Não vou ficar doido [...]
Bom dia, boa tarde, boa noite, Sr. Rui Costa dos Santos, ou simplesmente, Rui Costa, Excelentíssimo governador do Estado da Bahia, Brasil.
DA ESCRITA
Quem vos escreve é um piauiense, de Oeiras (primeira capital daquele Estado), professor na Terra de Todos os Santos, que sempre estudou em escola pública e, mesmo antes de concluir o curso de Licenciatura em Geografia, - na primeira universidade pública estadual da Bahia, em Feira de Santana, já havia sido aprovado em concurso público (1998), para exercer a profissão que desde muito pequeno sempre a considerou, senão a mais importante do mundo, para alguns, pelo menos foi a que escolheu por considerá-la assim. Ademais, os(as) filhos(as) deste piauiense sempre estudaram e estudam, também, em escolas/instituições públicas. Nada demais até aí. Apenas por acreditar no ensino público.
Apesar de tantas adversidades, senhor governador Rui Costa, as quais não se pode, jamais, atribuir como culpa apenas de sua Excelência e seu governo, pois muitas delas são históricas, mas, segundo o bom senso, temos que nos reportar a quem está gerindo, e, no momento, a autoridade máxima do Estado da Bahia chama-se Rui Costa, governador.
E por falar em acreditar no ensino público, deixo para uma próxima oportunidade a narrativa de minha origem, de minha Terra querida e de minha gente acolhedora e fraterna oeirense, mesmo fazendo isso com muito prazer por onde passo e com quem convivo. Porém, o motivo pelo qual escrevo não é outro senão narrar algumas vivências na educação desse Estado, sobretudo nos últimos “dois” anos, 2020-2021, especialmente em tempos de pandemia do novo Coronavírus.
DOS FATOS
Era março de 2020 e sua Excelência, governador do Estado da Bahia, considerando: - rápida propagação global e nacional do Coronavírus - Covid-19, de conhecimento público, com ampla divulgação nos meios de comunicação, fazendo aumentar consideravelmente o número de infectados e mortos em todo o mundo; - que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, entre outras ações, o isolamento social como forma de evitar a aglomeração de pessoas e a transmissão da Covid-19; - que o Ministério da Saúde do Brasil declarou emergência em saúde pública de importância nacional - ESPIN em decorrência da infecção humana pelo Coronavírus, por meio da Portaria nº 188/GM/MS, de 03 de
fevereiro de 2020; diante de tudo isso, o governador deste Estado, através dos decretos 19.529, de 16 de março de 2020, alterado pelos Decretos nos 19.532, de 17 de março de 2020, 19.549, 18 de março de 2020 e 19.550, de 19 de março de 2020, e outros e outros desde então, estabeleceu medidas “temporárias” para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do Coronavírus. Desde então até os dias atuais o Estado vem seguindo recomendações da OMS, do Ministério da Saúde do Brasil e da Secretaria de Estado da Saúde da Bahia - Sesab.
Na Bahia, uma das primeiras atividades impactadas por tais decisões e que visou evitar aglomerações e promover o isolamento social, segundo as recomendações citadas, foi a educação. As atividades escolares públicas ou privadas em todos os níveis no Estado da Bahia foram suspensas, inicialmente, por um tempo em que, tanto o Estado quanto todos nós, professores, alunos, pais, direções de escolas enfim, acreditávamos que seria de, no máximo, quinze dias. Ledo engano. O tempo passou e em 18 de março último completaríamos exatamente 365 dias, ou seja, 01 ano sem que as aulas no setor público estadual fossem retomadas.
Falando em retomada presencial, há quem defenda que não deveria, em momento algum, durante o tempo citado, ter ocorrido. E o motivo é conhecido de todos(as): os números de casos de infectados e de mortos pela Covid-19, que outrora foram amenizados, atualmente não se pode dizer o mesmo. Somente nas últimas 24 horas, a Bahia registrou 4.244 novos casos de infecções e mais 91 óbitos. Com isso, o Estado alcançou 936.275 pessoas infectadas, com 901.434 recuperados, ou seja, pouco mais e 96% de recuperação, e 19.423 óbitos. Portanto, no que diz respeito à retomada das aulas, no setor público, de maneira remota, há quem defenda que o Estado já deveria ter feito o mesmo que o setor privado fez: pôs em prática o ensino remoto emergencial, concluindo o ano letivo 2020 e iniciou 2021.
Pois bem! Desde a suspensão das atividades em 2020 até a retomada em 2021, tanto o governador da Bahia, Rui Costa, quanto o secretário de Estado da Educação, Jerônimo Rodrigues, em inúmeras entrevistas, lives ou coisa que o valha, sempre defenderam que as aulas estavam próximas de serem retomadas, apensa não havia data determinada ainda. E mais, que o ano 2020 não seria considerado “perdido” para o alunado.
O tempo passou, veio 2021, e em 23 de fevereiro, governador e secretário de Educação anunciaram para 15 de março pp. o início do ano letivo 2020/2021 na rede estadual de ensino, de maneira 100% remota, inicialmente; as próximas fases, segundo anunciado, dependendo do
controle da pandemia serão híbrida e depois, presencial. É possível inferir que para a comunidade escolar (gestão, professores, coordenadores pedagógicos, estudantes, pais enfim) essa sempre foi uma decisão muito esperada. Não a maneira inicial, claro, mas a retomada. Afinal quase 12 meses se passaram desde a suspensão dessas atividades em 2020.
