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Artigo Chuva

"Janeiro vai ficar marcado na memória do povo feirense, diz professor Valter Zaqueu

Nessas horas, o Psirico acerta na canção

31/01/2024 19h19
Por: Ana Meire Fonte: Conectado News
Foto Luiz Santos
Foto Luiz Santos


Janeiro de 2024 vai ficar marcado na memória do povo feirense nem tanto pelas fortes ondas de calor que fizeram a conta de luz ficar mais cara,  mas principalmente pelas fortes chuvas que caíram em todo o nordeste durante pouco mais de 5 dias. Nesse período, várias cidades receberam um alto volume de chuva em um curto espaço de tempo, o que resultou na cheia de vários rios, tanques, lagoas e açudes, mas também no alagamento de várias cidades do interior, e infelizmente em feira de Santana não foi diferente, em vários pontos da cidade, dos bairros caros até a periferia, várias casas foram invadidas pela água da chuva.
 Seria só mais uma calamidade causada pela variação climática, mais uma demonstração do descalabro que é esse sistema em que vivemos, onde a vida cotidiana produz lixo e poluição e essa mesma poluição causará o fim da vida como conhecemos, porém, tem algo mais. 
  Não é como se fosse apenas a força da natureza, essa magnifica força que não podemos controlar, seguindo naturalmente seu curso e imprevisivelmente nos atingisse a todos sem que nada pudessemos fazer. Já que no caso de Feira de Santana, várias ações poderiam ter evitado aquele cenário tão drástico que nós, enquanto população, vivemos.
 Não é novidade pra ninguém que Feira de Santana dos olhos d’água, é uma cidade privilegiada por estar localizada num terreno repleto de rios e riachos, lagoas, lagos, brejos e nascentes, não deve ter sido por acaso que os povos Paiaiás originários daqui, batizaram essa terra de Pororoca, tem muita água e movimento aqui por baixo. Todo esse movimento de águas que aqui ocorre é tradicional, alagamentos nessa cidade acontecem, não por acaso, o jornal Feira hoje de 1978 noticiava em suas páginas o desabamento de várias casas devido ao alagamento causado por fortes chuvas na cidade. 
 É papel do poder público praticar um zoneamento urbano humanizado e responsável, gerindo de forma democrática e dinâmica a ocupação do território do munícipio com vistas no melhor aproveitamento das riquezas desta terra, sem que percamos de vista a convivência harmoniosa com a natureza. Quando esse exercício não acontece, empreendimentos imobiliários são construídos sem considerar o fluxo das águas pluviais, em lagoas sazonais, sob nascentes ou olhos d’água e o alagamento das casas se torna inevitável.
 Quando o poder público se torna ausente, e não é capaz de direcionar de forma saudável os investimentos na infraestrutura da cidade, o PDDU local acaba ficando caduco e a população mais vulnerável, que foi historicamente empurrada para as periferia, é obrigada a ocupar os terrenos mais úmidos, na beira dos rios e lagoas da cidade. Essa ocupação desequilibrada tem uma forte relação com o processo de colonização imposto ao território que hoje chamamos de Brasil, foi com eles, com a branquitude; que o Brasil aprendeu que a elite fica na casa grande, no terreno mais plano e seguro, e os negros e pobres na senzala, no terreno de menor valor.
 Será que já não está na hora do zoneamento urbano feirense abandonar essa lógica colonial e assumir a responsabilidade de garantir as obras necessárias para corrigir esse desequilibrio ambiental marcado pela ocupação dos mananciais locais? Até quando a especulação imobiliária, pilotada pelos interesses aristocratas vai fomentar esse desequilibrio ecologico maquiado de desenvolvimento urbano? Todos sofrem com os alagamentos, mas os negros que quase sempre são os mais pobres, tem muito mais dificuldades de se recuperar. 

Nessas horas, o Psirico acerta na canção:
“Êee chuá chuá, ê chuá chuá Temporal que leva tudo, mas minha fé não vai levar,
Êee chuá chuá, ê chuá chuá Oh, meu Deus, dai-me força pra outra casa levantar.”

Por: Prof Valter Zaqueu.

 

 

 

 

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Isabel Santos Há 1 ano Feira de Santana Parabéns, Luis pelas escolhas acertivas no Levante a Voz.
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