Nos últimos tempos, tem sido cada vez mais comum ouvir o desabafo de mulheres que, além de assumirem sozinhas a criação dos filhos, carregam também o peso do preconceito quando tentam recomeçar sua vida afetiva. São mães solos que sonham em encontrar alguém para dividir alegrias, companheirismo e afeto, mas se deparam com perguntas e atitudes que revelam uma mentalidade ainda presa ao passado ou ao menos a uma lógica que deveria ter ficado para trás.
Entre as principais queixas, destaca-se um comportamento que choca pela frieza: homens que, no primeiro contato, questionam quem é o “provedor” das contas da casa ou quem sustenta a família. A frustração dessas mulheres não está apenas no constrangimento imediato da pergunta, mas no que ela revela: a ideia, ainda enraizada, de que a mulher com filhos é um “fardo” financeiro, e que se relacionar com ela seria uma espécie de “ônus” ou “compromisso automático” com despesas que não lhe dizem respeito.
Essa visão distorcida escancara não apenas o machismo estrutural, mas também um pensamento capitalista que associa relações a custos e não a afetos. É diferente da mulher solteira sem filhos, que muitas vezes passa ilesa a esse tipo de julgamento. A mãe solo, por outro lado, precisa lidar com o estigma de ter filhos e, ainda assim, é criticada quando busca reconstruir a própria felicidade.
O paradoxo é evidente: a sociedade condena mães solos tanto por permanecerem sozinhas (“ninguém quer mulher com filho”) quanto por ousarem buscar um relacionamento (“olha aí, querendo que alguém banque o filho”). É uma armadilha emocional e social. E como bem lembrou Tom Jobim, é impossível ser feliz sozinho querer companhia não é sinal de fraqueza ou incapacidade, mas de humanidade.
Nesse novo tempo, em que modelos de família se ampliam para incluir uniões homoafetivas, famílias recompostas e diversas formas de amar, é urgente que os homens, e a sociedade como um todo, revisitem seus conceitos sobre relacionamentos com mães solos. Que enxerguem essas mulheres não como um “pacote problemático”, mas como mulheres inteiras, que já demonstraram força e coragem ao seguirem sozinhas e que merecem dividir não apenas as contas mas principalmente as alegrias, o cuidado e o amor.
O que se espera dos homens, hoje, não é apenas que sejam provedores, mas que sejam parceiros: dispostos a construir junto, a respeitar a história da mulher e de seus filhos, e a somar felicidade em vez de pesar com julgamentos. Só assim será possível caminhar rumo a relações mais saudáveis, empáticas e maduras onde ser mãe solo não seja mais sinônimo de solidão forçada.
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