De quem foi o projeto desta cidade?
Eu pergunto, e sei que vocês sabem que essa não é uma pergunta qualquer. O projeto, sabe?
De quem foi a ideia de fundar nesta região, neste local uma cidade com esse nome, Feira de Santana?
O que foi necessário para colocar esse projeto em prática? Enxadas, pás, facões, madeira, pregos e argamassa? Só isso? Apenas essas ferramentas? Acho que não, essa terra não tava atoa, existiam famílias aqui, povos morando, os Paiaiás. Eles mesmos, aqueles que já moram aqui desde antes da invasão portuguesa começar. Será que houve conflito, será que houve guerra? Aquele povo Paiaiá sumiu assim, deu as terras de graça e foram embora sem deixar vestígios além do nome Paiaiá?
Você não acha estranho eles terem sumido assim? Como se antes dos fundadores da cidade chegarem não houvesse nada além de mato, só mato. Antigamente era tudo mato, ai chegou João Peixoto Viegas e sozinho com a mão fundou a cidade? Não, foi o Casal Ana Brandão e Domingos Barbosa que fizeram, eles vieram e construíram o Casarão dos Olhos d’água e a capela. É isso?
Não né?! Gente. Claro que não!
Quem fez foi o povo preto, que tinha sido escravizado. Mas além disso, tinham os Paiaiás, os caras moravam por aqui, e era muita gente tipo, mais que 100, bem mais, tipo 1000, mais ainda, muita gente mesmo. O número exato eu não sei, mas sei que era muita, e que esse povo não iria embora assim de Feira e deixar tudo ai pra os brancos de mão beijada, já disse: Teve Guerra.
Uma guerra injusta, uma invasão, mataram meio mundo, uma chacina, eles sempre fazem chacina, mataram geral, e estupraram as meninas, é a regras deles de guerra, tem até documento do governo estimulando o “casamento” entre homens brancos e mulheres indígenas aqui na região. Agora tu imagina a menina Paiaiá olhando para o português e dizendo, eu acho tu mais bonito que aquele indígena gatinho ali da minha tribo, eu acho difícil, viu?! Principalmente porque os portugueses estavam matando o povo delas.
Eles mataram, e deram fim nos ossos, vocês sabe onde tem algum cemitério indígena por aqui?
Eu não sei.
Mas como esse povo deu fim em tantos cadáveres? Alô povo de arqueologia, tem algum sítio arqueológico por aqui cheio de traços das comunidades indígenas pré coloniais, vocês tem que sair cavucando as terras por aí, as pessoas deixam vestígios.
Nossa cidade é de maioria negra, somos uma cidade em que a maioria das pessoas tem a pele escura, mas nem todos somos exatamente afros. A gente vê, muitos de nós são de pele escura mas parecem indígenas… já acompanhou meu raciocínio, você ai, pessoa que me lê, pode ser uma pessoa que descende dos Paiaiás, que infelizmente, depois da guerra, teve sua origem apagada. Isso é consequência do genocídio, faz parte da “nossa” herança colonial.
Daí comemorar esses 188 anos de Feira de Santana é comemorar 188 anos que os brancos mataram, os Paiaiás, e tomaram as terras deles, é comemorar a vitória dos caras que escravizaram os afros e indígenas que sobraram e obrigaram a construir: O casarão, a igreja matriz, a rua do meio, a rua direita, o curral modelo, o prédio da antiga cadeia… foi a injusta vitória dos invasores portugueses que abriu caminho para o local que antes pertencia aos paiaiás hoje seja Feira de Santana, uma cidade que acolhe muita gente, mas esquece suas verdadeiras origens.
Por professor Zaqueu Silva, Licenciatura em História pela UEFS, Mestre em História social PPGH-UFAL,Doutorando em História Social PPGH-UFBA,membro do LABELU-UEFS,Conselho editorial de A-pala revista e membro do NEABI-UEFS.
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