Por Onildo Rodrigues e Hely Beltrão
O músico Tonho Matéria se apresentou no sábado (3), terceiro dia de Micareta, puxando o bloco afro Odungê. Tonho, que participa da festa pela terceira vez, comentou em entrevista ao Conectado News, sobre a importância de projetos sociais para a formação do cidadão e sua relação com a Micareta de Feira.
"Fico muito feliz em mais uma vez ser convidado, é a terceira vez que venho nessa parceria com o Odungê, projeto voltado ao cultural e social, gosto muito de lidar com essa questão de cuidar das pessoas, essa parceria com o governo do Estado da Bahia, com a Prefeitura de Feira de Santana, de estar aqui mais uma vez fazendo a alegria dos foliões. Tem uma música na capoeira que diz o seguinte: “chuva ou faça sol, pode cair um toró, mas a minha capoeira eu vou jogar”, ou seja, faça chuva ou faça sol, pode cair um toró, eu vou cantar”.
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"Estamos com agenda lotada, esperando Micareta de Feira de Santana",diz cantor Tonho Matéria
O importante é usar a capoeira como ferramenta de transformação social e cidadã
Mais sobre o projeto Odungê
"É um projeto que Lurdes Santana organizou que é o Odungê e a Mangangá é um dos parceiros desse projeto. A Mangangá tem um projeto social muito grande, presente em seis países, no Brasil, estamos em alguns estados, alunos que hoje desmembram esse projeto em vários lugares, é uma associação que nasce não só com o intuito da prática da capoeira, mas o impulso de formação social e cidadã, pegar os jovens e transformá-los em gestores, advogados, engenheiros, temos quase todas as formações, são 37 jovens dentro da universidade, penso que isso é muito importante para transformar cada vez mais a nossa sociedade, para nós é muito importante trazer esse embasamento para Feira de Santana dentro de uma festa que pensa na alegria, no ritmo dos sons, mas ao mesmo tempo apresentar a sociedade que o Carnaval também pode ser um processo social, dialogar com a comunidade e fazer essa gestão multiplicar para todos os artistas, chegar, fazer show, mas também visitar uma creche, uma escola, uma pessoa que precisa de um apoio, penso que isso é muito importante".
Relação com a Micareta de Feira
"Feira é uma cidade muito especial para mim, primeiro, por ser a terra do meu pai, segundo, por estar aqui como cidadão feirense, tenho esse prêmio, que trago com muito orgulho, terceiro, por ser, depois de Salvador, a primeira cidade que manifestou uma forma de lidar com aquilo que chamamos Carnaval, que já traz o nome de Micareta, fazendo com que muitas cidades no Nordeste brasileiro também fizesse esse papel, de levar alegria, entretenimento e a cultura através do movimento da música, Feira de Santana é uma cidade que tem muitos capoeiristas amigos meus, a cidade do samba, da fervura, desse play do Recôncavo, acredito que isso faz com que me sinta muito a vontade de estar nesse lugar porque sei o motivo de estar aqui e sei do meu papel enquanto interventor dentro dessa cultura musical".
40 anos de Axé
"Fiz uma busca de alguns vídeos meus, tenho muitas coisas aqui em Feira de Santana desde do Feira Tênis Clube, o Cajueiro, nas ruas, tenho muito material, meu filho guarda tudo, fui vendo aquelas coisas que eu cantava sempre aqui no município, para aproveitar esse momento dos 40 anos da Axé Music, trarei um repertório de quase 100 músicas, não sei se vai dar tempo cantar todas, será um repertório muito recheado, os ensaios bem elaborados para fazermos uma entrega muito legal e recordar, sei que nesse processo dos 40 anos, muita gente curtiu o Carnaval antes do Axé, dos movimentos dos blocos afro, IlÊ Aiyê, Olodum, movimento da chegada da introdução do Frevo, que foi introduzido no Carnaval de Salvador pelo Sr. Osmar pai era pernambucano, por isso, faz essa intervenção, ou seja, tudo isso aconteceu, de Moraes Moreira em cima do trio, começou a cantar os afoxés, a levar os ritmos, Bantos e Jechás para dentro daquele lugar, e que quando vem o movimento Axé Music através de Luiz Caldas, isso reverbera mais e o bloco afro dá a notoriedade de uma consciência mais coletiva, histórica, geográfica e eu trago tudo isso na minha música".
