossa alma.
No meio desse turbilhão de relações interesseiras, sigo tentando preservar o que ainda faz sentido: o afeto genuíno, o cuidado recíproco, a escuta verdadeira. Não sou perfeita, mas me esforço para não tratar ninguém como ferramenta ou ponte. E, se um dia eu esquecer disso, espero que a vida me lembre com delicadeza e não com abandono.
A verdade é que, apesar de tudo, eu ainda acredito nas conexões que não cobram, não usam, não somem. Acredito em gente que fica. Que não mede o quanto vai ganhar com você, mas o quanto pode caminhar ao seu lado.
Não sei você, mas eu sigo buscando uma felicidade compartilhada sem interesse, sem descaso, sem ausências.
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