A tradicional Copa América, o novo Coronavírus e o governo Bolsonaro

“Governo Federal anuncia sedes da Copa América: DF, GO, RJ e MT”. Essa era uma das manchetes estampadas no https://globoesporte.globo.com/ no final da tarde/início de noite desta terça-feira, 1º. 

Sem sombra de dúvidas, quando lida sem contexto, a manchete é capaz de deixar o leitor/torcedor embevecido. Sim. Isso mesmo. Segundo informações colhidas, a Copa América, oficialmente CONMEBOL Copa América, conhecida até 1975 como Campeonato Sul-Americano de Futebol, é a principal competição entre as seleções de futebol das nações da CONMEBOL, ou melhor, da Confederação Sul-Americana de Futebol. 

Realizada desde 1916, portanto uma competição secular, a Copa América, que é realizada a cada dois anos, viu sua 47ª edição, em 2020, agendada para duas sedes distintas (Argentina e Colômbia), ser adiada para 2021, e, segundo os organizadores, por conta da pandemia do novo Coronavírus. A competição, que pode vir a ser realizada, pela segunda vez consecutiva da história no Brasil, já foi vencida pela seleção canarinha nove vezes, incluindo a última edição disputada em 2019. 

É, portanto, e como dito no início, uma competição TRADICIONAL. Seria, caso houvesse participação do público, uma oportunidade daqueles que gostam do futebol (re)ver mais de perto a atuação da seleção brasileira com seus “craques” em campo além de outros tantos jogadores dos nossos vizinhos de continente e que jogam naquelas seleções. 

Cabe lembrar que por mais que o futebol seja um esporte capaz de unir o país em torno de uma seleção, doutro lado, é preciso (re)lembrar, também, que não estamos vivendo tempos normais. Já se passaram mais de 12 meses que o Brasil e o mundo vivem uma pandemia cujos resultados fatais somam três milhões, quinhentos e cinquenta e duas mil e setecentos e oitenta e oito vidas perdidas, sendo, deste total, quatrocentos e sessenta e duas mil e setecentos e noventa e uma mortes para a Covid-19 de brasileiros e brasileiras. 

Se fosse levado a cabo o respeito às vidas e as milhares de famílias que perderam e continuam perdendo seus entes queridos para a Covid-19, somente isso, smj, seria justificativa plausível para não sediar no Brasil, no apagar das luzes, uma competição transferida de 2020 para 2021 conforme justificado, e que o país sequer imaginou sediar consecutivamente. Sem contar a falta de vacinas, os constantes aumentos de casos e de vítimas fatais, entre tantos outros motivos. 

Voltando ao site do início, a matéria relata “O ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, confirmou a realização da Copa América no Brasil”. Ainda segundo o ministro “Os jogos serão realizados sem público”. O fato é que desconsiderando uma série manifestações contrárias ao Brasil sediar tal competição, neste momento, feita por parlamentares e outros políticos, especialistas da área de saúde, sociedade civil organizada etc., também na tarde desta terça-feira, 1º, o presidente da República foi taxativo e afirmou “Todos os meus ministros são favoráveis à Copa América no Brasil com os mesmos protocolos das Eliminatórias e da Libertadores. Caso encerrado”. 

Como amante do futebol, porém, como defensor da vida, deixo aqui uns dois questionamentos. 

1 – Presidente Jair Bolsonaro, segundo noticiado, entre esta segunda-feira, 31.05 e terça-feira, 1º.06, sua Excelência bateu o martelo e decidiu que algo não programado será realizado no país. Por que não agiu com esta mesma determinação quando precisou comprar vacina para evitar tantas mortes pela Covid-19?

2 – No caso do Brasil ser sede da Copa América em 2021, segundo o ministro Luiz Ramos “Venceu a coerência!” Isso significa dizer que da parte de sua Excelência, o presidente da República e do seu governo, no caso do enfrentamento à pandemia, venceu a INCOERÊNCIA?

3 – Ainda de acordo com o ministro, “O Brasil não poderia virar as costas para um campeonato tradicional como este”. De fato, concordamos e até já destacamos um pouco da história desta competição. Porém, há que se perguntar, diante da pandemia que estamos vivendo, até que ponto é importante priorizar o tradicional quando estamos perdendo para o NOVO, o novo coronavírus?

4 – Ministro Ramos, quando o sr. destaca “Os jogos serão realizados sem público”, como uma das justificativas para sediar a competição no país, pergunto: será que naqueles países o público participaria? Mesmo sem a participação do público por lá, optaram por não sediar e proteger sua gente.

4 – Em uma postagem desta terça-feira em um determinado site estava escrito, com a logo do SBT “Pode comemorar, Torcedor! SBT é a emissora oficial da Copa América 2021”. Considerando que o canal do empresário Sílvio Santos anunciou a compra dos direitos de transmissão recentemente, em meados de maio de 2021, e faz parte da nova estratégia da emissora de apostar em eventos esportivos como um de seus carros-chefes, finalizo as perguntas: Presidente, a decisão de sediar a Copa América foi tomada em dois dias mesmo ou sua Excelência, juntamente com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro do homem do “quem quer dinheiro...” esperaram até o último minuto do segundo tempo, como dizemos na gíria esportiva, para fazer tornar público tal anúncio?

Ao que parece, o novo nesse governo é o vírus; o tradicional nesse governo é o modus operandi: não fazer nada para salvar vidas. Priorizar o tradicional nesse governo é realizar a Copa América nestes tempos, ainda que o novo continue a ceifar vidas. 

VIDAS IMPORTAM! CIÊNCIAS IMPORTAM! VACINAS IMPORTAM! O SUS IMPORTA!

Por  Carlos Alberto professor e radialista