Festejos juninos e eleições municipais

As festas juninas são umas das manifestações culturais brasileiras mais expressivas, especialmente na região Nordeste do País. São as festas preferidas das crianças, que, entra ano e sai ano e aprendem na escola a importância destes festejos e aguardam com ansiedade o fim de junho e a festança antes do recesso de meio de ano. Já os adultos frequentam os arraiás, deliciam-se com as comidas e bebidas típicas desta festa e arriscam, por que não, até dançar um bom forró. As comemorações de São João (24 de junho) fazem parte de um ciclo festivo que passou a ser conhecido como festas juninas e homenageia, além desse, outros santos reverenciados em junho: Santo Antônio (dia 13) e São Pedro e São Paulo (dia 29). 

Das maiores manifestações culturais e religiosas referidas, pode-se afirmar que os festejos juninos envolvem um grande número de empresas, gente, instituições [...], onde os santos Antônio, João, Pedro e Paulo preenchem o mês de junho com ricos festejos religiosos, culturais, artísticos, além de gastronômicos. Fogueira, canjica, quentão [...] - é difícil alguém não gostar dessa época do ano com tantos quitutes deliciosos e tamanha animação e riqueza ímpar, chegando a merecer a concessão do título de patrimônio imaterial.

As festas juninas percorrem o mês de junho, uma boa parte do mês de julho e são realizadas como dito, especialmente no Nordeste do Brasil, respeitadas as peculiaridades de cada região. Já virou se tornou cultural em muitas famílias, empresas - que realizam os arraiás entre colaboradores -, e tantos outros exemplos cujos objetivos são promover maior interação, estabelecer novos laços de amizades, praticar brincadeiras, manter a cultura, melhorar o relacionamento entre os envolvidos, etc., etc., etc..

O Santo Antônio é mais cultuado em manifestações religiosas. Várias famílias e paróquias mantém a tradição da Trezena de Santo Antônio. Acredita-se que o Santo, atende pedidos do tipo encontrar coisas e objetos desaparecidos, rotulado como "responsar a Santo Antônio", graças são alcançadas. Outro mérito do glorioso Santo Antônio é atender aos pedidos de casamento. Curioso a respeito desse Santo é o fato de alguns devotos colocá-lo de cabeça para baixo até receber a graça. Por quê? Sabe Deus!

São Pedro, o guardião do céu, detentor das chaves, apóstolo que negou a Cristo por três vezes, além de alicerce da Igreja Católica, é tido como o padroeiro das viúvas, também comemorado com rezas e um pouco do profano, tendo a fogueira como simbologia que não pode faltar. São Paulo, Apóstolo, foi um apóstolo de Cristo, um dos maiores propagadores do cristianismo e autor de catorze epístolas do Novo Testamento. Antes de se converter ao Cristianismo, São Paulo era conhecido como Saulo e, SIC, perseguia os discípulos de Jesus nos arredores de Jerusalém. Não se fala muito neste durante os festejos juninos.

Sem desmerecer nenhum dos outros santos citados, o São João é o mais festejado dessas manifestações, com destaque para o cultural e o profano. É o mais festejado e em alguns municípios do Brasil tem deferência de feriado. Fogueira, fogos, e grandes festejos com tudo que se tem direito em iguarias, licores, laranja, milho, amendoim e grandes eventos festivos são alguns dos sabores e momentos dispensados a São João. 

Partindo da "estakazero", vamos falar do significado do verdadeiro festejo do São João. Seria mesmo a intenção de cultuar o Santo? Manifestações de fé, religiosidade, essência do catolicismo ao Santo que batizou Jesus? E as expressões do forró, tido como "pé de serra", as iguarias derivadas do milho, o amendoim, a fogueira e os fogos? Nada disso! Preferem os grandes eventos com o safadão. O cantor, viu? A “calcinha preta” e/ou a “cueca branca”. Nomes de bandas, não interpretem mal. E assim, alguns prefeitos e prefeitas, governadores e governadoras de "fala mansa" dizem que “É prá atender pedidos do povo”. Do povo ou de eleitores? Não se sabe bem.

Fato é que o São João Tradicional, das ruas com fogueiras, das visitas às famílias, do tradicional “São João passou por aqui?” Dos fogos infantis ou não, dos foguetes, das espadas (em algumas cidades), esse São João foi deixado para reminiscências. Hoje são palcos monumentais, áreas destinadas especialmente para grandes e caríssimos eventos. Outdoor nas estradas e propagandas por todo o país. Cervejarias exclusivas. E os gastos? Ah! Esses estão muitas vezes fora da realidade, especialmente de boa parte da população brasileira. 

Pequenos municípios brasileiros nos quais as despesas com essas festas superam os orçamentos anuais para as despesas correntes (leia-se todas as despesas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital). De outro lado o Ministério Público Estadual (MPE) até solicita que os(as) gestores(as) municipais enviem esses orçamentos destinados aos festejos juninos. Alguns atendem. Outros fazem de conta que atendem. 

O que é possível perceber, em nossa modesta opinião, é que os festejos juninos atuais atendem interesses outros que não são os interesses nem dos Santos nem dos devotos. São interesses direcionados às eleições, ao eleitorado. Especialmente em anos de eleições municipais este objetivo fica claro. A melhor festa e as melhores atrações, ao que parece, refletirão em “melhoria nas urnas”. Para não dizer que nos esquecemos de falar das quadrilhas, atrações indispensáveis da época, Anarriê! Anarriê! Anarriê! E Feliz São João!

Por Pedro Torres Filho - Engenheiro Agrônomo e Carlos Alberto - Professor e Radialista