Quando você pensa que já viu tudo... Ledo engano. De repente, aparece algo novo.
COMIDA. Esse é o título de uma das muitas músicas da banda de rock formada na cidade de São Paulo, Brasil em 1982, chamada Titãs. Segundo informações colhidas, é uma das bandas de rock mais bem sucedidas no Brasil, tendo vendido mais de 6,3 milhões de álbuns e fazendo parcerias com vários artistas brasileiros de renome e diversos cantores internacionais. Grammy Latino em 2009, Troféu Imprensa de Melhor Banda por quatro vezes, são algumas das conquistas da banda.
Mas a ideia é falar dos Titãs? Não. Seria um prazer e certamente não faltaria o que contar. Poderíamos, inclusive, lembrar que José Fernando Gomes dos Reis, ou simplesmente Nando Reis, cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical brasileiro, de quem gosto muito como profissional, foi membro da banda Titãs entre 1982 e 2002. A ideia é apenas transpor, com uma pequena modificação, mas de grande significado político, quiçá, social, econômico, das relações institucionais enfim, a pergunta feita na letra da referida música na parte que questiona: você tem fome de quê?
Sem querer adentrar nos pormenores de muitas manifestações ocorridas na história do Brasil recente, e foram muitas, creio ser necessário, no entanto, (re)lembrar algumas delas como forma de contribuir para que possamos entender - sem qualquer pretensão de julgo -, o que está acontecendo nos tempos atuais em termos de manifestações populares, sobretudo as que estão ligadas às questões políticas. Vejamos.
O ano era 1984, mais especificamente entre janeiro e abril, quando grandes comícios foram realizados no país pedindo a volta das eleições diretas para presidente, inexistentes desde 1964, quando teve início o Regime Ditatorial no Brasil (período de restrição de direitos políticos, forte censura aos meios de comunicação e culturais, intensa perseguição policial aos opositores do Regime, envolvendo inúmeros casos de tortura e assassinatos entre outras mazelas). Entre estes eventos, segundo o site ttps://guiadoestudante.abril.com.br/ destacam-se um comício na praça da Sé, em São Paulo que reuniu entre 300 e 400 mil pessoas que cantavam: “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil.” No entanto, os dois maiores foram em abril: na Candelária, no Rio, oportunidade na qual cerca de 1 milhão de pessoas se reuniram no dia 10; e o comício do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, cujo número estimado de participantes chegou a 1,5 milhão, no dia 16.
Ainda em finais de 1984 e início de 1985, mesmo as manifestações populares que pediam as Diretas Já não obtendo sucesso de imediato, pois as eleições não foram diretas e sim realizadas pelo Colégio Eleitoral, ainda assim, foram plantadas as primeiras sementes cujas raízes ergueram os primeiros frutos no ano de 1990 quando foi eleito, democraticamente, o primeiro presidente do Brasil pós-Ditadura, Fernando Collor de Mello (1990-0994). Antes, porém, a história registra como, “vitória, parcial, da democracia” a eleição, em 1985, na qual Tancredo Neves foi eleito presidente do Brasil pelo Colégio Eleitoral. Com a morte de Tancredo Neves em 21 de abril de 1985, aos 75 anos, o seu sucessor, José Sarney, sic, cumpriu boa parte dos pontos da proposta apresentada na época: eleições diretas para todos os cargos, legalização dos partidos, convocação da assembleia constituinte e concretizou a transição democrática no Brasil.
No final de 1989, embalado pelas manifestações anteriores e buscando consolidar a democracia no país, brasileiros e brasileiras foram às urnas e elegeram, para presidente do Brasil, Fernando Affonso Collor de Mello (PRN), mais conhecido como Fernando Collor. Seu governo teve início em 15 de 1990 e findou em 29 de dezembro de 1992, ou seja, com apenas 2 anos e 289 dias após o início. Seu governo foi marcado pela implementação do Plano Collor e a abertura do mercado nacional às importações e pelo início de um programa nacional de desestatização. Em 89, Collor foi eleito no segundo turno com 53% dos votos válidos contra 47% do então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Denúncias de corrupção envolvendo o presidente Fernando Collor começaram a aparecer aos montes na imprensa em 1992. Com as denúncias, o povo, revoltado, realizou passeatas em vários estados para exigir o impeachment. Uma das principais foi em São Paulo, no dia 18 de setembro, reunindo cerca de 750 mil pessoas. Collor passava a imagem de político sério, avesso à corrupção e que caçaria os “marajás”, servidores que, segundo ele, recebiam “supersalários”. Resultado? Com o povo nas ruas, os chamados “Caras Pintadas”, pedindo o Impeachment de Collor o processo foi aberto e teve seu desfecho em 29 de dezembro de 1992, com a renúncia do presidente pouco antes de sua condenação pelo Senado.
