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Educação Alfabetização

Especialista em Educação ressalta o papel da família no processo de aprendizagem da criança nas séries iniciais

Ao comentar sobre os resultados ruins da Bahia na alfabetização

17/07/2025 15h53 Atualizada há 3 meses
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

Por Hely Beltrão

Segundo dados de 2024 do Indicador Criança Alfabetizada do Ministério da Educação (MEC), menos da metade das crianças da rede pública da Bahia, até o 2º ano do Ensino Fundamental foram alfabetizadas em Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, as três maiores do Estado. Segundo o índice, estes municípios registraram indicadores abaixo de 50%.

Dos 417 municípios baianos, Salvador alfabetizou apenas 36,75% das crianças, ficando na 182ª posição, sendo a pior entre as capitais brasileiras, Feira de Santana teve 33,19%, ocupando a 230ª posição e Vitória da Conquista, com 42,75%, aparece na 107ª posição.

Basilon Carvalho, mestre em Ciências da Informação pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Educação de Jovens e Adultos pela UNEB (Universidade Estadual da Bahia), disse ao Conectado News que não há um vilão na história, que os professores baianos são muito bons, mas que precisam ser bem remunerados, o que passa pela questão do pagamento do piso salarial, lei que não é cumprida por muitos municípios.

"Ao questionarmos qual o vilão dessa história, no que se refere ao baixo índice de alfabetização, divulgado pelo MEC recentemente, onde a Bahia aparece como um dos piores resultados, sobretudo Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista, não diria que exista um, como se alguém estivesse causando esses maus resultados, até porque temos educadores e educadoras, todo um corpo docente que compõem as escolas do estado da Bahia, nos 417 municípios, temos profissionais de educação condicionados e dedicados para uma melhor educação, infelizmente quando pensamos em um vilão, destacamos as gestões municipais, que para mim, o ponto crucial, que deve ser observado, é quem é esse educador, que ainda não está recebendo o piso salarial, é importante se entender que o professor precisa ser respeitado na sua conjuntura porque se temos hoje diversos professores da Educação Infantil concentrados para dar conta de um processo de alfabetização, que não é remunerado tal qual um processo de precarização docente que vivemos, onde enfrentamos diversas situações do ponto de vista econômico, social, de manter esse aluno dentro dos nossos espaços, disputando a atenção com esse professor, que o tempo todo está buscando uma forma atribuída pedagógica para alfabetizar esse conjunto de alunos, isso é muito importante, creio que não existe o vilão, mas devemos dividir as responsabilidades. Esse professor está sendo bem remunerado? Está sendo pago com o piso salarial? Tem estrutura física, pedagógica, todos os manejos necessários para que seu trabalho seja bem desenvolvido? Esse professor tem apoio da família do aluno dentro da escola para que a educação doméstica não seja relegada a educação formal que deve ser ministrada dentro do espaço da sala de aula?

Para o educador, a solução passa pela integração entre família e escola, cada um cumprindo com sua responsabilidade.

"Uma vez que foi estabelecido um piso para toda a classe de professores, que seja pago, um profissional da educação bem remunerado trabalhará com prazer, além disso, ter formação continuada para esse professor, pensando no tempo de vida e nas estruturas pedagógicas que deve elaborar para formar e educar pessoas, trazer a luz do conhecimento, ou seja, o indivíduo para o caminho da aprendizagem, precisa compreender o que é o alfabeto, como eles se somam e como isso pode dar uma estrutura para que possam entender o que cada palavra significa, e como disse Paulo Freire: “A educação só tem sentido quando ela é transgressora, quando ela sai do papel e faz parte do processo de vida”. Naquele momento o educador se referia ao processo de ensino de jovens e adultos, mas temos que pensar também no mundo lúdico da criança, um mundo que precisa fazer sentido, ela precisa entender o porquê dela está sendo alfabetizada e que aquele processo de leitura que ela trará para a vida, de entendimento a ajudará durante toda a sua vida, esse é o primeiro ponto. O segundo ponto, sobre estratégias, estabelecer possibilidades dentro do espaço escolar, da participação da família em conjunto com o colegiado e comunidade escolar, porque sem isso não há chance de sucesso. A família não deve responsabilizar a escola pela educação doméstica, assim como a escola não deve receber esse aluno, colocá-lo numa caixa, mas buscar o entendimento de que a capacidade de apreensão e aprendizagem possa se espalhar por todo o contexto escolar. Sugeriria avaliações diagnósticas, que, para ocorrer, a escola precisa ter estrutura, para além do corpo de professores, um corpo técnico que possa ajudar a trabalhar esse processo de educação passo a passo, como hoje não temos essa capacidade, buscar uma noção de trabalho coletivo, entre professores, família, o que se pode tirar de excesso de conteúdo, trazer mais para amplitude, possibilidades mais didáticas para que o aluno seja devidamente alfabetizado".

