PRAXE
No futebol existe uma frase que é bastante conhecida, mas que neste momento pode ser muito bem adaptada a situações político-comportamentais ou coisa que o valha, e diz o seguinte: "a melhor defesa é o ataque". No caso do Brasil, em se tratando da política nacional, mais especialmente ao presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, isso tem se tornado regra. Dia a dia o presidente ataca a imprensa como um todo ou repórteres em particular; ora ataca pessoas ora instituições; ora ataca sistemas ora ataca partidos políticos; ora ataca países vizinhos ou mesmo alguns mais distantes; ora ataca opositores e noutra ataca quem foi situação e que agora não mais o defende enfim, atacar alguém, alguma coisa, um lugar [...] tem sido praxe na história da vida “política” de Bolsonaro. Basta uma rápida “googada” e o leitor matará a curiosidade do que falo.
JUSTIFICATIVA
Antes de continuar, cabe registrar que o título deste artigo teve origem em situações protagonizadas, de maneiras para além de irônicas e desrespeitosas (pra não adjetivar de outras maneiras), e em situações distintas vindas da mesma pessoa: Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil. Enfatizar também que o presidente foge de perguntas, sobretudo de repórteres, “como o diabo foge da cruz”, mas isso o Brasil já sabe; o que talvez alguns ainda possam ter dúvidas é o que, ou melhor, quais são os verdadeiros motivos para agir com tamanha ojeriza a questionamentos os quais, salvo melhor juízo, nunca teve, tampouco faz questão de ter. Refiro-me à capacidade intelectual ou mesmo conhecimento de causa para enfrentá-los e responder condignamente, com o respeito que o cargo exige.
COMO AGE O PRESIDENTE
Em março deste ano quando era questionado sobre o “por que resistiu a comprar vacinas contra a covid-19?”, o presidente respondeu: "Tem IDIOTA que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] 'vai comprar vacina'. Só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] para vender no mundo". (grifo nosso). O resultado sobre o “imbróglio” vacina todos nós temos acompanhado, o mundo tinha e tem vacinas, não é necessário ser repetitivo. Graças à ciência outras marcas são criadas dia a dia, o que parece mostrar que ainda vamos conviver com essa terrível doença por um longo período.
Recentemente, em 27 de agosto pp, quando conversava com apoiadores no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, ou seja, no “cercadinho”, ao ser questionado por um simpatizante se havia novidade para caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, Bolsonaro “largou” mais uma pérola: "O CAC está podendo comprar fuzil. O CAC que é fazendeiro compra fuzil 762. Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um IDIOTA: 'Ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar." (novamente grifo nosso). Essas são algumas das justificativas para a escolha do título conforme o segundo parágrafo. Ou seja, Bolsonaro tem como hábito chamar de "idiota" pessoas que o criticam ou que o cobram pela situação do país.
Tem sido com divulgação de fake news, ofensas à imprensa e/ou a jornalistas, negação: que o brasileiro passa fome; da pandemia do novo coronavírus; da ciência e da realidade; falácias; pedir que o brasileiro “faça cocô dia sim dia não”; teoria da conspiração; falsas polêmicas; ataques às instituições democráticas e uma centena de tantas outras coisas ditas, escritas e/ou divulgadas, especialmente, nos últimos dois anos e meio pelo presidente e alguns “seguidores” seus, que mostram situação análoga à ‘qualquer atitude que iluda, engane, amenize e/ou despiste as reais intenções ou motivos do que está acontecendo’ ou que deveria acontecer, mas, jamais, informar ou comunicar-se com o povo brasileiro.
Estratégias, inclusive, que na maioria das vezes são utilizadas por aqueles que são considerados líderes políticos, para desinformar àqueles que deveriam ser informados das reais situações porque passa um país, um estado, uma cidade enfim, a lógica é desviar a atenção de uma ou várias situações. E essas “desinformações planejadas” funcionam de modo que costumamos considerá-las como “cortinas de fumaça”.
DIRETO A FATOS
Do ponto de vista político-eleitoral, o presidente Bolsonaro parecia viver, até fevereiro deste ano, uma situação confortável. As pesquisas davam ao mandatário da nação vitória certa numa possível disputa à reeleição, desde que um de seus dos possíveis adversários não fosse o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A partir do momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela anulação de todas as condenações judiciais de Lula no âmbito da Operação Lava Jato e abriu caminho para que o petista concorra à presidência caso não sofra mais nenhuma condenação, o que parecia favorável ao presidente-candidato atual “virou de pernas pro ar”.
Enquanto o mundo político do presidente Jair Bolsonaro sofre com todo esse cenário, ou seja, de possível candidatura de Lula em 2022, pesquisas recentes projetam vitória do ex-presidente, com possibilidade de vitória ainda no primeiro turno, segundo alguns institutos. Fato é que até 2022 muita coisa pode acontecer, inclusive nada, lembrando Flávio José em sua linda música “A Natureza das Coisas”. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
Em mais uma série de cortinas de fumaça, o presidente criou um problema chamado voto impresso, atacou o sistema eleitoral brasileiro e ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em especial o atual presidente da Corte, ministro Luiz Roberto Barroso (ameaçando cassá-lo), convocou seguidores para ocupar as ruas e defender a proposta, melhor o problema criado, como se isso fosse a solução para os verdadeiros problemas do Brasil e dos brasileiros.
