"Você pode fazer qualquer coisa." Foi essa frase, dita por um orientador durante a graduação, que transformou o rumo da vida acadêmica de um jovem baiano formado em Feira de Santana. Filho de militar, nascido em Porto Alegre (RS), com infância marcada por mudanças constantes entre Brasília, Boa Vista e, finalmente, a Bahia, ele aprendeu cedo que recomeços fazem parte da jornada — e que a educação pode ser a ponte entre o sonho e a realização.
Hoje, aos 40 anos, o professor e pesquisador é uma referência na área de Física da Matéria Condensada, com mais de 22 artigos publicados em periódicos internacionais, colaborações científicas consolidadas em países como Espanha e Portugal, e um papel ativo na formação de futuros cientistas no interior do Maranhão. Mas seu percurso até aqui foi marcado por desafios, decisões corajosas e gestos de generosidade que moldaram não apenas um currículo exemplar, mas uma visão profunda sobre o papel da ciência e da docência no Brasil.
Uma jornada que começou com um gesto
Em 2011, cursando o mestrado em Física na Universidade Federal de Sergipe (UFS), ele recebeu a notícia de que havia sido aprovado em um concurso público para o magistério estadual do Maranhão. Para conciliar o cargo com a pós-graduação, buscou a transferência para o Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A única condição: prestar novamente a seleção, considerada uma das mais exigentes do país. Foi aprovado em segundo lugar.
Ao chegar a São Luís, sem dinheiro sequer para a estadia, o então candidato ao mestrado encontrou no professor Dr. Carlos William Paschoal não apenas um orientador, mas um exemplo de humanidade. O docente, mesmo sem conhecê-lo, custeou hospedagem e alimentação para que ele e outro candidato pudessem participar do processo seletivo. "Ele acreditou em dois jovens desconhecidos apenas porque viu neles a vontade de aprender — e isso bastou", relembra o pesquisador, emocionado.
Docente, pesquisador e multiplicador de saberes
A carreira no magistério superior começou em 2013, após aprovação em concurso para professor da UFMA. Foi lotado inicialmente no campus de Grajaú, onde consolidou vínculos importantes com colegas e gestores. Em 2016, passou a atuar no campus de Bacabal, onde construiu sua trajetória acadêmica sólida e inovadora.
Desde então, orientou 16 trabalhos de conclusão de curso, 6 projetos de iniciação científica, e participou de mais de 36 bancas acadêmicas. Além disso, envolveu-se ativamente na organização de eventos científicos, contribuindo para a formação acadêmica e o fortalecimento do ensino superior na região.
Seus projetos de pesquisa envolvem temas de alto impacto, como o estudo de materiais multiferróicos e perovskitas híbridas, com aplicações em áreas estratégicas como a transição energética e a refrigeração sólida.
Em 2025, foi aceito como docente permanente no PPGF/UFMA — um marco que reconhece sua atuação e abre novas frentes de pesquisa e orientação em nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
Reconhecimento internacional e inovação científica
Sua trajetória não se limita ao território nacional. Em 2014, realizou doutorado sanduíche na Universidade da Coruña, na Espanha, com bolsa PDSE/CAPES. Lá, iniciou colaborações que perduram até hoje. Posteriormente, atuou no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), entre 2017 e 2019, e em 2018, com o professor Dr. Rosivaldo Xavier, aprovou um projeto de cooperação internacional com a FAPEMA, retornando à Espanha para desenvolver pesquisas em materiais barocalóricos no Centro Interdisciplinar de Química e Bioloxía (CICA).
A consagração veio em 2025, quando foi selecionado no programa internacional Talent4Iberia, promovido pela União Europeia, sendo o único brasileiro entre os 10 aprovados. Seu projeto, focado no desenvolvimento de materiais termorreguladores para melhorar a eficiência de sistemas fotovoltaicos, será realizado no prestigiado Centro Ibérico de Investigação em Armazenamento de Energia (CIIAE), na Espanha.
A ciência que se faz no interior
Atuar como cientista no interior do Maranhão não é tarefa simples, e ele sabe disso. "Um artigo científico no interior exige, proporcionalmente, até dez vezes mais esforço", afirma. Apesar das limitações de infraestrutura, a produção científica segue viva, graças a colaborações com docentes da própria UFMA, da UFC, da UFRB e de centros internacionais. Para ele, produzir ciência no interior é um ato de resistência — e de compromisso com o desenvolvimento regional e com a democratização do conhecimento.
A sala de aula como extensão do laboratório
A relação entre pesquisa e docência é central em sua concepção de universidade. "Docência e pesquisa caminham juntas — como a dualidade entre partícula e onda. São expressões diferentes de uma mesma natureza: uma busca compreender, a outra compartilhar o que foi compreendido", diz.
Para ele, ensinar é instigar, provocar o aluno a pensar como cientista. "Ensinar exige acolhimento, empatia e respeito. O verdadeiro professor é ponte — alguém que se deixa pisar para que outros atravessem da ignorância ao conhecimento."
Dia dos Professores: mais do que uma homenagem
Ao refletir sobre o Dia dos Professores, o docente ressalta que a data vai além da comemoração. "É um convite à consciência sobre o papel central da educação e sobre os desafios enfrentados pelos educadores no Brasil. Mais do que flores, é preciso políticas públicas eficazes que valorizem quem está na base da transformação."
Formação contínua e o verbo que nunca se conjuga no passado
Formar-se, para ele, não é um ponto de chegada. "É um processo contínuo, um exercício de escuta, de curiosidade, de revisão de métodos e de abertura ao novo." E completa: "Estar em um campus do interior me ensinou que o conhecimento floresce quando compartilhado com propósito — e que é possível fazer ciência de excelência em qualquer lugar, desde que se tenha coragem, entrega e fé no que se faz."
Do menino que dava aulas de reforço aos 17 anos ao pesquisador internacional
Com mais de 50 estudantes orientados em diferentes projetos e dezenas de revisões realizadas para periódicos internacionais — sendo reconhecido em 2025 como "Exceptional Reviewer" pela revista Materials —, o pesquisador já não é mais aquele jovem que chegou sem dinheiro à capital maranhense.
Mas, se hoje seus trabalhos são reconhecidos em eventos e revistas científicas internacionais, o espírito permanece o mesmo: o de um educador que acredita no poder transformador do ensino, na generosidade como princípio e na ciência como um caminho possível — até mesmo para quem, um dia, teve apenas coragem e um sonho.
"Cada aula, cada orientação e cada pesquisa nasceram desse impulso de acreditar que o conhecimento é um ato de resistência — e que ensinar, no fundo, é uma das formas mais belas de não desistir do futuro."
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