Aponto alguns erros que contribuíram para a derrota de ACM Neto na corrida ao posto de governador da Bahia.
O menino pardo: se auto declarar como pardo foi um erro que pesou nos destinos de Neto, pois, levando em consideração que ele é branco, rico e de família tradicional no poder, ficou evidenciado que houve um forjamento de um lugar de origem e de fala que não condiz com a realidade. Houve uma afro conveniência diante de uma questão tão séria e cara para muita gente excluída e que sofre diariamente com o racismo estrutural no Brasil. Essa ação lhe custou caro e virou memes e piada nacional.
A escolha entre os seus: o segundo erro foi o desastroso processo de composição da chapa majoritária. Primeiro, assimilando João Leão como candidato ao senado visando aproveitar-se do oportunismo do PP que, com base em uma falsa expectativa de poder, mudou de lado. Segundo, a escolha do vice, pois ACM Neto flertou e deu corda a vários medalhões da política, a exemplo de Marcelo Nilo (Republicanos) e José Ronaldo (UB), utilizou do suor e da sola de sapato destes e no final acabou escolhendo uma pessoa de sua geração e próxima da família. Ana Coelho, mulher, branca, rica, de família tradicional no poder e dona de rede de TV, características idênticas às do próprio ACM Neto, como se diz, ficou tudo em casa. Só que para a campanha essa escolha causou desmobilização de lideranças que se sentiram traídas, em especial, José Ronaldo, que abandonou a campanha.
O salto alto: Com base na maioria das pesquisas, ACM gozava de ampla vantagem na corrida ao Palácio de Ondina e isso o instigou a circular pela Bahia como se sua eleição fosse certa, principalmente quando recebeu o apoio do PP e o PT lançou um desconhecido, Jerônimo Rodrigues, na disputa eleitoral ao Governo. Essa posição de já ganhou se repercutiu em posturas arrogantes de Neto com seus aliados, a exemplo da escolha da vice na chapa, na sua ausência na maioria dos debates realizados no primeiro turno e também na forma agressiva e vazia com que buscou desqualificar seu principal oponente, espalhando inverdades sobre a gestão de Jerônimo na pasta da educação.
Além dos erros de Neto, é importante destacar também o caráter na nacionalizado da eleição estadual e nesse ponto a força de Lula foi fundamental. A alta aprovação do governo Rui Costa com 48% de ótimo e bom, segundo o Data Folha, o carisma, a inteligência e a forte capacidade de trabalho de Jerônimo que cortou rapidamente a Bahia de ponta a ponta conquistando corações e mentes.
Esses três elementos combinados com os erros crassos apontados aqui tiveram papel decisivo na derrota de ACM Neto. Moral da história, nunca busque se apropriar de lugar de origem e fala que não são seus, nunca puxe o tapete de seus principais aliados para escolher entre os seus, nunca sente na cadeira antes de contar o último voto, nunca subestime seus adversários, principal se ele for do interior, indígena, professor e se chamar Jerônimo.
Por Antônio Lobo - Professor Associado da UFBA, Departamento de Geografia/IGEO
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