"A Capoeira não nasceu na África" diz historiador

Na quinta (3) comemorou-se o dia da Capoeira, recebendo em 2014 o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Em entrevista ao Conectado News, Josivaldo Pires de Oliveira, mais conhecido como Mestre Bel,  do Malungo Centro de Capoeira Angola, Professor Dr. em História pela UNEB (Universidade do Estado da Bahia) e com diversos livros e artigos publicados, dá maiores detalhes sobre os ritos, contexto histórico e organização da Capoeira.

"A Capoeira também tem a sua diversidade interna, a Capoeira que trabalho é a Angola, neste tipo de capoeira, trabalhamos com uma certa hierarquia de grau, começando pelo treinel, que é o capoeirista que auxilia as atividades de ensino, contra mestre, que já é formação e em seguida mestre. O treinel é um tipo de aprendiz com um pouco de habilidade que ajuda nas atividades da aula de capoeira, é muito simples essa graduação na formação da Capoeira Angola", disse.

Capoeira: Dança ou Arte Marcial?

"Ela é tudo isso, a Capoeira na verdade é um grande complexo cultural, e desse grande complexo pode se retirar elementos representativos de tudo que você se interessar, capoeira é teatro, linguagem, artes cênicas, música, dança, luta, por ter também movimentos defensivos e de ataque, ela tem a sua natureza pugilística, a depender do interesse que a pessoa tem com a Capoeira, ela consegue encontrar elementos que dê conta, a Capoeira é dança e também é arte marcial", afirmou.

Normas e Regras da Capoeira

"Como a Capoeira é muito dinâmica, com muitas diferenças internas entre elas, algumas dessas regras, ou ritos, acontecem de forma diferente, por exemplo, na roda de capoeira existe uma ordem de utilizar os instrumentos, tem que seguir sempre aquela ordem, primeiro são os berimbaus, depois os pandeiros, em seguida o tambor, será sempre assim, não pode fazer diferente, portanto, se estabelece isso enquanto regra, a outra é o momento certo de cada um jogar, respeitar os mais velhos no ato do jogo, respeitar a hierarquia na Capoeira, a pessoa que está começando não pode desautorizar aquele que é mais antigo, um mestre, pois ele que conduz as coisas, o berimbau maior só pega para tocar as maiores autoridades daquela roda, portanto, há um conjunto de normas, estabelecidas e que são seguidas e constituem uma cultura do comportamento do capoeirista"

Ainda segundo Josivaldo, diferente do que muitos acreditam, a Capoeira não nasceu na África.

"O que definimos como capoeira na verdade, é um grande caldeirão cultural, a Capoeira não nasceu na África, o que do continente africano são os elementos que constituíram a Capoeira, por isso, chamamos de afro-brasileira, a prática da Capoeira tem desde o corpo, a gestualidade, musicalidade, linguagem, sonoridade e orquestra musical os elementos africanos, que são observados em determinada região da África Central e Banto, mais precisamente em Angola, esses elementos foram trazidos ou reinventados pelos africanos aqui no Brasil e se juntaram a outros existente por aqui, oriundos dos povos originários, por exemplo, elementos da cultura indígena e europeia, a Capoeira é na verdade uma grande reelaboração cultural de elementos predominantemente africanos somados também a outros saberes e formas culturais aqui existentes, a capoeira é uma prática cultural que se estruturou no Brasil no contexto da presença africana por conta do tráfico de escravos", contou.

Quem quiser conhecer o trabalho do mestre em Capoeira e historiador Josivaldo Pires de Oliveira, pode comparecer à Rua Campo Formoso, 740, na mesma rua do AABB (Associação Atlética Banco do Brasil), no Malungo Centro de Capoeira Angola, aulas as segundas e quintas, das 19 as 21h. Para maiores informações a respeito da história da capoeira, acessem o livro intitulado “Capoeira, Identidade e Gênero. 

Reportagem: Hely Beltrão