Administradora de empresas cai no golpe do Tinder, cuidado

O sonho de encontrar um príncipe encantado, a princesa perfeita e viver uma linda história de amor despertou em estelionatários a oportunidade de aplicar golpes. Recentemente um documentário na Netflix, intitulado “O Golpista do Tinder”, chamou a atenção para um tipo de prática conhecida como estelionato sentimental, no qual uma pessoa, geralmente fake, engana a outra para conseguir que a vítima deposite quantias em dinheiro.

Uma dessas vítimas foi a administradora Tatiana Carli Mota, 37 anos. Ela conta que conheceu o aproveitador em 2020 através de um aplicativo. “ No início ele fazia de tudo para me agradar, dizia que queria envelhecer ao meu lado e tudo aquilo que sempre falam”, conta. 

Tatiana viveu um pesadelo durante 4 meses e acumulou um prejuízo de mais de R$30 mil. “Ele começou a pedir dinheiro aos poucos, quando veio morar comigo, dizia que quando voltasse a trabalhar me pagava tudo. Eu estava apaixonada e acreditava que deveria ajudá-lo. Ele me manipulava e me fazia sentir obrigada a ajudá-lo. Era agressivo e me ameaçava pedindo mais dinheiro, além de furtar as minhas coisas e usar meu cartão de crédito em motel, para abastecer o carro e comprar drogas. Paguei completamente todas as parcelas do carro dele e a pensão da filha dele”, relata.

Conforme o terapeuta ocupacional, Victoriano Garrido, a carência, o  romantismo e a paixão impedem a vítima de reconhecer o golpista. “A paixão platônica é muito forte e o romantismo não pede controle e quando vem essa paixão forte nada mais se torna importante na nossa vida, inclusive o dinheiro. Esses profissionais, verdadeiros aproveitadores sentimentais, fazem as pessoas se apaixonarem, falando o que elas querem ouvir para ludibriar e conseguir o que querem com a vítima”, explica. 

A advogada Mariana Rodrigues, explica que não existe um crime específico do estelionato sentimental. “Obtenção da vantagem ilícita, causar prejuízo a outra pessoa, usar de meio ardil, enganar alguém ou levá-la ao erro são requisitos que configuram um crime de estelionato, então o estelionato sentimental é uma  forma de aplicar o estelionato, utilizando o sentimento da vítima como meio ardil de indução ao erro e obter acesso aos bens do outro”, esclarece. 

Tramita no Congresso Nacional, dois projetos de lei que pedem a inclusão no artigo 171 do Código Penal do “estelionato afetivo ou sentimental”, quando a fraude é praticada em decorrência de relacionamento no intuito de “dissimular, extorquir, enganar, ludibriar ou induzir a outra parte a erro”.

Segundo a advogada, o Código Penal prevê crime relacionado à prática do estelionato por meio de redes sociais, telefônico e e-mail. “Quem passar por isso deve recolher todas as provas possíveis e procurar um advogado e a delegacia de furtos de roubos, vale ressaltar que se ocorrer também uma situação de violência de gênero no âmbito da lei Maria da Penha , o ideal é a vítima procurar a delegacia da mulher. É necessário atenção, pois um crime de estelionato tem um prazo para fazer a denúncia de 6 meses a contar do dia que a vítima percebe que foi enganada", completa.  

Perceber e sair de uma prática abusiva quando se está apaixonado e envolvido não é fácil, o terapeuta orienta, “sempre desconfiem daquela pessoa que não quer que você faça amigos, que se aproxime da família.  O mesmo cuidado que devemos ter na vida real, precisamos ter no mundo virtual, é preciso estar sempre de olhos abertos e ter bastante cuidado. Aproveitar o início em que não estamos tão apaixonados e realizar uma investigação, olhar quem são os amigos incomum, pegar referências e observar os comportamentos”, orientou. 

Mariana completa. “Se você está se relacionando com alguém através de algum meio digital, aplicativo de relacionamento é importante manter as conversas para que você possa salvar. Procure o nome dessa pessoa em outras redes sociais, quem são os seus familiares, os amigos, onde mora e marcar um encontro com essa pessoa em um local público para conferir se aquela pessoa da foto é quem diz ser. Evite emprestar cartão de crédito, documentos pessoais e compartilhar senhas e sempre desconfiar”, concluiu.

Reportagem: Engledy Braga e Emanuelle Pilger