No Brasil, ser preto, pobre e favelado é, historicamente, uma sentença de invisibilidade. A tragédia ocorrida em 11 de dezembro de 1998, na cidade de Santo Antônio de Jesus, é um dos exemplos mais cruéis e emblemáticos dessa realidade. *Naquela fatídica sexta-feira, uma tenda de fogos de artifício explodiu, deixando um rastro de morte, dor e abandono. Quem viveu aquele dia nunca esqueceu onde estava no momento da explosão — a cidade inteira parou, mas o Estado seguiu em silêncio.
As vítimas? Moradores de periferia, trabalhadores precarizados, pretos e pobres. Gente que, para o poder público, nunca teve rosto, nome ou valor. Gente que morreu sem direito à justiça. O episódio marcou profundamente a memória coletiva da população, mas, curiosamente, jamais foi lembrado com a devida responsabilidade pelas gestões municipais que se sucederam.
*Não há homenagem oficial. Não há reparação. O luto permanece individualizado, confinado às famílias que perderam seus entes queridos. A negligência do poder público é explícita — e pior: institucionalizada.*
E por que isso? Porque os responsáveis, direta ou indiretamente, estavam — e continuam — ocupando posições de poder. A família Bastos, envolvida desde as entranhas do caso, seguiu ocupando espaços estratégicos em quase todas as administrações locais desde então. Sua permanência política simboliza não apenas o domínio de um grupo sobre a máquina pública, mas a continuidade de um projeto de apagamento histórico, conivência com o descaso e impunidade institucional.
A ausência de justiça transforma essa tragédia em um capítulo de genocídio urbano, em que o perfil das vítimas — pretos, pobres, da favela — foi fator determinante para que o caso fosse encoberto e esquecido. Mas o povo de SAJ lembra. E exige memória, verdade e reparação.
Santo Antônio de Jesus não pode continuar silenciando sua própria dor. *A tragédia da tenda de fogos precisa ser reconhecida como um marco de irresponsabilidade, racismo estrutural e negligência histórica. Não se trata apenas de lembrar os mortos. Trata-se de denunciar os vivos que continuam lucrando com a morte alheia.*
Samuel Silva Souza
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