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"Preciso apresentar a minha pequena contribuição a sociedade", diz ex-jornalista da Globo ao lançar livro com temática política

O Candidato

30/08/2022 11h02 Atualizada há 3 anos
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Reprodução/ Internet
Reprodução/ Internet

O escritor e ex-jornalista da Rede Globo por 23 anos Rodrigo Alvarez lançou o livro de nome "O Candidato", uma obra de ficção baseada na temática da política atual. Em entrevista ao Conectado News, Rodrigo Alvarez contou um pouco sobre o seu livro, o que o motivou a escrever e sobre as mudanças ocorridas na sociedade atual.

"Estive recentemente em Salvador lançando o livro "O Candidato", um livro de ficção, mas uma ficção que fala muito do Brasil de hoje, por que é um personagem que volta no tempo, o Almeidinha. O personagem principal do livro é um redator de discursos que trabalha com políticos, tem envolvimento muito grande com a política mas não apoia nenhum partido e logo no começo do livro acontece algo mágico, misterioso que faz ele voltar a 1958, tempo em que o Brasil parecia que ia viver o momento de perfeição, o seu melhor momento da história, alguns livros relembram essa época com muita saudade e nostalgia ao chegar em 1958 ele descobre que realmente Brasil vai muito bem, o futebol brasileiro foi campeão do mundo pela primeira vez naquele ano, a Bossa Nova estava começando a ser conhecida mundialmente, o Brasil tinha campeão de mundial no tênis, no boxe, construção de Brasília, estradas pelo país inteiro, a economia ia bem, havia um grande otimismo no Brasil no fim dos anos 1950 chegando aos 60 e o personagem também vai descobrindo que apesar disso existiam os problemas que o Brasil tem hoje, então ele começa a ter um uma certa dúvida se o Brasil tá indo realmente bem ou se o Brasil tá indo para o mau caminho. Esse personagem descobre que tem uma missão: mudar a história do Brasil para evitar a ditadura militar que ele considera o pior período da história brasileira e evitar toda essa radicalização que estamos vivendo hoje. O personagem Almeidinha convive com Juscelino Kubitschek, com outros presidentes da época e depois o livro vem até o nosso tempo. Nesse livro a ficção faz um paralelo entre o que foi o Brasil de 1958 até 64 e o Brasil de hoje com toda a radicalização que estamos vendo de novo nessas eleições". 

CN - O que fez o radicalismo do passado se repetir nos dias atuais?

Rodrigo Alvarez- Somos uma democracia muito frágil, recente, o Brasil virou república há pouco mais de cem anos e nesse que vivemos de república já tivemos muitos golpes no Brasil, de tempos em tempos quando a classe dominante ou os políticos não estão satisfeitos com algum governo, eles derrubam, vimos recentemente dois impeachments, o do Collor e o da Dilma. Se voltarmos na história, o tempo todo tivemos golpe e alguns deles, militares. É um pouco cíclica a história do Brasil, por isso penso ser importante voltar no tempo e lembrar o que foi o Brasil, o que aconteceu, tivemos momentos de grande desenvolvimento e união nacional, mas logo aparece uma reação às mudanças, ao progresso, são forças que não querem mudanças, que querem manter a ordem social, conservar o que havia antes, não querem aceitar que a sociedade inclua os negros, os homossexuais as pessoas trans, que a sociedade discuta abertamente as questões da modernidade, o mundo está mudando e toda vez que há avanços no campo social, ele se reflete na política, isso aconteceu lá atrás e está acontecendo de novo, a grande mudança social que vem sendo feita com muito impulso na internet, as pessoas se libertando, tendo mais espaço na sociedade e Isso incomoda quem não quer que o mundo mude, quem quer preservar seus poderes, suas riquezas e seus espaços é um típico caso do homem branco dominante que quer continuar mandando na sociedade, não quer dar espaço as outras partes da sociedade que são igualmente relevantes. Toda vez que vem uma grande mudança, quando surgiu o rádio e a televisão tempos atrás e nos tempos atuais a internet, toda vez que há grandes mudanças não somente nas comunicações, mas na sociedade, há uma reação e estamos vivendo exatamente esse momento. 

CN - Porque decidiu lançar o livro nesse momento político?

