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Saúde Medicina

"Quantidade não quer dizer qualidade", diz presidente do CREMEB, sobre o aumento do número de médico na Bahia

Em entrevista ao Levante a Voz

12/04/2024 09h39 Atualizada há 2 semanas
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
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Na segunda (8), publicamos dados do CFM (Conselho Federal de Medicina) que mostram um aumento de 74% no número de médicos formados na Bahia a partir de 2011. Em entrevista ao Programa Levante a Voz, da Rádio Sociedade News FM, concedida na manhã da quarta (10), o presidente do CREMEB (Conselho Regional de Medicina da Bahia) Dr. Otávio Marambaia, afirmou que quantidade não significa qualidade e mostrou preocupação com o aumento de faculdades de medicina no Estado.

"O aumento no número de médicos se deve a abertura indiscriminada de escolas médicas, na Bahia atualmente saímos de 2 para 33 faculdades de medicina. O número de médicos nunca determinou a qualidade da saúde pública, o médico sozinho não resolve os problemas, ter um número maior de médicos, um aumento de quase 100% em 10 anos, número que se fosse responsável por uma melhoria, estaríamos em outro nível,  outro detalhe muito importante, é a qualidade dos médicos que estão sendo formados, a maioria dessas faculdades são privadas, que não tem campo de estágio e corpo docente qualificado, o que resulta em um médico mal formado, um perigo para a sociedade". 

Para Marambaia, um médico mal formado é um perigo para a sociedade.

"Um presidente de uma associação de faculdades privadas, disse que a nossa preocupação é com a concorrência, mas, o médico bem formado não tem medo de concorrência com o médico mal formado, digo que sempre é possível o médico de qualidade encontrar trabalho e ter a sua renda mantida com a qualidade do seu trabalho, o que vemos acontecer e isso vai piorar, porque mais faculdades estão sendo projetadas para funcionar, já superamos alguns países de primeiro mundo em quantidade de médicos, porém, nesses países, médico tem carreira, contrato de trabalho adequado, condições adequadas de funcionamento onde trabalha, a diferença é gritante, quando se comenta apenas sobre o número de médicos em relação à população, esquecemos uma outra questão muito interessante, por exemplo, Salvador, concentra mais da metade dos médicos, já melhorou bastante no interior, mas a distribuição dos médicos por esse estado e pelo Brasil continua concentrada, ou seja, o nosso problema não é apenas a quantidade de médicos, mas a qualidade e a distribuição pelo território brasileiro e baiano.

Ao ser indagado sobre a preferência dos médico em permanecer nos grandes centros, o presidente do CREMEB disse que isto se dá devido a falta de segurança jurídica e a falta de pagamento, ao qual o médico utilizou o exemplo de Feira de Santana.

"Tenho viajado pelo interior da Bahia e percebo o interesse dos colegas de ir para o interior, o que não pode é o médico ir para uma cidade do interior trabalhar sem segurança alguma, ou seja, o contrato de trabalho do médico pode ser desfeito a qualquer momento, não é um contrato CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), não tem direito a férias, décimo terceiro, FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), ele é contratado pessoa jurídica, o prefeito contrata e depois não paga, já estive denunciando na Rádio Sociedade News, o que está acontecendo em Feira de Santana, o Ministério Público precisa dizer a sociedade quem são os donos dessas empresas, porque recebem o contrato do estado, não pagam os médicos e fica por isso mesmo. Feira é um dos locais com a maior concentração de médicos na região, por volta de 3 mil médicos, porém, sobre a estrutura, já fiz denúncias a respeito, a exemplo da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Parque Ipê, em que os médicos ficaram 8 meses sem receber salário, sei que não está regularizado, melhorou a situação, mas continua atrasando, isso em Feira de Santana, a segunda maior cidade do estado. Como o médico vai trabalhar e levar sua família para uma cidade do interior onde o hospital não tem equipamento, condições e vai ter um contrato de trabalho que ele não tem a certeza de receber? Qual é o profissional que aceitaria isso? Nenhum. Não sei como é que as pessoas acham que o médico não tem necessidade, não precisa pagar o aluguel, financiamento do seu imóvel ou carro, a escola do filho, as contas do supermercado, parece que o médico nasce com tudo isso pronto, ele recebe isso. Não. Ele é um trabalhador, tem que receber o seu salário e tem que ter segurança jurídica. 

Para Marambaia, os gestores públicos não tem interesse em resolver o problema da saúde no Brasil.

"Entra e sai governo e oferecem à população brasileira uma saúde de segunda categoria, quando trouxeram os estrangeiros para cá, a maioria deles não tinha a qualificação mínima, expuseram a população a profissionais desqualificados, os governos sucessivamente não tem interesse em resolver o problema da saúde pública do Brasil, não tenho nenhuma nenhuma dificuldade de dizer isso, porque há décadas venho trabalhando como médico e no movimento médico, a percepção que temos é que a saúde para os nossos gestores é apenas construir obras, do tipo fiz um posto, um hospital, mas, não estão preocupados com o que vai acontecer lá dentro, estão preocupados apenas em exibir a obra, o povo vai sofrer por falta de médico, enfermeiro e por falta de insumos, essa é a realidade do Brasil". 

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão

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