Homenagens a músicos feirenses que já partiram
"Percebo no Brasil, que fazemos muita homenagem depois que as pessoas morrem, e esquecem muito dessa questão mais próxima, tem uma coisa que me incomoda, precisamos o tempo inteiro fazer com que a roda gire. Vi isso agora, Bel Marques, passando aqui, teve o comentário de uma menina que disse assim: “Bel ainda canta essas mesmas músicas que eu ouvia”. Daí eu disse: “se o artista não contar sua história, como é que vai ser?” É preciso contar sua história, vou contar a história de quem? Isso me preocupa porque fica parecendo que é aquele estacionou e não estivesse mais produzido, ao contrário, viaja o mundo todo, estamos sempre em comunicação, estamos organizado, nos dia 17 a 19 de maio, em Cabo Verde, um festival, fui um dos convidados, estão em trâmite ainda, organizando, mas acredito que possa acontecer, se eu não tivesse colocando em prática a minha carreira e se não tivesse internet, as pessoas não saberiam que você existe, penso que são muito importantes as homenagens, mas valorização também desse produto enquanto vida tem, por aquilo que já produziu, deu como entrega, farei 44 anos de carreira, será que vou produzir? Será que tem de pensar ainda como vai me contratar ou porque? De repente, tenho um problema de saúde e começam a dizer: “Ah Tonho é uma pessoa boa”, não é isso. Por isso, temos que cuidar, muitas vezes a doença vem para o corpo dos artistas porque ele realmente é abandonado, precisamos dar essa continuidade de valorização a todos os artistas, Carlos Pitta foi um artista fantástico, em meu primeiro disco tem uma música dele, que fez questão de compor uma canção chamada “Paraíso do Ébano” para eu cantar, era um amigo que nos encontrávamos e sempre dialogavamos muito sobre música, e por incrível que pareça, ano passado encontrei o Carlos Pitta, almoçamos juntos, discutimos muitas coisas importantíssimas, mas, infelizmente, o irmão partiu de uma forma muito rápida. Um outro amigo que partiu, Jorge de Angélica".
Questão racial - passado e presente
"Hoje não tem mais jeito, as redes sociais estão aí, a não ser que proíbam, criem uma ferramenta que censure tudo que falamos, mas entendo que as ruas nos dão mais oportunidades de dialogar, quando comecei na música, vivíamos o processo de proibição, de ter abuse as músicas sendo tocadas da forma como o poeta escrevia, se fazia uma música e o sistema dizia que não, a música era escrita e gravada, havia um registro e também naquele momento uma forma de dialogar nas comunidades, ou seja, se o sistema proíbe de um lado, vamos nas comunidades e começamos a fazer isso, o Olodum e o Araketu fizeram muito, as passeatas nas comunidades, antes de chegar na mídia, primeiro foi para dentro da comunidade, de lá para dentro dos ônibus, onde as pessoas faziam um samba. As músicas eram cantadas boca a boca, as rádios não veiculavam isso, pois não tinham interesse, lembro que a primeira rádio que começou a tocar o bloco afro, a elite baiana ligava para a rádio Itapuã e dizia assim: “vocês agora estão querendo levar a senzala para dentro da rádio?” E não adiantou, quem modificou o Brasil? Foi a música que veio da senzala, seja em qualquer lugar, que hoje chamamos de favela".
Como todos sabem, Tonho Matéria é um músico bastante experiente e com muita história para contar. Quer saber mais? Assista a entrevista completa abaixo.
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