Ainda sobre as grandes manifestações, segundo o site referido anteriormente, é possível citar o “Protesto contra o aumento da passagem”. Em junho de 2013, ocorreram quatro grandes protestos na cidade de São Paulo contra o aumento da passagem do transporte público. O primeiro foi no dia 6 de junho; os seguintes aconteceram nos dia 7, 11 e 13. Todos eles resultaram em confrontos com a polícia militar. A cada edição, o número de manifestantes era maior – assim como a violência usada para contê-los. O movimento reivindicava tarifa zero para o transporte coletivo. Os protestos se espalharam por dezenas de cidades do país (e de fora dele) e, em algumas delas, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, o aumento da tarifa foi revogado.
Mais recentemente, como inclusos na lista dos grandes protestos no Brasil, destacam-se os ocorridos contra o governo Dilma Rousseff (PT). Foram manifestações populares que ocorreram em diversas regiões do Brasil, no contexto da crise político-econômica iniciada em 2014, tendo como principais objetivos protestar contra o governo Dilma Rousseff e defender a Operação Lava Jato. Os maiores ocorreram em 15 de março, 12 de abril, 16 de agosto e 13 de dezembro de 2015; e depois em 13 de março de 2016 com milhares de pessoas nas ruas protestando, segundo consta, contra o Governo Dilma Rousseff e a corrupção.
Com o Impeachment (até hoje questionável, e sempre será, segundo especialistas no assunto, pelas alegações processuais) da presidenta Dilma Rousseff, em 31 de agosto de 2016, após três meses de tramitação do processo iniciado no Senado, que culminou com uma votação em plenário resultando em 61 votos a favor e 20 contra o impedimento, assumiu a presidência o seu vice, Michel Temer, que governou de 31 de agosto de 2016 a 1º de janeiro de 2019.
Logo no dia seguinte ao impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff, a população de muitas capitais e cidades brasileiras foram às ruas protestar contra o governo que, de temporário, passou a ser permanente. Em 7 de setembro daquele ano, dia da Independência do Brasil, houve manifestações em todos os 26 estados brasileiros (incluindo o Distrito Federal) em favor da queda do presidente Michel Temer.
“Fora Temer”, “Temer Golpista” “Temer machista, cadê nossas ministras?”, “Se empurrar o Temer cai”, foram, de acordo informações do site politize, alguns dos registros da população que ganhou as ruas no pós-Dilma. A queda do governo Temer e a realização de nova eleição, naquele momento, parecia ser unanimidade entre os manifestantes. Com todas as manifestações, vários pedidos de impeachment, escândalos enfim, Michel Temer, passou a faixa para o atual presidente, enfrentado, por último, a greve dos caminhoneiros no Brasil em 2018, também chamada de Crise do Diesel, que foi uma paralisação de caminhoneiros autônomos com extensão nacional iniciada no dia 21 de maio e que terminou oficialmente no dia 30 do mesmo mês, com a intervenção de forças do Exército Brasileiro e Polícia Rodoviária Federal para desbloquear as rodovias.
Os grevistas se manifestaram contra os reajustes frequentes e sem previsibilidade mínima nos preços dos combustíveis, principalmente do óleo diesel, realizados pela estatal Petrobras com frequência diária, pelo fim da cobrança de pedágio por eixo suspenso e pelo fim do PIS/Cofins sobre o diesel. Informações dão conta que a paralisação e os bloqueios de rodovias em 24 estados e no Distrito Federal causaram a indisponibilidade de alimentos e remédios ao redor do país, escassez e alta de preços da gasolina, com longas filas para abastecer. Além disso, várias aulas e provas foram suspensas, a frota de ônibus foi reduzida, e voos foram cancelados em várias cidades do país.
Conforme relatado, muitas foram as manifestações mesmo antes do início do período pós-Ditadura, com os mais variados pontos de pautas: Diretas Já! Impeachment de Collor; protesto contra aumento de passagens com tarifa zero do transporte coletivo; Impeachment de Dilma; contra a corrupção; Fora Temer, enfim muitos outros movimentos estão inseridos dentro do tempo relatado, e não fizemos menção, embora saibamos que tiveram tanta importância ou serviram de estímulo para esses maiores destacados.
Mais recentemente, diria que muito recente mesmo, pra não dizer de uma hora pra outra, o Brasil passou a assistir/ver/ouvir pessoas/políticos, diretamente ou por intermédio, ofender a outras pessoas, instituições, políticos ou quem quer que seja/o que quer que seja, a sociedade de modo geral, que pense o contrário daqueles cuja forma de fazer política baseia-se em uma das máximas do futebol, ou seja, “a melhor defesa é o ataque”.
