INOCÊNCIA
Inicialmente, confesso que devo ter sido tomado por uma “infantil inocência”, e em conversa com um amigo na tarde/noite de terça-feira, 10, disse-lhe que aguardava ansioso pela votação, favorável ou contrária, à Proposta de Emenda Constitucional - PEC 135/2019. Ou seja, que a Câmara dos Deputados pudesse encerrar de vez o assunto voto impresso, como ficou conhecida a proposta da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF).
A crença que eu nutria e a ansiedade pela discussão da matéria era de que sendo resolvido “esse problema” (conforme escrevi recentemente), no dia seguinte o Brasil amanheceria diferente. As discussões/postagens/comentários/pautas seriam outras, e os grandes temas que tanto o povo brasileiro espera que sejam discutidos no Congresso Nacional dominariam o noticiário e as redes sociais, a exemplo de projetos que possibilitem a empregabilidade e geração de renda.Lei do engano.
Quiçá, essa “inocência” tenha encontrado ainda mais respaldo no pronunciamento feito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que disse na última segunda-feira, 9, que após a PEC - já refeitada por Comissão Especial -, fosse discutida e votada naquela Casa Legislativa, seu maior defensor, o presidente da República, “Jair Bolsonaro (sem partido), acataria a decisão e o assunto estaria encerrado”.
O RESULTADO
Pois bem! A proposta foi levada a plenário, discutida, votada e rejeitada pela Câmara dos Deputados. Votaram a favor da PEC 229 deputados; 218 votaram contrários e 01 parlamentar se absteve. Para ser aprovado o texto necessitaria de 308 dos 513 deputados. Amanheceu a quarta-feira, 11, e a mídia, redes sociais enfim, todo mundo falava do mesmo assunto: PEC 135/2019. Já aquele que escolheu esse tema como única proposta para o Brasil, Jair Bolsonaro, continuou como sempre e amanheceu dizendo que “as eleições de 2022 não serão confiáveis”. Tudo isso com o apoio de seus “(per)seguidores” que encheram as redes de vídeos distorcidos, de convites para o 7 de setembro, quando prometem voltar às ruas do Brasil ainda com essa pauta (voto impresso), e tantos outros pontos inconstitucionais que essas pessoas defendem diuturnamente.
O DIVERSIONISMO
Enquanto o presidente da República tratava de exercer seu diversionismo, ou melhor, sua capacidade de desviar a atenção de parte da população para propostas como essa, cabe lembrar que encontra-se em andamento, entre outros assuntos, CPI que investiga a atuação (ou a falta de atuação) do governo federal no enfrentamento à covid-19; investigações pelo Tribunal de Contas da União (TCU), Polícia Federal (PF), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente do Brasil, no exercício do cargo; proposta de privatização dos Correios; proposta de reforma tributária; reforma administrativa; concessões florestais; parcelamento de precatórios e outros temas que, salvo melhor juízo, não contribuem em nada para melhorar a vida do povo brasileiro.
No mesmo dia em a Câmara dos Deputados gastava tempo, QI e, principalmente, recursos públicos (entenda dinheiro do povo) e vivia ocupada discutindo se o voto deveria ser ou não impresso, Bolsonaro acompanhava, do alto da rampa do Palácio do Planalto, desfile de carros blindados da Marinha que seguiam para a cidade de Formosa, no estado de Goiás, onde ocorre o treinamento de militares; e que, pela primeira vez, desde a década de 80, fez “essa manobra” na Esplanada dos Ministérios, simplesmente para “entregar um convite ao presidente da República”. Tudo isso no mesmo dia em que o presidente, sic, tinha quase certa sua derrota na PEC em questão.
ENTRE A CRUZ E A ESPADA
Esta expressão geralmente é usada para fazer referência ao indivíduo que se encontra em meio a um grande dilema, e necessita fazer uma escolha e essa escolha poderá desencadear grandes e/ou profundas mudanças. Embora ainda haja muita discussão sobre essa expressão, pois alguns dizem não concordar e não entender como poderia ser um dilema ficar entre a cruz - que simboliza algo de bom - e a espada - que pode ferir e matar.
