A produção de licores artesanais é uma das tradições mais marcantes do São João no Recôncavo Baiano, e em Cachoeira, essa cultura se mantém viva graças ao trabalho de famílias que transformaram receitas ancestrais em fonte de renda e orgulho local. Entre elas, destaca-se a história de Rosiivaldo Pinto, dono do tradicional Licor do Roque Pinto, cuja produção teve início com seu avô e hoje é referência na cidade.
"Meu avô começou oferecendo o licor aos clientes e amigos. Ele era muito conhecido, e como o comércio dele era grande, as pessoas vinham de longe só para provar. Ele produzia cerca de 100 mil litros e cerca de 50 a 60 mil já saíam rápido. Assim começou nossa história", contou o produtor, que herdou o ofício e mantém a tradição com empenho.
Foto: Onildo Rodrigues
Embora o auge da produção se concentre nos meses que antecedem o São João — abril, maio e junho —, a movimentação é suficiente para gerar um impacto expressivo na economia de Cachoeira. "Só nesse período a gente chega a empregar cerca de 70 pessoas. Isso sem contar o comércio que gira ao redor: restaurantes, lanchonetes, feira-livre... Cada turista que vem comprar licor acaba movimentando a cidade", explicou.
Apesar do alto volume de vendas nesta época, o restante do ano exige planejamento financeiro. “A gente faz um verdadeiro malabarismo para que o dinheiro desses três meses sustente o ano todo. É preciso controlar bem os gastos e economizar, porque a produção fora do São João cai bastante.”
Sabores, produção local e desafios
Foto: Onildo Rodrigues
O licor mais procurado ainda é o de jenipapo, mas a variedade é extensa, incluindo maracujá, cajá, chocolate, coco, entre outros. “Tem sabores que dependem muito da safra. Quando a natureza não ajuda, não tem como produzir. Isso afeta bastante o nosso planejamento, porque temos clientes fiéis esperando pelos sabores tradicionais”, destacou.
Grande parte dos ingredientes utilizados é adquirida na própria região, estimulando também a agricultura local. “A gente compra muito por aqui mesmo, embora alguns insumos ainda precisem vir de fora, como os frascos de vidro e a cachaça usada na base do licor.”
Sobre o tempo de armazenamento, a responsável explica que depende do tipo de licor. “Alguns, como o de maracujá, são melhores quando mais novos. Outros, como os de frutas mais densas, ficam mais encorpados com o tempo, parecendo até vinho. Embora durem mais de um ano, colocamos um limite de segurança de consumo em até um ano.”
Alcance além do Recôncavo
Além de abastecer o mercado local e a capital Salvador, os licores dessa tradicional casa de Cachoeira já ultrapassaram fronteiras. “A gente já mandou para Alemanha, França, Estados Unidos, por encomendas de brasileiros que moram fora. Não temos exportação formal ainda, mas existe uma boa aceitação também em cidades como Feira de Santana, São Félix e outras partes do estado”, comentou com orgulho.
A expectativa de vendas para este ano gira em torno das 100 mil garrafas — uma meta ousada, mas que reflete o crescimento contínuo da produção. “Nunca dá para prever exatamente, porque o consumo muda, a safra muda, mas a gente trabalha sempre com esse foco. Nosso licor, além de sabor, carrega memória, tradição e identidade”, finaliza.
Com informações: Onildo Rodrigues
Por: Mayara Nailanne
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