Rodrigo Alvarez - O livro começou a ser escrito no final das eleições de 2018, escrevi alguns capítulos, mas percebi que precisava deixar a história correr um pouco mais para entender o que aconteceria nesse governo atual, a meu ver é um governo obscurantista, que lida com aquilo que há de ruim na sociedade, que provoca sentimentos ruins, o ódio, que nega as mudanças sociais, fui vendo isso acontecer ao longo desses 4 anos e senti que  ainda não era o momento de terminar de escrever o livro, precisava ver o que aconteceria com o Brasil.  Em março deste ano, decidi terminar o livro, porque preciso mostrar aquilo que tenho a dizer, apresentar a minha pequena contribuição a sociedade falando sobre o Brasil no momento em que o Brasil está se discutindo, é importante o livro ser publicado neste momento para contribuir mesmo que de uma maneira pequena, mas que para algumas pessoas um livro traz a literatura para dentro do debate político. 

CN- Nesse tempo de polarização, você teme retaliações com a publicação do livro?

Rodrigo Alvarez - A censura da ditadura militar foi terrível, a imprensa foi calada, tinha sensores dentro de cada órgão de comunicação, a censura de hoje não existe formalmente, mas sabemos que existe um uma censura oculta, por exemplo o presidente da República escolhe não se dirigir a certos veículos de imprensa, como fez no debate na Band atacar uma jornalista como fez com a Vera Magalhães de uma maneira muito violenta ainda que verbalmente, é um presidente que desde antes de ser eleito vem atacando a imprensa, isso é uma forma de tentar censurar, quantos jornalistas se calaram por causa dessas ameaças do presidente, de seus ministros, assessores e de sua militância, qual o impacto que isso tem? É claro que tem impacto, algumas pessoas não falam tão livremente o quanto falavam 4, 5 anos atrás, há uma forma de censura, por que existe um poder muito grande da presidência da República tentando amedrontar a imprensa. Não tenho medo do livro ser censurado, por que acredito que teria de ir à justiça como já aconteceu com outras obras, ao meu ver é uma causa ganha na justiça por que o livro é uma obra de expressão livre, não incita a violência, golpes, como fizeram empresários recentemente no WhatsApp querendo desrespeitar a Constituição, o que é um crime, no meu livro não tem crime, é um livro que fala do Brasil, que tem um personagem que vive a história do Brasil e isso faz as pessoas refletirem. O presidente Jair Bolsonaro (PL) depois que lancei o livro me bloqueou nas redes sociais dele, o que é isso senão uma forma de censura? 

CN - Qual a sua análise do atual momento político do Brasil em comparação a outros países do mundo?

Rodrigo Alvarez - Vivemos uma onda que aconteceu em várias partes do mundo, vimos com muita força nos Estados Unidos o movimento de Donald Trump que era também um movimento conservador, que reagia as mudanças na sociedade, com um negacionismo muito forte, a ideia de negar que a pandemia existia, que a COVID era realmente perigosa, que mataria tantas pessoas quanto acabou matando, todo esse movimento vemos em outros países, isso a meu ver se expandiu com a chegada da internet, atiçou uma multidão que ficava calada, que ganhou voz, os anônimos que hoje xingam e odeiam na internet sem medo de serem reprimidos, por que estão ocultos a frente do computador, a internet mudou o equilíbrio das forças políticas no mundo e deu voz ao conservadorismo, que não quer discutir todas as mudanças que o mundo vem vivendo, um conservadorismo que fica mais confortável com o mundo desigual como era antes. O Brasil é um dos países onde aconteceu mais fortemente, provavelmente porque é um dos países que mais usam internet, WhatsApp é recordista no Brasil o Brasil fica entre os que mais usam redes sociais no mundo, esse efeito de polarização tem muito a ver com algoritmo da internet que privilegia as notícias que as pessoas querem ouvir. Se você consome só o que quer ouvir, vai se radicalizando, a diversidade de ideias tornam-se um problema, eu sou de tal posição, ouço esse tipo de podcast, esse tipo de rádio, esse tipo de comentaristas, quando sabemos que é preciso a diversidade,  ouvir a esquerda e a direita para formar uma opinião sobre o que está acontecendo, não posso ouvir somente os radicais de um lado ou de outro. 

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão

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