Mais uma vez, o povo feirense inicia uma semana com a ausência do serviço de transporte coletivo urbano. E infelizmente para nós, isso não é uma novidade, já que na história recente (2015) ficamos sem qualquer serviço de transporte por ônibus urbano por mais de uma semana. Não é novidade para ninguém que o serviço de transporte coletivo oferecido na cidade é desorganizado e deixa a desejar em vários aspectos. As reclamações são constantes, e muitas pessoas recorrem a formas alternativas para se deslocar na cidade, já que não dá para contar com um serviço público que constantemente falha na prestação do serviço.
Ônibus velhos, roteiros e horários ineficientes e um serviço que é prestado sem levar em consideração as críticas e necessidades dos clientes. Você imagina, pagar caro (já que a passagem em Feira é uma das mais caras do nordeste) por um serviço que deixa a desejar e volta e meia é alvo das mesmas críticas por parte dos usuários? Somente no Brasil, em cidades como a nossa, pagamos caro por um serviço que nunca atende nossas demandas da forma prometida, são atrasos, roteiros mal elaborados, pontos mal localizados e sem a mínima infraestrutura e segurança, que causam dia após dia a sensação de abandono e desrespeito nas pessoas que são obrigadas a utilizar o serviço.
Não é atoa, vem crescendo na nossa cidade o uso de motocicletas, carros particulares e os serviços de transporte alternativo (sejam vans, motoboys, ou os famosos ligeirinhos).
Interessante pensar que no discurso oficial, as vans, combis, sprinters, motoboys, são apresentados como complementares ao serviço de transporte público, contudo na prática do dia a dia de quem mora nas periferias e zona rural (população de maioria negra), o que deveria ser complementar se torna a principal alternativa para se deslocamento na cidade, já que o transporte público com ônibus, mal chega nessas regiões, e quando chega, é atrasado, em ônibus defasados e em horários escassos.
Fica evidente o descanso com as necessidades de quem precisa de um serviço de transporte coletivo minimamente eficiente, pois, já se tornou tradicional em nossa cidade, protestos e greves envolvendo o serviço de transporte público. E não podemos deixar de pensar que os principais envolvidos nessa questão são pessoas negras, seja na operação do serviço (motoristas e cobradores), seja na utilização dele com meio de transporte. Basta observar com um pouco de atenção para perceber que o transporte coletivo é utilizado principalmente por pessoas negras e pobres, que moram nas regiões mais afastadas do centro da cidade, e que dependem de um serviço de transporte eficiente para poder se deslocar para o trabalho, para consultas médicas ou quaisquer outros serviços no centro da cidade. Lazer então, nem se fala...
Por isso, ao ofertar de um serviço de transporte, ineficiente, caro, com trabalhadores mal pagos e insatisfeitos com as condições de trabalho (já que ninguém dá o melhor de si quando não recebe o pagamento pelo serviço prestado), os principais prejudicados são os cidadãos mais vulneráveis, em sua maioria pessoas negras, que dependem de um serviço minimamente regular e eficiente para poder tocar sua vida. Mas ai, fica a pergunta: Será que o serviço de transporte coletivo seria tão ruim se os principais usuários fossem os moradores dos bairros nobres (de maioria branca) da cidade? Será que se fossem as senhoras da elite que precisassem dos ônibus para ir ao centro, ou os filhos dos ricos que pegassem ônibus para ir a escola ou ao médico, nós veríamos tanto descaso e negligência com a oferta desse serviço? Acho que não.
Por Zaqueu Silva Licenciatura em História pela UEFS, Mestre em História social PPGH-UFAL,Doutorando em História Social PPGH-UFBA,membro do LABELU-UEFS,Conselho editorial de A-pala revista e membro do NEABI-UEFS.
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