Um estudo realizado pela Dra. em Geografia, Alessandra Oliveira Teles apontou os impactos causados pelas requalificações realizadas pelo poder público de Feira de Santana no comércio informal. Aos ouvintes do Programa Levante a Voz e leitores do Conectado News, Alessandra detalha como ocorreu o processo de descentralização, quando comerciantes informais migraram do centro da cidade para os bairros, fortalecendo o comércio desses locais.
"Esse estudo começa com um trabalho para uma tese de doutorado, como trabalho na universidade desde 2010, resolvi durante o doutorado realizar esse estudo sobre o comércio informal em Feira de Santana. Já tínhamos percebido que bairros como Tomba, Cidade Nova e Sobradinho, já possuíam um comércio bem consolidado, as feiras desses bairros concentravam um número muito grande de pessoas, principalmente feirantes realizando comércio, a partir daí, começamos a ver que, com o projeto de requalificação do centro da cidade proposto pelo poder público municipal, muitas pessoas migram do centro para outros bairros, ao mesmo tempo, em outros locais como as Avenidas Fraga Maia, Ayrton Senna e Artêmia Pires, começam a se consolidar por conta das residências que se estabelecem nesses locais, ocorrendo uma atividade comercial muito intensa e essa intensidade leva ao desenvolvimento desse comércio. Quando esse comércio migra para os bairros, temos algo definido na geografia urbana como Formação de Sub Centros, ou seja, as pessoas deixam de frequentar a área central, e passam a consumir produtos e serviços em seus próprios bairros", disse.
CN - Quais os impactos desta descentralização?
Alessandra Teles - Por conta de todo o processo de requalificação, mudanças, criação do shopping popular, onde a ideia é reformar principalmente a Rua Sales Barbosa, quem não migra para os bairros, acabam procurando locais fixos no centro da cidade para se estabelecer, porque muitos tem uma clientela consolidada, essas pessoas procuraram lugares e terminaram não necessariamente se formalizando, porque a formalidade é algo maior, leva em consideração taxas, tributos, que não é necessariamente comércio de rua, a pessoa pode estar fixa em um estabelecimento, mas não estar pagando impostos, isso que caracterizamos como formalidade, por que dentro da informalidade temos uma série de seguimentos, pessoas que atuam no comércio de rua e ter seus impostos e sua situação em parte formalizada através do MEI (Micro Empreendedor Individual). O que percebemos é que o comércio de rua, aquele que você tinha uma pessoa com uma banca, com mercadoria circulando na rua, tende a diminuir drasticamente no centro de Feira de Santana.
CN - A descentralização do comércio é benéfica para a economia?
Alessandra Teles - Sim. Qual o benefício que se percebe? No momento que se tem esse processo de descentralização, a pessoa que reside naquele bairro passa a ter uma série de benefícios, vamos usa como exemplo o bairro Tomba, que não atende apenas o bairro, mas, toda a região, como Parque Panorama, Sergio Carneiro, Feira VII, as pessoas não precisam fazer um trajeto tão grande saindo desses locais para o centro da cidade quando precisam de uma lotérica, comprar um calçado, roupas, material de construção, ela tem a sua necessidade atendida ali mesmo, isso poupa tempo e recursos, é uma lógica que faz com que o comerciante tenha um atendimento local, o que definimos como desenvolvimento local, a economia girando naquele local, e nesse processo, ganha quem vende e quem compra.
CN - Quais as consequências dessa descentralização para o comerciante formal?
Alessandra Teles - Prejudica de certa forma, porque antes se tinha uma grande quantidade de pessoas circulando, essas pessoas estão num processo conhecido como Complementaridade. Quando o consumidor está passando e vê uma capa para celular na mão de um camelô que estava na frente da loja, ao mesmo tempo, ele pode virar a visão e ver uma roupa, um calçado, eletrodoméstico, e pode realizar a compra, quando isso deixa de acontecer, há uma queda nas vendas. Uma outra situação que aconteceu depois da pandemia, que veio para dificultar a vida do comerciante formal é o comércio eletrônico. A conclusão que chegamos é que as atividades comerciais são desenvolvidas no centro de Feira de Santana, precisam ser reinventadas, cada comerciante seja forma ou informal, precisa ter realmente uma visão empreendedora para que possa conseguir se consolidar e se manter nesse mercado.
CN - Tempo de duração e metodologia utilizada no estudo?
Alessandra Teles - O estudo começou em 2010, um pouco antes do doutorado, onde comecei um levantamento prévio. Como sou natural de Feira, sempre circulava pelo centro da cidade. Andei bastante pelo Centro de Abastecimento, Conselheiro Franco, Senhor dos Passos, Sales Barbosa, Marechal Deodoro, e aquilo me chamava atenção. Intensidade o centro da cidade sempre teve, porque quando pensamos outros municípios como Vitória da Conquista e Salvador, pensamos em comércio descentralizado, há o comércio pulverizado em vários outros locais, Feira de Santana sempre foi muito central, considerando os bairros do Tomba, Cidade Nova e Sobradinho, que foram os primeiros a ter essa intensidade. A partir daí, pensei em começar a estudar os impactos dessas sucessivas reorganizações, por que se levarmos em consideração, o Qualifica Feira não é o primeiro processo de requalificação que o poder público empreende, na década de 1970 o poder público municipal cria o Centro de Abastecimento e faz uma requalificação, reorganizando o centro da cidade, na década de 1990, é feita uma nova requalificação do centro ao criar o Feiraguay. Pode se dizer que O Qualifica Feira é uma terceira fase de requalificação. Na metodologia, utilizei a questão da observação, a pesquisa ação, aquela que vivenciamos, observamos, e conversamos de maneira informal, o que chamamos de entrevista semi estruturada com as pessoas que estão dispostas a falar, comerciantes e principalmente consumidores, pois é a clientela que dá o termômetro de como está esse comércio, e observamos se esse espaço se retrai ou se expande, assim chegamos à conclusão que temos uma mudança de eixo, com a reorganização desse espaço em Feira de Santana.
Reportagem: Luiz Santos
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