Em tempos de festejos juninos, mais precisamente no São João, costumo vir com a família para o povoado de São Nicolau, zona rural da cidade de Santa Bárbara na Bahia. Por aqui moram meus sogros - Antônio Santana Lima, conhecido como "mulher feia" (cujo apelido não trataremos agora), e dona Leonor Santana Lima - além de outros tantos familiares da minha esposa, amigos enfim.
Para chegar em São Nicolau, seja pelas cidades de Santa Bárbara, Tanquinho, Candeal ou mesmo vindo de Serrinha, é necessário "enfrentar" trechos de 'estradas de chão' como costuma-se dizer por aqui, ora em trechos maiores ora menores. De outras vezes, já escrevemos falando sobre a chegada em São Nicolau vindo por Santa Bárbara, com estradas em melhores condições do que se encontram agora.
Em algum momento, salvo melhor juízo, parabenizamos as autoridades constituidas e gestores do povoado pela revitalização das estradas. No entanto, nestes dias chuvosos, de muita lama e buracos nas estradas, a ideia é tão somente tentar estabelecer relação tempo chuvoso, homem do campo e a celebração do São João.
Enquanto, para alguns, as chuvas de junho castigam as estradas vicinais do interior, dificultando o transporte e o acesso cidade-campo, o homem da roça encontra motivos para sorrir. É tempo de São João - e, para quem vive da terra, a água que vem do céu é bênção, ainda que possa trazer consigo desafios.
Nas últimas semanas, diversas regiões rurais vêm enfrentando dificuldades com estradas esburacadas, alagamentos e, em alguns casos, vias completamente intransitáveis. Os reparos, segundo informações colhidas, estão temporariamente suspensos devido as condições do solo encharcado e à previsão de continuidade das chuvas. Com esse tempo não é possível realizar qualquer intervenção para melhoria das estradas, pois seria desperdiço de tempo e dinheiro público, trabalho em vão, resta esperar o "tempo melhorar".
Mesmo diante do isolamento temporário, há um sentimento que resiste: a alegria do povo destas 'bandas'. Afinal, para aqueles e aquelas que vivem na roça, a chuva é o sinal de fartura que se espera a cada ano. “A gente reclama da estrada, sim, mas agradece a Deus pela chuva. E bonito ver o milho crescendo e o feijão vingando, é uma bênção”, disse "mulher feia" com o sorriso esbanjado no rosto.
De fato, o clima junino só reforça essa sensação de esperança. Com o solo molhado e o verde brotando por todos os lados, a tradição nordestina se mantém viva. Nos quintais das casas 'simples' e de povo hospitaleiro, sob o fogo do fogão a lenha ou do fogão a gás a canjica ferve, o milho assa, e o forró embala os corações.
“São João é tempo de festa, mesmo na dificuldade. A gente dança dentro de casa, faz reza, canta com os vizinhos. A chuva pode atrapalhar a estrada, mas nunca o nosso jeito de celebrar”, afirma Antônio Marcos, conhecido como "Cabecinha", comerciante da comunidade.
Enquanto os reparos nas estradas aguardam o fim do período chuvoso, a vida no campo segue com seu ritmo antigo – entre a labuta, a fé e a tradição. O barro, os buracis e a lama nos caminhos contrastam com o brilho nos olhos de quem vê a roça florescer. Porque no sertão, quando chove, é mesmo assim: ainda que com alguns percalços, é tempo de festa.
Que venham as chuvas!
As estradas que esperem!
O homem do campo está alegre!
Viva São João!
São Nicolau/Santa Bárbara - Bahia, 21/06/2025. Início do Inverno no Hemisfério Sul.
Por Carlos Alberto, Professor, radialista e mestre de cerimônias
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