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Brasil Consciência Negra

"O chicote hoje não é físico, mas virtual", diz militante do movimento negro sobre o Dia da Consciência Negra

Ivannide Santa Bárbara

20/11/2023 11h19 Atualizada há 1 ano
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Da esquerda para a direita: Maria de Fátima Souza, Ivannide Santa Bárbara e Edson das Virgens
Da esquerda para a direita: Maria de Fátima Souza, Ivannide Santa Bárbara e Edson das Virgens

No dia 20 de novembro, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra, em alusão ao dia em que o líder e ativista negro, Zumbi, foi morto no Quilombo dos Palmares pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge Velho em 1695. A escolha do 20 de novembro aconteceu no contexto de declínio da Ditadura Militar (final da década de 1970 em diante) e de redemocratização do país. O enfraquecimento da ditadura deu força aos movimentos de oposição e aos movimentos sociais, como o movimento negro."

Ao Conectado News, a feirense Ivannide Santa Bárbara, mulher negra, feirense, militante do movimento negro, ativista dos direitos humanos e primeira mulher e primeira pessoa negra a receber a maior titulação de Dr. Honoris Causa, a maior titulação concedida pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), disse que houve algumas conquistas, mas que ainda não há motivos para comemorar.

"Falta quase tudo, mas com a adversidade que enfrentamos, tivemos algumas conquistas, lutamos com muita dificuldade, são muitas cascas de banana que o sistema colonizador coloca no caminho do povo preto para escorregar, quando pensamos ter avançado 10 passos, eles criam uma barreira mais alta para dificultar o nosso avanço, mas sim, temos conquistado algumas coisas, por exemplo, há 40 anos atrás não tínhamos esse espaço de poder, para falar das nossas nossas dificuldades e denunciar o racismo, foi uma conquista do povo preto, mas, só teremos o que comemorar, quando tivermos uma igualdade real e concreta nesse país, quando os herdeiros dos colonizadores compreenderem que eles sozinhos não sobrevivem, que para crescer e desenvolver, o nosso dinheiro é da mesma cor que o deles, consumimos na medida do nosso limite, mas, ampliamos a economia também, essas coisas precisam ser conversadas, porque às vezes só falamos das nossas dores, mas também tem que falar da economia, negro consome carne, feijão, farinha, cosméticos, carro, cerveja, e nós somos tratados pelo grande empresariado como se fossemos uma coisa inerte, essas são lutas que o tempo inteiro discutimos para conseguirmos modificar, não sei quando, mas vamos".

Para Ivannide, o argumento de seunião entre os diversos movimentos negros é estratégia para dividir

"É uma arma do sistema branco racista para nos dividir cada vez mais, eles dizem isso e o sistema de forma geral, mas não dizem o resto, porque não nos unimos, não diz por exemplo, que quando nos arrancaram do continente africano, chegaram aqui, trouxeram nossas famílias e separaram todas as famílias e nações juntas pessoas de nações diferentes, que guerreavam em seu país por poder e colocaram juntas, com idiomas diferentes, isso é herança do período escravista, essa falta de acesso e oportunidade de se viver dignamente, faz com que o nosso ser se violente, e quando somos violentados, nos tornamos violentos quem está próximo, muitas vezes o povo preto, saímos na mão, brigamos, não queremos conta, porque não temos como bater no empresário, no pessoal do agronegócio que nos explora, mas eles têm como bater e nos matar, como foi o caso da vereadora Mariele e Mãe Bernadete e outros jovens negros assassinados todos os dias".

Para a militante, o chicote não é mais físico e sim virtual.

"Sim existe, esse nome bonito que tem se dado para para os flagrantes que estão acontecendo de trabalhadores em condições análogas à escravidão, é escravidão, se você pega seres humanos e coloca em condições indígnas, trabalhando apenas pelo prato de comida, às vezes estragada ou por nada, é escravidão, eles mudam o tipo de chicote, que continua batendo em nossas costas, está sofisticado, não é mais físico, mas virtual, a forma como você proíbe os acessos de conhecimento ao povo preto e o que os marginaliza e leva para caminhos errados, isso é escravismo", concluiu.

Confira na íntegra.

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão

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Roquildes Há 1 ano Salvador Bahia Lideranças de compromisso histórico. Parabéns pelo engajamento, apesar das dificuldades. E que excelente matéria.
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