Na Grande São Paulo, um cartaz em uma manifestação escancarava a verdade: “A maior epidemia no Brasil é a de feminicídio. O país registra 10 mulheres assassinadas por dia.” O Atlas da Violência 2025 revela um dado alarmante: entre 2022 e 2023, os homicídios femininos cresceram 2,5%, na contramão da queda dos homicídios em geral. A violência letal atinge com mais força as mulheres negras, que representam 68,2% das vítimas.
Essa epidemia me remete à época em que estagiei na Vara do Júri, em Feira de Santana. Vi de tudo: panela de pressão atirada na cabeça, queimaduras de cigarro, e até uma mulher que, para defender a irmã violentada, ateou fogo no cunhado agressor enquanto ele dormia. Vi de tudo, menos amor. Lembro das mulheres que, mesmo espancadas, ainda precisavam justificar por que não saíam de casa.
Será que o agressor é sempre apenas um “coitadinho”? Será que sua violência é apenas reflexo de uma infância traumática? A psicologia mostra que, embora traumas existam, eles não justificam perpetuar a violência. Como disse Paulo Freire: “Quando a educação não transforma, o sonho do oprimido é ser o opressor. ” Essa frase ecoa na cultura do feminicídio: muitos que testemunham a violência acabam por repeti-la.
Enquanto isso, milhares de mulheres seguem em silêncio, aprisionadas pela dependência financeira, pela pressão social ou pela falsa esperança de que “ele vai mudar”. Mas será que quem ama, cuida mesmo? A cada dia, 10 mulheres são assassinadas no Brasil. Dez histórias interrompidas. Dez lares despedaçados. E muitas vezes, filhos e filhas que crescem carregando o trauma da violência familiar.
Não podemos aceitar que isso seja apenas mais um número nas estatísticas. Falar sobre feminicídio é urgente. É preciso transformar indignação em política pública, em redes de apoio, em educação emocional nas escolas, em proteção eficaz — mas também em tratamento psicológico para os agressores. Porque combater o feminicídio não é apenas proteger as vítimas, mas também quebrar o ciclo da violência em sua origem.
É preciso que a sociedade inteira se mova: não só mulheres nas ruas, mas homens em reflexão, famílias em diálogo, governos em ação. Que nossa dor se transforme em resistência. E que a esperança também não seja enterrada com mais uma mulher vítima.
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