Ao ser indagado por qual motivo municípios menores com orçamento educacional baixo alcançam melhores resultados, Basilon disse que uma das possíveis causas, é que os pais estão mais próximos da escola, o que nem sempre acontece nas grandes cidades devido a vida agitada.

"Temos municípios menores, alguns no Sul e Sudeste, mas que tem um PIB (Produto Interno Bruto) alto, trazendo para a Bahia, onde temos municípios com uma renda  muito menor que os dos grandes centros, creio, embora possa estar enganado, que em um município menor, onde provavelmente as crianças daquela escola vivem próximo a escola, não precisam de transporte público para chegar a unidade escolar, muitas delas estão com os pais, que provavelmente acompanham de perto a escola, que tem um contato maior com esses pais e assim se estabelece um processo de alfabetização um pouco mais avançado, não estou dizendo que são todos os casos, mas pode acontecer, porque devemos entender também, que na dimensão territorial da Bahia, os municípios são de diversas possibilidades do ponto de vista da fala, diversidade e cultura, cada um desses itens interferem no processo de aprendizagem, não se pode afastar uma coisa da outra. Não sei se isso funcionaria nos grandes centros, mas tenho certeza que se a família participa na elaboração e na conjuntura pedagógica do espaço escolar, sabendo o que está ocorrendo na escola, onde os pais poderão contar com os professores e os professores com os alunos, porque nos grandes centros, muitas vezes os pais, por conta da vida corrida, deixam seu filho na porta da escola, que entra, fica por cinco horas, depois alguém vem buscar e leva para casa, essa criança sai dali com uma atividade para ser resolvida em casa. Os pais muitas vezes chegam em casa muito tarde, se preocupando com o dia seguinte, sendo assim, como essa educação será continuada para essa criança? Nos municípios menores, talvez isso não aconteça, devido a dinâmica que ele oferece, os pais talvez estejam muito mais próximos desta criança, para que assim a educação possa ser compartilhada entre o processo da educação doméstica e a formal, somando as duas, teremos sucesso, uma sozinha, não temos bons resultados do ponto de vista de ter um cidadão “mal educado” ou de um cidadão que não tenha minimamente uma educação formada, se tornando um analfabeto funcional ou em toda sua conjuntura, porque ao longo tempo só frequentou, mas não vivenciou as experiências que a escola nos possibilita através aprendizagem com dois requisitos: a questão do aprender e do apreender, para refletir sobre aquilo que está sendo posto naquele espaço escolar", concluiu.

Sobre o especialista: 

Prof. Basilon Carvalho
Pedagogo / Normalista
Graduado Técnico Em Ciências Politicas - Universidad de León /
Especialista em Relações Raciais, Gênero, Classe/
Mestre em Ciências da Informação - UFBA. 
Mestre em |Educação de Jovens e Adultos – UNEB
Avaliador do MEC; 
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2560366043638695 
Instagram: @doscontosdobasi
Linkedin: www.linkedin.com/in/prof-basilon-carvalho

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