Zumbi dos Palmares e da consciência negra é celebrado no Brasil em 20 de novembro, concebido em 1971 foi formalizado nacionalmente 2003 como uma data importante no calendário escolar, até ser instituído como data comemorativa em 2011. Nesse dia tão importante, o programa Levante a Voz da Rádio Sociedade News FM 102.1, entrevista Fernando da Silva Moura, 44 anos, residente no município de Biritinga. Fernando além de ser negro, convive com a deficiência visual desde que nasceu. Segundo Fernando, o Dia da Consciência Negra deveria ser todos os dias.
"Há uma frase que diz: queria que tudo fosse na base do diálogo, mas nem tudo é como eu quero e nem tudo vai ser assim, porque infelizmente dialogamos com pessoas que infelizmente tem a chamada pele bruta e o coração fechado. Seria bom que não precisasse ter esse tipo de diálogo, que todo fossemos tratados com igualdade, mas há uma outra frase que diz: enquanto vivermos, encontraremos obstáculos, acredito que essa consciência não deveria ter um dia específico, deveria ser todos os dias, mas como tem por exemplo o Dia das Mães, o dia da pessoa com deficiência, o dia do radialista, esses dias existem para que até mesmo os preconceituosos que ficam no armário venham a lembrar da existência, o que não era para ser. Deveria ser o contrário, que todos os dias, essa camada específica de pessoas fossem lembradas, mas como não são, é obrigatório a criação dessas datas para aqueles que têm preconceito mas não tem coragem assumir, nesse dia vão abraçar os seus parentes, as pessoas mais próximas, mas não porque amam, e sim para esconder a chamada “capa”, pois felizmente vivemos debaixo da capa, onde muitos fingem amar, mas no seu íntimo desejava viver bem distante. Seria bom que não fosse assim e que essas pessoas mudem a cabeça e o coração, mas, infelizmente, é assim que elas pensam é por isso que existe um dia para isso, outro para aquilo, para que as pessoas que são discriminadas, sejam menos maltratadas".
CN - Quais os desafios você enfrenta por ser negro? Se você fosse branco acredita que passaria por essas dificuldades?
Fernando - Infelizmente não, e digo porquê. Caso fosse branco seria mais abraçado nas festas, seria melhor tratado por alguns familiares e infelizmente, é assim que a vida toca é assim que é. Na Bahia as pessoas precisam aprender que existe mistura de cor, mas não existe classe branca, mas, tem aqueles que por ter a pele mais clara, infelizmente são mais abraçados, vivemos em uma sociedade injusta e perversa, há pessoas que no meio do povo abraça e beija, mas na verdade queria se ver livre. Começa não pelos estranhos, mas dentro de casa.
CN - Você já sofreu algum caso de racismo?
Fernando - Sim. Uma certa época em São Paulo, entrei no ônibus indo para o Hospital das Clínicas e pisei no pé de uma mulher sem querer, e ela disse:
- Vai arrancar meu pé fora cego?
Eu disse:
- Não, pisei sem querer, não tive a intenção.
Ela indagou:
- E por que não fica em casa, já que é cego?
Eu disse:
- Que pena que a senhora não fica, porque a senhora que precisa voltar a enxergar.
Ela ficou irada, o cobrador veio e disse:
- Mulher, fecha a boca, que existe o dia de Chico e o dia de Francisco.
As pessoas disseram para não me abalar. Mas não me abalei, pelo contrário, sempre enxerguei, ela que precisa ter visão, e infelizmente nunca teve nem um por cento.
CN - Sua opinião sobre pessoas racistas?
Fernando - Algumas são revoltadas com a vida e querem descontar sua revolta em alguém, há pessoas que se criam revoltadas, porque querem o mundo só para elas, são pessoas duras, sem Deus no coração, e que muitas vezes acabam fazendo escola. Uma vez um menino chamou uma mulher de peste preta, eu disse, meu filho, não fale assim por que ela é um ser humano. Ele disse: mas mãe fala assim, ou seja, ele foi ensinado dentro de casa, as pessoas contribuem para que o mal aconteça e crie raiz, porque se não me dou com você, mas ensino meu filho a lhe xingar, hoje ele te xinga, mas amanhã xingará a mim. Quando for repreender ele dirá: não meu pai, foi o senhor que me ensinou. Infelizmente na maioria das vezes somos os contribuintes para que a desgraça seja semeada na terra.
CN - Qual é a mensagem que você deixa para pessoas que sofrem ou sofreram as mesmas dificuldades que você sofreu?
Fernando - Não baixar a cabeça, porque se você cruzar os braços está dizendo que elas estão certas, não brigar. Supere-se. Qual é a melhor maneira de se superar? Buscando um grau de escolaridade para estudar e se empenhando bastante, provando que você é capaz, e no final do seu desejo de escolaridade, buscar um meio de voar, exercer à sua profissão. Tratar essas pessoas sempre com amor, mensagem de paz, tranquilidade e acima de tudo, se puder, crie uma canção e cante para que ouçam, porque o tempo se encarregará de curar essa ferida, a ferida da escuridão, de mostrar que elas não têm razão, que o preconceito é uma doença que tem cura quando se permite curar.
Reportagem: Hely Beltrão
Transfobia Bahia: Mulher trans vai receber indenização após ser chamada de “senhor” em ônibus
Obras da Embasa Embasa inicia obra em Riachão do Jacuípe
Golpe em Idosos Oração de Benção custa caro para idosos
Furto de cabos Furto de cabos de energia impacta mais de 7 mil baianos em 2025, aponta Neoenergia Coelba
Fiscalização “São executadas de forma permanente e estratégica”, diz Agerba sobre fiscalização do transporte intermunicipal em Feira de Santana
parto inesperado PRF participa de parto inesperado na BR 324 
Mín. 18° Máx. 34°
Mín. 19° Máx. 33°
Tempo limpoMín. 18° Máx. 30°
Chuvas esparsas