Quem trafega pela BR 116 ao chegar na estrada do distrito de Matinha, em Feira de Santana/BA, se depara com uma escultura de uma empresa do seguimento pedreira a qual exibe um homem negro carregando uma pedra nas costas. Esse comunicador, que frequenta o distrito constantemente, sempre observou aquele monumento, no entanto, esse final de semana algo chamou a atenção. Um morador do referido distrito, um homem, também negro, nos perguntou por que aquele monumento tem que ser de um homem negro com a pedra nas costas? Disse ele: "Será que nós negros só servimos para carregar pedra?
A abolição da escravatura, de 13 de maio de 1888, a famosa "Lei Áurea", assinada pela princesa Isabel, passados 135 anos, parece não ter representado muita coisa para alguns seres humanos os quais continuam a reproduzir marcas da escravidão. Continuam chicoteando, batendo nas costas do povo negro, às vezes com a chamada "jogada de marketing". Em alguns casos, nós, negros, somos colocados em segundo plano e em muitos casos não percebemos tais atitudes.
Essa semana passada "viralisou" na internet, em forma de protesto, um vídeo no qual uma grande empresa de produtos de limpeza contratou uma famosa cantora baiana, loira, para ser a garota propaganda dos seus produtos na TV, em placas de outdoor e na rede mundial de computador. Já na Avenida Oceânica, bairro de Ondina, área nobre da capital baiana, Salvador, a empresa colocou uma mão negra segurando um dos seus produtos de limpeza. Tal campanha gerou várias discussões, principalmente nas redes sociais. A professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bárbara Carine, foi uma das vozes que protestou contra a ação de "marketing" da empresa considerada racista.
Embora o monumento da pedreira citado já esteja naquele local há muitos anos, como forma de respeito e reconhecimento à competência de nós, homens e mulheres negros e negras da Bahia, do Brasil, do mundo, deveriam, os responsáveis por tal "ideia", remove-lo e não colocar a imagem de qualquer ser humano se branco, preto, amarelo [...] com uma pedra nas costas. Até porque existem outras maneiras de simbolizar a pedreira.
Alguns poderão até dizer que tal reação de nós negros a ações de "marketing" como essa "é mimimi, é vitimismo de nossa parte". No entanto, afirmo, antecipadamente, que não é. Trata-se de outra coisa, menos de vitimismo, de mimimi. Esperamos que com a lei aprovada recentemente na Câmara Federal tornando o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, feriado nacional, possamos concientizar a todos e todas que o povo negro não está aqui só para carregar pedras e usar produtos de limpeza para limpar chão e panelas. Queremos e merecemos outros monumentos que verdadeiramente representem nossos potenciais, nossa garra, nossas lutas e vitórias, nossa história.
Por Luiz Santos, radialista e jornalista
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