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"Temos que tratar a música com responsabilidade e respeito", diz Dado Brazzawilly, sobre a música atual

Micareta 2024

19/04/2024 14h47
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Blog Correio
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A música com o passar dos anos, vem passando por diversas transformações, aprovadas por uns, reprovados para outros. Em entrevista ao Conectado News, o músico Dado Brazzawilly, que se apresentará na Micareta de Feira, no domingo (21), às 22h no palco J. Morbeck, disse não aprovara a música atual, afirmando que a geração da década de 1980 é única e faz uma música muito melhor.

"Feira de Santana é a cidade que a bem da verdade todos os artistas emergiram de Salvador para o mundo passaram por Feira de Santana, tive esse privilégio, fui acolhido pela imprensa e pelo povo de Feira, para mim, é uma honra retornar ao município, fazendo o carnaval e cantando para a galera que curte reggae em Feira de Santana".

Como se define

"Podem me definir como intérprete, na verdade, tenho essa facilidade, é um privilégio  que Deus me deu, já fiz show de tributo a Tim Maia, no Pelourinho em Salvador, como também canto axé, que é a minha escola, vim do Afoxé Bamboxê, daí, fui convidado para o Araketu, onde fiquei por 10 anos, sai do Araketu contratado pela gravadora EMI Odeon, para cantar reggae na Banda Terceiro Mundo com Antônio Fernandes, na época dono da banda Reflexus, depois segui carreira solo, gravei Reggae, Gxa, funk, forró, uma linha musical muito bacana, o último single que fiz foi de Samba, “Soteropolitanamente Romântico”.

Samba

"O samba é da Bahia, é a raiz de tudo que rola no Brasil, mas é genuinamente baiano, o carioca apadrinhou o samba e devido aos grandes artistas de Bossa Nova criaram aquele samba estilizado, o chamado samba de rico que ficou a Bossa Nova, mas a música é samba, mesmo sendo samba de branco a raiz é toda preta, sai do  recôncavo baiano, não tem jeito. É muito interessante viajar pelo Samba, pelas músicas africanas, mas isso já foi feito lá atrás e hoje temos uma identidade musical negra de raiz, produzida no Brasil, feita na Bahia, se alguém quer beber de uma fonte musical nesse país, o local é a Bahia, não tem outro, os baianos já fizeram a parte dele, vieram com isso, trouxeram isso no DNA, a música negra veio no DNA do baiano, no carioca também, muito negro no Rio de Janeiro que também tem a ver, mas a música difundida a força e que conquistou o mundo inteiro, saiu da Bahia, música que Michael Jackson e Paul Simon cantaram e todo mundo se rendeu, a musicalidade brasileira saiu da Bahia".

O músico afirmou que a música atual é somente ritmo, não tem letra e afirmou que abgeração da década de 1980 é unica em tudo que faz e terá outra igual.

"Se fizermos uma reflexão, tivemos uma geração ímpar, única, que vai acabar, não vai mais perdurar no mundo, porque está acabando, a musicalidade da década de 1980 nunca mais retornará ao mundo, cinema, atores, músicas, composições e estilos, não retornarão ao mundo nunca mais, porque já acabou, essa geração fez as melhores músicas, arranjos, filmes, conseguimos ir do passado para o futuro, onde estamos morrendo, tudo que fizemos de melhor neste mundo foi nossa geração, atualmente a juventude não ouve uma letra musical que tenha um argumento histórico, hoje em dia é o ritmo quem dita, somente a frequência rítmica para dançar, mas a nível de letra e poesia o empobrecimento é geral infelizmente. Uma música atualmente não permanece um mês nas plataformas que já é substituída, música de pouco mais de minutos. Lembra de “Santa Esmeralda”, que tinha 15 minutos? Algo lindo para se ouvir, na minha percepção, com todo respeito à juventude, a musicalidade atual, o que domina atualmente é o ritmo junto com a expressão corporal, continuo dizendo que a nossa musicalidade ainda é a que reflete, porque digo, quando se ouve um flashback, é uma coisa muito bonita, músicas que marcaram época, como Pholhas, Djavan, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Peninha, Roberto Carlos, Elba Ramalho, temos uma grande variedade de artistas que você pode ouvir e dizer: “Meu Deus, que coisa linda!”, artistas, baianos, pernambucanos. Daqui há 20 anos, vamos ouvir o quê?  Senta, Senta Senta".

Mensagem

"A mensagem é simples e ao mesmo tempo um conselho, se você observarmos os grandes programas de TV, com as grandes artistas que estão se apresentando atualmente, os meninos que estão cantando no The Voice Kids, no Raul Gil e alguns outros programas, dá para ver crianças e adolescentes cantando músicas de altíssima qualidade, cantando muito bem, não é pouco, cantando bem, dando uma aula a muito burro velho nesse país, o conselho que dou é que se espelhe nesses programas, nessas crianças, porque não adianta fazer uma música de gelo, que você canta, manda sentar, levantar e daqui um mês ninguém lembra mais, porque já vem outro que vai dizer, se deite e se sacuda, em seguida outra que diz corra e saia nu, são músicas que não tem nenhuma consistência futura e não trazem nenhum legado cultural e de estabilidade profissional e financeira, porque também o vento leva. Para se ter ideia, artistas daquela época até hoje vivem da arte, porque não se pode pensar na arte como uma coisa de digamos assim, o momento do presente, porque hoje você está jovem, novo, sobe no palco, namora, pinta e borda, está com o corpo bonito, mas ao passar dos anos, ao chegar nos 40, 50 e 60 anos, tem que estar vivendo da música, mas, com essa música atual, nenhum deles vão sobreviver com essa idade tocando isso, porque é uma questão de corpo, vira de costas para o palco, se requebra, todo mundo aplaude, vai para casa, daqui há 5 anos, tem outra novinha fazendo a mesma coisa e você fica de lado, não vai mais para canto nenhum. Temos que tratar a música, dança e a arte com responsabilidade e respeito, que é para você poder sobreviver desses viés, se mencionarmos 80 anos, lembramos de Roberto Carlos com show lotado, Bell Marques, com 70 anos, arrastando multidões, porque tem uma qualidade de trabalho, responsabilidade e respeito com a música".

Reportagem: Hely Beltrão e Luiz Santos

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