Por Luiz Santos e Hely Beltrão
Aconteceu na noite da terça (5), no Centro de Cultura e Arte Amélio Amorim, o primeiro Afro Conecta, com o tema: Diálogo Cultural. O evento foi organizado pelos programas Sociedade e Você, Amigos do Evangelho e Levante a Voz, todos da Rádio Sociedade News FM 102.1.
O destaque do evento ficou por conta da intelectual diferentona, a Dra. Bárbara Karine, autora do livro "Como ser um educador antirracista" que se destaca no cenário nacional pela luta contra o racismo. Aos ouvintes do Levante a Voz e leitores do Conectado News, a escritora ressaltou a importância do evento e pediu rigor nas punições para os casos recentes de racismo.
"O Afro Conecta é um evento fundamental para o nosso estado, mas sobretudo para Feira de Santana, que é um território de luta, com muitos quilombos, com uma comunidade negra muito significativa e que ainda hoje sofre com os reflexos de uma sociedade estruturalmente racista e que subalterniza pessoas negras nos espaços de poder, mercado de trabalho, na dimensão educacional, o Afro Conecta vem de fato como uma estratégia de denúncia, organização comunitária e de emancipação coletiva da comunidade negra de Feira de Santana e do Estado da Bahia".
No entendimento da escritora, o tema redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", é uma conquista.
"Quando vi o tema, penso que é fruto de uma luta histórica, uma luta secular dos movimentos sociais negros organizados, em um exame que é nacional, ter uma temática que aborda a herança da comunidade africana, pensar em herança e África é algo que soa distoante, a pessoa geralmente acham que herança vem de pessoas com poder aquisitivo alto e não associam isso à África, que tem muito a nos oferecer em termos de riquezas, seja subjetivas, objetivas, a África é o berço da humanidade, os primeiros reinos e impérios, a ciência, filosofia, a matemática, medicina, a escrita surge no continente africano e isso precisa chegar nos espaços escolares, por isso, nada melhor do que o Enem para despertar essa necessidade das escolas de cumprirem as leis 10.639/13 a 11.645/08, que ainda hoje, após mais de 10 anos segue sendo neligenciada".
Sobre um caso recente de racismo em uma escola na Bahia, onde uma professora premiou alunos com uma banana, Carine disse esperar que haja rigor na punição.
"Espero do Estado da Bahia rigor nas punições, pois é um crimes de racismo, que deve ser punido com o devido rigor, pensando aí no crime que a professora cometeu, mas, para além disso, o Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) precisa vistoriar, acompanhar, a implementação da lei 10.639 e 11.645 nas escolas básicas do nosso Estado, porque é uma questão de obrigatoriedade legal, não é facultativo, acredito que o Estado precisa punir tanto os educadores que perpetuam o racismo na sala de aula, como também fiscalizar a implementação das leis nas escolas, fora isso é papel do estado formar educadores para a diversidade e relações etnico-raciais e oferecer suporte material, como literatura, suporte estrutural, possibilitar que as feiras literárias aconteçam nos espaços escolares, o fomento à leitura, o acesso a cultura africana de diversos modos, através de festivais, o Estado precisa investir, incentivar que essa cultura seja disseminada nos espaços escolares".
Sobre o caso da médica otorrinolaringologista Lorena Pinheiro Figueiredo, que foi aprovada no concurso da UFBA (Universidade Federal da Bahia) através da lei de cotas e não assumiu e um caso relativo ao TCM (Tribunal de Contas dos Municípios), Carine afirmou que tais situações ocorrem por conta do racismo estrutural.
"Vivemos em um país estruturalmente racista, onde o racismo nos atravessa nesse lugar de gerar hierarquias sociais a partir do marcador da racialidade, existem espaços de pessoas brancas e espaços de pessoas negras na sociedade. Na medicina, ou auditor fiscal por exemplo, não é um espaço pensado historicamente para pessoas negras, apesar de termos todo o mérito intelectual para ocuparmos esses espaços, tudo isso é fruto do racismo, que protege e viabiliza as fraudes da branquitude. Quem está na magistratura, no Judiciário, que determina quem entra ou não nesses concursos? Os brancos que se protegem. Dentro da lógica desse sistema, entender o porquê de uma professora, doutora, médica negra, ter o seu acesso à universidade por meio do concurso inviabilizado, que só conseguiu isso depois de muito denunciar, os movimentos sociais organizarem e apoiarem, depois de muita visibilidade, é que se conseguiu reverter, então há sim, uma questão do pacto narcísico da branquitude por trás desses dois casos, de um lado, impedindo um corpo negro para de acessar o espaço de poder, e do outro, permitindo que uma pessoa branca se passe por uma negra para ter acesso a um direito que não é dela, portanto, ela quer um privilégio custando o direito de outra pessoa.
Assista na íntegra a entrevista da Dra. Bárbara Carine.
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