Enquanto isso, o desemprego aflige 14,7 milhões de trabalhadores, o que corresponde a 14,7% no trimestre fechado em abril último, segundo o IBGE; levantamento sobre a fome no mundo aponta que no período de 2018 a 2020 a insegurança alimentar grave atingiu 7,5 milhões de brasileiros, quase o dobro dos 3,9 milhões registrados entre 2014 e 2016. Por outro lado, estudo igualmente confiável aponta que em 2021 o Brasil conta 19,3 milhões de pessoas vivendo em pobreza extrema, segundo dados do site do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso do Sul. Para não citar outros exemplos.
Seguindo a linha de desviar as atenções, o presidente do Brasil não só vive de criticar o STF e seus ministros ou pedir cassação de ministro daquele Colegiado e ameaçar outro, mas também recorre ao mesmo STF e, em 19 de agosto, entrou com ação na qual pede a anulação de um artigo do regimento interno daquela Corte. O trecho permite a instalação de inquérito “de ofício”, isto é, sem pedido de abertura elaborado pelo Ministério Público (MP). Neste caso, o presidente teve seu nome incluído em inquérito que investiga divulgação de fake news, porque, segundo o STF, Jair Bolsonaro “usa de artifícios semelhantes aos grupos investigados para propagar notícias fraudulentas e ataques pessoais”. Por um lado, dá bordoada na instituição; por outro, propõe alterar o instrumento normativo de quem apanhou, STF.
Enquanto isso, sic, o ministro Gilmar Mendes, da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal, do STF, adiou nesta 3ª feira, 31, o julgamento sobre o foro privilegiado do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) no caso das “rachadinhas”. Também nesta terça-feira, a Justiça do Rio de Janeiro autorizou a quebra do sigilo bancário e fiscal do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em meio à apuração de desvio de recursos públicos em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. A informação é da Folha de S. Paulo. Processos contra Flávio Bolsonaro se arrastam desde 2018 entre idas e vindas no tabuleiro judicial brasileiro. Ou seja, ora o STF interessa ora tem que “fechar”.
Ainda sobre possível esquema de “rachadinha”, recentemente a ex-cunhada do presidente da República, Andrea Siqueira, divulgou áudios o acusando de ter montado um esquema ilegal de entrega de salários de seus assessores dentro de seu gabinete, mais conhecido como “rachadinha”, enquanto ocupava o cargo de deputado federal entre 1991 e 2018. Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher do presidente. As três reportagens foram publicadas pelo site UOL, em 5 de julho passado. Com tantos problemas pessoais e familiares para ser enfrentados, o presidente tem se valido de inventar problemas que em nada apontam saídas para o Brasil da crise em que foi imerso, mas que vai desviando o foco da base aliada, da oposição, da imprensa, de seguidores, dos menos avisado...
Em estudo que tratou sobre Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil, segundo o IPEA, “a população em situação de rua cresceu 140% a partir de 2012, chegando a quase 222 mil brasileiros em março deste ano, e tende a aumentar com a crise econômica acentuada pela pandemia da Covid-19”. Entre 2018 e 2020, de acordo com matéria do UOL, de julho último, “a prevalência de insegurança alimentar grave atingiu 7,5 milhões de brasileiros. Número era de 3,9 milhões em entre 2014 e 2016”.
Noutro extremo, o senador da República, Flávio Bolsonaro, comprou recentemente mansão de R$ 5,97 milhões em bairro nobre de Brasília. Enquanto o irmão do senador, Jair Renan Bolsonaro, filho 04 do presidente Jair Bolsonaro, e a mãe, a advogada Ana Cristina Valle, trocaram um apartamento de 70 metros quadrados no município de Resende, no interior do Rio de Janeiro, por uma mansão avaliada em R$ 3,2 milhões em uma área nobre de Brasília, divulgou o Correio Brasiliense. O custo do aluguel do imóvel, segundo a matéria, é de 8 mil reais mensal.
FINALIZANDO
Considerando o resumo de muitos dos fatos recentes criados/noticiados por Bolsonaro, alguns, inclusive, com objetivo único e claro de desviar a atenção de parte da população brasileira;
Considerando que as ruas estão sendo ocupadas pelos que se alcunham como “conservadores patriotas” e que defendem, entre outras coisas, medidas consideradas antidemocráticas e que vão de encontro ao Estado Democrático de Direito;
Considerando que os “demais” já não ocupam mais esses mesmos espaços como faziam antes, para defender geração de emprego e renda, educação, saúde e segurança gratuitas e de qualidade, comida na mesa da população e quaisquer outras medidas que permitam que o povo possa viver com um mínimo de dignidade;
Considerando que tudo isso acontece sem que Congresso Nacional, STF, TSE, STJ e/ou qualquer um a quem cabe adotar providências de fato, sem que o façam;
Considerando que o povo, que verdadeiramente sofre com tudo isso, não assume as ruas deste país para dar um basta nesta situação;
Considerando, sobretudo, que o presidente da República, Jair Bolsonaro, continua com suas atitudes e discursos antidemocráticos, chulos, raivosos, preconceituosos [...] resta perguntar: Será mesmo o Brasil um país de ‘idiotas’?
Ah!... como lembrança, há um ditado, também no futebol, que é muito utilizado quando o time perde seguidamente: “É mais fácil trocar o técnico”. E o Brasil está perdendo muito. Espero ter sido claro.
Por Carlos Alberto professor e radialista
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