Terça, 05 de Agosto de 2025
(75) 99168-0053
Artigo Pronunciamento

O pronunciamento de Marcelo Queiroga e a politização da Covid-19

Por Carlos Alberto

29/07/2021 07h04 Atualizada há 4 anos
Por: Ana Meire Fonte: Conectado News
Foto Marcos Oliveira
Foto Marcos Oliveira

Em seu primeiro pronunciamento feito em rede nacional na noite de quarta-feira, 28, desde que assumiu o Ministério da Saúde, em março de 2021, o chefe da pasta, Marcelo Queiroga, fez referência ao início da pandemia, em março de 2020; lamentou o número de mortes ocorridas no Brasil e disse ser solidário às famílias que perderam entes queridos. 

Agradeceu ao avanço da ciência e disse ter esperança, sobretudo nas vacinas. Estabeleceu relação entre a contenção da doença e a recuperação da economia ao dizer que essas duas coisas, saúde e economia, dependem do sucesso do Programa Nacional de Imunização (PNI). Enalteceu seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, ao dizer que foram promovidas estratégias diversificadas de acesso a vacinas, seja com parcerias para transferências de tecnologia e produção nacional, contratos diversos com farmacêuticas multinacionais e até inovação com a Covax Facility, o que gerou encomendas de mais de 600 milhões de doses de vacinas.

O ministro fez questão de destacar o contrato de transferência de tecnologia entre a Fiocruz e a Astrazeneca para fabricação nacional de vacinas, atribuindo esse “sucesso” ao chefe Bolsonaro, e que, com investimento federal de 3,4 bi quintuplicará a produção de vacinas e imunubiológicos. Enalteceu, também, o papel do SUS no enfretamento da pandemia e citou valores em reais que o governo federal repassou para estados e municípios (valores extras e para custear UTIs), citou o envio de testes para covid-19, medicamentos do “kit entubação” sem esquecer os ventiladores pulmonares distribuídos.

Queiroga enfatizou a quantidade de brasileiros vacinados até hoje, com primeira e segunda dose, o que coloca o Brasil, segundo o ministro, como 4º lugar no mundo em número de pessoas que tomaram a primeira dose e 5º com pessoas totalmente imunizadas e que com o avanço da vacinação em apenas 1 mês caiu 40% o número de casos e óbitos no Brasil.

Na sequência, o ministro fez referência à “parcerias” entre governo federal, estados e municípios quando, nas suas palavras, já foram entregues mais de 175 milhões de doses em todo o país. Prometeu para setembro a vacinação de toda população adulta no Brasil com a 1ª dose, e totalmente imunizada até dezembro; lembrou que o único inimigo é o vírus e conclamou a união de todos; defendeu as orientações das autoridades sanitárias e pediu que brasileiros busquem os postos de vacinação para tomar a segunda dose do imunizante; ao finalizar, pediu pra Deus que abençoe o Brasil.

A POLITIZAÇÃO

Como um dos pontos da politização da doença que se pode destacar, a partir do referido pronunciamento, é que os estudos apontam a eficácia da vacina e do aumento da vacinação como corroboradores da queda do número de casos e de mortes em todo o mundo, no Brasil não seria diferente. Isso mostra, no entanto, que se tivessem sido adquiridas vacinas em tempo pretérito, quiçá, não chegaríamos a registrar as mais de 550 mil vidas ceifadas às quais Queiroga fez referência e lamentou. 

Na sequência, destaca-se que o reconhecimento da importância e do avanço da ciência, sobretudo na rapidez para a descoberta/invenção da vacina contra a covid-19, dito pelo ministro da saúde de um governo que dispensa comentários no que diz respeito ao enfrentamento desta mesma doença, chegando a ter sua conduta investigada por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI Covid-19), Polícia Federal (PF) que atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República e autorizo do Supremo Tribunal Federal (STF), esse reconhecimento, ainda que possa ter vindo muito tarde por parte do Ministério da Saúde, ainda assim, e somente pelo ministro, deve ser considerado.

Sobre considerar, no bojo das estratégias enaltecidas pelo ministro para transferência de tecnologia, produção nacional de vacinas ou mesmo aquisição de vacinas, quando no discurso foi dada ênfase à Fundação Oswaldo Cruz, no que pese o merecimento, seria de bom grado, em nível nacional, destacar, também, que desde a quarta-feira, 7 de julho deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o início dos testes em humanos da ButanVac, ou seja, nova vacina do Instituto Butantan contra a Covid-19 que será produzida inteiramente no Brasil. Sem contar, obviamente, a importância e o papel do Butantan na produção e distribuição pelo PNI da Coronavac, outra vacina do produzida pelo Instituto em parceria com o Laboratório Chinês Sinovac. Eis, pois, mais um ponto politizado no discurso.

Sobre a promessa de que até dezembro toda a população brasileira adulta estará totalmente imunizada e que o país já encomendou mais de 600 milhões de doses, a considerar que o início da vacinação no Brasil se deu em 17 de janeiro deste ano, em São Paulo, ou seja, que depois de seis meses só foram distribuídas cerca de 175 milhões de doses do total encomendado, como acreditar que até dezembro deste ano outros 425 milhões serão distribuídos nos cinco meses restantes? Pertinente saber, ainda, se já temos todo esse número encomendado, 600 milhões, para que/quem seriam contratadas mais 400 milhões de doses da Covaxin? Ou este último número a ser adquirido tinha outros interesses que foram “melados” ao chegar à CPI?

Por fim, defender a parceria entre união, estados e municípios poderia ter sido condição sine qua non desde quando a pandemia atingiu o Brasil, não fossem as brigas políticas iniciadas em nível federal, atingindo estados e também municípios. Brigas que, diga-se de passagem, deixaram de ser somente políticas e chegaram aos tribunais, atingindo, inclusive e por último, o STF, que até hoje dispensa tempo, dinheiro e outras meios para desmentir Fake News sobre o enfrentamento da pandemia por parte do governo federal. Seja como for, mesmo que possam ser observados avanços em relação a tempos recentes, o pronunciamento do ministro da Saúde do Brasil, Marcelo Queiroga, salvo melhor juízo e sob a modesta opinião de quem vos escreve, ainda apresenta pontos de politização da Covid-19.

 

Carlos Alberto professor e radialista 

Nenhum comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.