Ainda assim, neste caso, o uso da expressão “entre a cruz e a espada” trata-se de uma analogia ao momento que vive o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que tem cada vez mais ficado refém do chamado Centrão (a cruz), para não sofrer um processo de impeachment, fora outros tantos problemas que enfrenta desde que chegou ao governo prometendo acabar com a corrupção, combater a velha política enfim; e seu governo, cujos homens das Forças Armadas têm sido, paulatinamente, "infiltrados" nos cargos de alto escalão (a espada).
Forças Armadas que, segundo as normas legais possuem três finalidades: (1) defesa da Pátria; (2) defesa dos Poderes Constituídos; e (3) por iniciativa de quaisquer Poderes, garantir a lei e a ordem. Parece que “para garantir a lei e a ordem” somente nos últimos três anos o número de militares no governo saltou de 3.515, em 20199 para 6.157 até a presente data. Diante deste cenário, e considerando que na matemática da política 2 mais 2 nem sempre é igual 4, esse dilema vivido pelo governo Bolsonaro tem atingido a parte mais vulnerável, o povo. É como diz Mário Sérgio Cortella “Na briga entre o mar e o rochedo, é o marisco que apanha”. Entenda marisco como POVO.
AH! O POVO!
Ao finalizar, retomo o que disse ao meu amigo durante a conversa que tivemos, e vendo que no dia seguinte, portanto, nesta quarta-feira nada mudou e, quiçá, não mudará a partir de amanha, de depois e depois de amanhã, utilizo-me de notícia veiculada no site https://www.trbn.com.br/ do último domingo, 8, cuja manchete afirmava “Bolsonaro e ACM Neto entram em acordo para eleições 2022”.
Segundo o corpo da matéria, com informações do colunista José Casado, da revista Veja, “Bolsonaro tentará a recondução ao Palácio do Planalto e necessita de um palanque na Bahia. Já Neto, será candidato a Governo da Bahia”. Neste sentido, os dois políticos entraram em acordo visando o pelito que se avizinha. E sabe quem mediou o acordo? “O televangelista Silas Malafaia, que é conselheiro do presidente”.
Ainda de acordo com a publicação, “a proposta visa garantia de apoio ao Governo Federal, além disso, Neto irá consolidar uma aliança de ativistas evangélicos para a disputa contra o PT na Bahia”, além de possível abertura para que o vice da chapa de Neto seja algum nome ligado ao atual presidente. Isso, segundo o site, “reforça os rumores de que o ministro da Cidadania, João Roma, pode se reconciliar com o herdeiro carlista”.
Em matéria publicada no site Correio Braziliense, em 1º de agosto, portanto antes da discussão na Câmara sobre voto impresso, a deputada Bia Kicis afirmou "A nossa arma nesse momento é o voto impresso, auditável. É a arma do povo. Respeitem o povo ...” Ainda de acordo com discurso da parlamentar, publicado no site https://www.otempo.com.br/ em 10 de agosto, “... os eleitores do Distrito Federal votaram em mim acreditando na possibilidade de aprovarmos a PEC do voto impresso auditado...” Cremos ser necessário deixar duas perguntas em torno dessas declarações: 1 - a que povo a deputada se refere? 2 - será mesmo que a aprovação do voto impresso era defesa dos eleitores que votaram na deputada, ou sua própria?
Por fim, sabendo que nos bastidores da política local, estadual ou nacional é assim que são delineados os conchavos que visam alcançar projetos de poder, sendo, neste caso, o voto desses evangélicos “negociado”, afirmamos, não só por isso, mas também por esta razão que, para a classe política e outros que vivem da exploração alheia, “o povo é apenas um detalhe”.
Por Carlos Alberto professor e radialista
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