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O Fim do “Para Sempre”: a nova era dos relacionamentos líquidos

Por Emanueli Pilger, Mestra em Comunicação pela UFRB

27/05/2025 08h38 Atualizada há 2 dias
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Foto Freepik
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Em 2023, o Brasil bateu recorde de divórcios: foram 440.212 registros oficiais de separação, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — um aumento de quase 5% em relação ao ano anterior. Enquanto isso, os casamentos recuaram 3%. Aparentemente, o “sim” anda cada vez mais difícil, e o “quero minha vida de volta” virou tendência geral.

Dizem que o amor está em crise — mas talvez o problema seja outro: a expectativa de que ele dure mais do que um pacote de dados de celular. Como diria o sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos tempos de relações líquidas: frágeis, flexíveis e facilmente substituíveis. O amor virou quase um serviço de TV por assinatura — com cancelamento num clique.

Casar ainda vale a pena?

Casar continua sendo um evento. Tem aliança, drone, convite digital, hashtag e até consórcio para a decoração. Mas, depois do “aceito”, vem o financiamento da geladeira, a disputa pelo controle remoto, a DR sobre se arroz com uva-passa é tradição ou provocação, e a toalha molhada na cama (eu odeio, risos).

E pensar que nem sempre foi assim. Eu me lembro bem: na infância e adolescência, casar em maio era lei. A moça começava a namorar com a anuência da família (o rapaz pedia autorização para isso). Tinha despedida de solteira com karaokê e fitas coloridas, vestido alugado, igreja lotada e bolo de vários andares que só era cortado no dia seguinte — talvez para manter o mistério ou garantir que ele sobrevivesse à ressaca coletiva (risos). O casamento era um acontecimento no bairro, uma expectativa.

Mas aí vem o dado interessante: quase metade dos casais que se divorciaram em 2023 estavam casados há menos de 10 anos, segundo o IBGE. Ou seja: não deu nem tempo de pagar o sofá da sala e a cama box. O divórcio já foi visto como fracasso. Hoje, flerta com o empoderamento. Tem dancinha no Reels, advogado influenciador e playlist “só os fortes amam e desapegam”. Tem até empresa que organiza “festinha de novo solteiro” e terapia pós-trauma da separação.

Enquanto os casais héteros pisam no freio do carro financiado em 48 vezes, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo aumentaram 1,6% no mesmo ano. Foram mais de 11 mil registros, ainda segundo o IBGE. Talvez, depois de tanta luta para conquistar o direito de casar, essas pessoas estejam dispostas a apostar — mesmo sabendo que o amor também pode escorrer pelo ralo do cotidiano. Mas há ali algo diferente: uma reinvenção das formas de se relacionar. Menos padrão, mais acordo.

Separar é o novo casar?

Bauman já havia previsto esse cenário em seu livro Amor Líquido: vínculos frágeis num mundo ansioso, onde a liberdade é confundida com a incapacidade de permanecer. Talvez o “felizes para sempre” esteja, sim, em crise. Mas o “felizes enquanto der” está indo muito bem, obrigada.

Aliás, esses dias conheci um casal 50+. Estavam radiantes, vivendo um namoro maduro e cheio de delicadezas. A mulher me contou, com um sorriso quase adolescente, que o “namorildo” — como ela o chama — pediu autorização às duas filhas dela antes de firmar o relacionamento. Sim, você leu certo: pediu permissão às filhas. Enquanto isso, os jovens de hoje chamam para “tomar um sorvete” (que às vezes nem tem sorvete), e ainda querem dividir a conta do picolé. Vai entender o amor moderno.

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