No domingo, 1º de agosto, como exemplo, no momento em que escrevo estas linhas, deve estar acontecendo manifestações em alguns lugares do Brasil, de pessoas que dizem ser “apoiadores do governo Bolsonaro”; que saem às ruas vestidos de verde e amarelo; que dizem defender “a Pátria, o governo Bolsonaro, o voto auditável, a família, a democracia”; que são “contra” a “corrupção” e outras “otras cositas mas”. Quanto ao tema corrupção, segundo pesquisa recente do Datafolha, 70% dos entrevistados dizem acreditar que existe corrupção no governo atual; para 23% não existe, e 7% disse não saber se existe corrupção no governo Bolsonaro. Sem adentrar aos casos familiar, que estão sob investigações dos órgãos responsáveis, vide Polícia federal e outros responsáveis pelo assunto.
Quanto a outro ponto de pauta das atuais reivindicações, o voto auditável, mais uma vez iludidos/enganados pelo presidente da República, que afirmava provar em live que a urna eletrônica é fraudável, seus “(per)seguidores” viram, na última quinta-feira, 29, Jair Bolsonaro, aparecer “na telinha” para dizer que ”não tem provas” do que dizia antes sobre o equipamento. E o pior, continua, assim como seus possíveis eleitores, a atacar quem em nossa modesta opinião, não deveria ser atacado, o ministro Luiz Roberto Barroso, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Sim! Salvo Melhor Juízo, não é o ministro Barroso aquele que deve ser responsabilizado por possíveis falhas, não comprovadas, no aparelho de captação e contagem de votos (urna eletrônica), mas sim o Congresso Nacional. O ministro, como gestor da pasta TSE, responsável pelo processo eleitoral, tão somente vem defendendo um sistema aprovado pelo Congresso Nacional em outros tempos e que nos últimos 25 anos tem escolhido os governantes Brasil a fora. Inclui-se aí, os sete mandatos de deputado federal e a eleição para a presidência recente do atual presidente da República; quatro mandatos de deputado estadual pelo Rio de Janeiro do “filinho”, Flávio Bolsonaro, eleito, também, recentemente senador da República pelo mesmo sistema; um mandato de outro “filinho”, Eduardo Bolsonaro, recentemente reeleito deputado federal; e, por fim, cinco mandatos e uma reeleição do “terceiro filinho”, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, todos (re)eleitos neste sistema.
Segundo o ministro do TSE, “As urnas eletrônicas ajudaram a superar os ciclos da vida brasileira que vêm desde a República Velha, em que as fraudes se acumulavam”. O presidente do TSE encontra apoio de líderes partidários que defendem que o sistema eleitoral é confiável e que “mudar as regras do jogo, a essa altura, poderia gerar incertezas no processo”. Isso foi a conclusão a que chegaram lideres de partidos como PP, DEM, PL, Republicanos, Solidariedade, PSL, Cidadania, MDB, PSD, PSDB e Avante em encontro recente que foi realizado por videoconferência e contou com “caciques nacionais” dessas legendas.
Seja como for, considerando os últimos acontecimentos e a discussão no Congresso sobre mudanças na votação, melhor, no sistema de votação para as próximas eleições, incluindo as eleições presidenciais, não resta alternativa àquela Casa Legislativa senão APROVAR ou REPROVAR tais mudanças. Até porque, em sendo aprovadas quaisquer mudanças, constitucionalmente, cabe ao TSE, executá-las, aguardar o processo eleitoral ano que vem, coordená-lo e, ao final, declarar eleito quem assim o eleitorado brasileiro escolher em sua maioria, com o atual sistema ou qualquer outro. Inclusive reelegendo o presidente atual, se for essa a vontade da maioria.
Enfrentando problemas de queda nas pesquisas eleitorais, sobretudo com a possibilidade de enfrentar o candidato que poderia tê-lo derrotado em 2018, Luiz Inácio Lula da Silva; problemas de entrega do governo ao chamado Centrão, para ter, como disse o próprio presidente da República, a chamada “governabilidade”; problemas com a CPI Covid-19, que vão de corrupção no governo, especialmente com “aquisição” da vacina Covaxin, passando por problemas de possível enfrentamento de processo de Impeachment; investigações diversas, entre elas, se prevaricou; problemas de relações com os demais Poderes/Instituições enfim, tudo isso parece estar interferindo na construção de pautas positivas para o Brasil.
E mais, com um governo e militância que defendem pontos de pautas tão minutos em relação aos que já tivemos outrora, finalizo recorrendo à música do Titãs para deixar algumas perguntas para o presidente Jair Bolsonaro, seu governo, apoiadores ou quem mais souber/tiver interesse no assunto. Neste caso, o(s) medo(s) é(são):
- de perder as eleições, mudando ou não alguma coisa sobre as urnas?
- de perder o mandato enfrentando processo de Impeachment?
- de tão logo o presidente deixar o Planalto seguir para a prisão?
- de assistir à prisão de membros da família Bolsonaro?
- de encontrar pobres em aeroportos?
- de que o filho do porteiro do prédio de Paulo Guedes faça faculdade/universidade?
- de perder a tão “combatida mamata” que diziam existir e que se agarram?
- de [...]
Afinal, vocês têm medo de quê?
Por Carlos Alberto professor e radialista
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