AS FALHAS DO Sr. GOVERNADOR
Como dito, a data em que se daria a retomada das atividades, de maneira remota ou presencial, era uma expectativa da comunidade escolar e da sociedade de modo geral, eu diria. E qual é o problema? Poderiam questionar alguns. O problema, ou melhor, o que considero FALHA(S) é o que passo a relatar a seguir, inclusive, em forma de questionamentos.
1 – “Ensinar” remotamente, antes de tudo, smj, pressupõe saber como fazer isso. Em outras palavras, se o professorado não foi preparado para esse tipo de intervenção pedagógica nas universidades/faculdades que estudou/estuda, não caberia ao Estado ter aproveitado parte do tempo decorrido desde a paralisação das atividades em 2020 e oportunizado essa preparação/capacitação? Não o fez. Deixou como costumamos dizer no popular: “que cada um se vire”.
2 – “Ensinar” remotamente requer (infra)estrutura mínima: computador com webcan/notebook, internet, smartphone, impressora, papel, tonner, mesa e cadeira, para não citar outros equipamentos. Ou não? Nada disso o Estado fez ou ainda fará, segundo se sabe. Nem mesmo a “simples” internet, senhor governador, o Estado providenciou. E aqui faço referência a quaisquer das categorias: docente e discente. Mais uma vez: “que cada um se vire”.
3 – Para os alunos que têm acesso à internet/meios digitais (não são tantos assim, segundo dados da própria secretaria, (e sem que essa tenha providenciado quaisquer ajuda), foi sentenciado pelo Estado: esses receberão as atividades de maneira virtual e as devolverão segundo combinado com o professor; para os que não têm essa mesma “sorte”, ou seja, acesso a internet/equipamentos que lhes permitam “desfrutar” da modernidade tecnológica, o professorado encaminhará as atividades para a escola que providenciará impressão e, a partir de agendamento, entregará ao aluno/responsável na escola. Ainda é cedo para avaliar a participação daqueles que não estão conectados.
4 - Quando o ensino ocorre de maneira presencial, a programação, via de regra, começa em fevereiro/março e segue até dezembro do mesmo ano, com intervalo no meio do ano. Durante esse período o professor trabalha com o aluno de 1º, de 2º e de 3º ano, separados por turmas, para quem
trabalha com o ensino médio, por exemplo. Nessa retomada, como haviam prometido suas Excelências o governador e o secretário de Educação, o alunado fará “dois anos em um”. Ou seja, quem estava matriculado no 1º ano do ensino médio em 2020, cursará 1º e 2º em 2021. Assim, eles, dirigentes máximos, devem estar acreditando ser possível “recuperar” o ano anterior. Será?
5 – Com a retomada do ensino de maneira remota em 15 de março último, vale dizer que a vida profissional do professorado, senhor governador, Rui Costa, sic, tem sido uma correria - creio eu que maior, em muito, do que o senhor sempre se considerou: “Rui correria” (aspas nosso) -. E sabe por quê? Neste caso especificamente, o senhor tem muitos assessores, o professorado não tem nenhum; o senhor determina/manda, o professorado cumpre ordens; o senhor manda que planejem e executem, o professorado planeja e, às vezes, por problemas alheios à sua vontade (ordens ‘superiores’), não executa, e replaneja; o senhor manda pagar, o professorado torce para receber, pelo menos com os descontos habituais, sem novos descontos. Para não citar muitos outros exemplos da correria que se tornou a vida desse profissional ultimamente.
São tantas coisas para relatar, governador Rui Costa, secretário de Educação Jerônimo Rodrigues, que poderia essa carta ficar muito extensa e cansar os senhores e/ou seus assessores ou quem a ela tiver acesso. Por isso, creio ser melhor me aproximar do final. Antes, porém, gostaria de lhe dizer que se a ideia é “que cada um se vire”, adianto, que NÃO VOU FICAR DOIDO por causa de SAGA; Google Meet; Google Classroom; Google Formulários; Google Docs; Google Agenda; Google Planilhas; Google Apresentação; Google Drive; Google Jamboard; Google... Google... Google... Google... Powtoon; assistir live de como usar isso, usar aquilo e aquilo outro... Não, não vou. Farei o possível e de acordo com as condições (infra)estruturais, psicológicas, humana... capazes. E farei em respeito à profissão e ao alunado.
Para não finalizar, e antes que digam que só falei de coisas ruins, acrescento algo mais “animador”. Afinal, além da pandemia já referida, existem algumas “coisas boas” a serem tratadas: a) - faz mais de cinco anos que o Estado não repõe a inflação do ano anterior ao salário do professorado, estou falando de reposição e não de reajuste salarial; b) - faz um bom tempo que o Estado reajustou a contribuição previdenciária, ou seja, descontava 12% e passou a descontar 14% do salário de professorado; c) - de igual modo, faz um bom tempo que o Estado piorou, em muito, o atendimento do Plano de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos Estaduais (Planserv) aos associados e seus dependentes, e ainda implantou a coparticipação; d) – também como
notícia “boa”, cabe destacar que o Estado, com a retomada do ensino de maneira remota, contribui para aumentar ainda mais os gastos do professorado, pois a classe teve que aumentar a “potência”, melhor, a quantidade de gigas da internet particular, sob pena de não ter acesso a algumas plataformas/vídeos/sites/TVs etc., e com isso aumentou o valor cobrado por esse serviço; sim, tudo isso acrescido do aumento da conta de energia entre outras despesas.
Até mais!
Por Carlos Alberto Professor/Radialista
Mín. 17° Máx. 29°
Mín. 18° Máx. 27°
Chuvas esparsasMín. 16° Máx. 27°
Tempo nublado