Os acidentes com motocicletas seguem sendo uma epidemia silenciosa e devastadora, especialmente no interior da Bahia. Em entrevista especial ao Levante a Voz, a diretora do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), Dra. Cristiana França, chamou atenção para a gravidade e o impacto crescente desses acidentes.
Essa é a primeira reportagem de uma série especial que vai abordar os acidentes envolvendo motociclistas sob diferentes perspectivas. Um problema que deixou de ser apenas viário e passou a ser uma questão de saúde pública e segurança, diante dos altos custos para o sistema de saúde e do impacto social e econômico que provoca.
“Hoje, de cada 10 acidentados que atendemos no Clériston Andrade, 8 são motociclistas. E o mais preocupante não é apenas o número, mas a gravidade das lesões. São fraturas sérias, com comprometimento de tendões, artérias e ossos. Muitos chegam com sequelas irreversíveis, ou nem conseguem chegar vivos ao hospital”, afirmou a diretora.
Segundo a gestora, o HGCA atende quase 500 vítimas de acidentes por mês, incluindo pedestres, ciclistas e motoristas, mas os acidentes com motos representam 80% do total.
O levantamento interno feito pela equipe do hospital mostra que 90% das vítimas de acidentes de moto são homens, a maioria entre 15 e 55 anos, ou seja, em plena idade produtiva.
“Esses pacientes deixam de trabalhar, sobrecarregam o sistema de saúde e o Estado deixa de arrecadar. Além disso, o custo com materiais ortopédicos, como placas e parafusos — os chamados OPME — é elevadíssimo. No ano passado, gastamos quase R$ 3 milhões apenas com esses itens aqui no HGCA”, destacou.
O tempo de internação varia conforme a gravidade das lesões: alguns pacientes ficam internados por 15 dias, outros por até um ano. “Isso compromete o atendimento de outros casos, porque o HGCA é porta aberta e não recusa pacientes. É um desafio diário.”
Ela também lembrou que, apenas em 2023, o Ministério da Saúde reportou mais de R$ 51 milhões gastos com acidentes em todo o país.
Em Feira de Santana, as lesões mais recorrentes são nos membros inferiores, diferente do que ocorre em cidades menores e distritos, onde predominam os traumas na cabeça. “Aqui, o uso do capacete é mais comum. Já em localidades mais afastadas, ainda circula o mito de que o capacete é proibido — o que não é verdade.”
Para a diretora, é preciso ação integrada e contínua:
Melhoria do transporte público, para reduzir a dependência da motocicleta;
Campanhas educativas e blitzes, com foco em conscientização e fiscalização;
Sinalização adequada nas vias;
Educação para o trânsito desde a infância, nas escolas;
Geração de empregos, reduzindo o uso da moto como instrumento informal de trabalho.
“Nos países desenvolvidos, a moto não é o principal veículo. Aqui, infelizmente, é. Isso mostra como o transporte coletivo ainda falha. Precisamos mudar essa realidade com políticas públicas sérias e investimentos sustentáveis”, conclui a diretora.
Com informações: Luiz Santos
Por: Mayara Nailanne
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