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Polícia Caso Hyara Flor

Caso Hyara Flor: "O nosso maior problema são as fake news", diz entidade que representa os ciganos na Bahia

Terça (25)

25/07/2023 20h02 Atualizada há 2 anos
Por: Hely Beltrão Fonte: Conectado News
Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

O caso da cigana Hyara Flor, 14 anos, assassinada com um tiro no queixo no dia 06 de julho, ainda continua sem desfecho, pois não há informações concretas a respeito do paradeiro do principal suspeito, o  marido da vítima, que possui a mesma idade de Hyara. No dia 15 de julho, Hyago, pai da vítima, utilizou as redes sociais e fez um apelo ao secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, pedindo celeridade nas investigações.

Em entrevista ao Conectado News, o Cigano Rogério Ribeiro, diretor da Organização Cultural e Desenvolvimento Social dos Povos Ciganos do Brasil, comentou a respeito do caso e disse que o maior problema com relação ao caso são as fake news, inclusive afirmando que a notícia que o pai da vítima estava oferecendo o valor de R$ 300 mil reais por informações que levassem ao paradeiro do  genro, era falsa.

"Este crime abalou a comunidade de Guaratinga na Bahia, comoveu a muitos, é comum a nós ciganos quando existem essas intrigas não nos meter, mais um caso desse não poderíamos ficar de braços cruzados, nós como instituição e liderança, pedimos justiça, que os culpados sejam presos e ouvidos, para entendermos esse crime tão cruel que abateu o povo cigano, os suspeitos  estão foragidos, o marido de 14 anos, são muitas informações, infelizmente a questão do fake news é um problema sério, as pessoas acabam divulgando notícias falsas, uma das invenções foi que o pai da menina estaria pagando R$ 300 mil reais e viralizou na Bahia no início do acontecimento, instaurou-se uma caça parecendo Lampião, inclusive chamar atenção do Hyago, pai da menina, porque não tem condições de ficar oferecendo dinheiro, incentivando, nossa preocupação foi no sentido de pessoas fazerem justiça por conta própria na Bahia. Nós acreditamos na polícia, a imprensa também está fazendo uma grande pressão para que os encontre e se esclareça este terrível crime que abalou o município de Guaratinga", disse.

Rogério disse que não teve contato com o acusado, mas fez um apelo para que ele se entregue.

"Com os acusados não tivemos contato, até pela situação em que eles se encontram, a preocupação, medo, entendemos, respeitamos os dois lados, conversei com o pai da menina, que está muito abalado com essa situação, fazemos um apelo ao Amorim, que é pai do filho do Amadeu e a própria Janaína a esposa, para que se entreguem, porque não adianta fugir da justiça, se apresentem para esclarecer e amenizar o sofrimento não só do pai da menina, mas de todos, porque gerou uma comoção nacional, vários veículos de imprensa de circulação nacional noticiaram. Há muitos comentários, que comprou um chicote deram chicotada, que o tiro foi acidental, mas o que sabemos é que o tiro foi no queixo acerca de 20 cm do rosto da Hyara segundo a perícia, questão de adultério, briga de casal, muitos boatos, muitas coisas que precisa esclarecer, o Amorim é quem deve falar isso, os filhos dele que estavam lá que precisam explicar para a sociedade. Já vai fazer 20 dias, foi dia 6, fazemos esse apelo para que se entregue para acabar com essa agonia, acredito sim que alguém pode estar dando apoio, na minha visão, acredito que deve estar em um sítio ou chácara, não está na cidade, por causa da repercussão, eles passaram em São Mateus no Espírito Santo, em Vitória na capital, alguns ciganos não deram apoio porque não aceitam esse tipo de coisa e não querem se envolver", afirmou.

o diretor da entidade não negou a tradição cigana de resolver as questões pela vingança, mas afirmou que essa cultura tem mudado com o passar do tempo.

"Isso é lamentável, não tem como esconder isso, a Bahia é um estado muito forte nessa questão de vinganças, na internet há muitos registros desta situação de vingança entre famílias, que começou na família Dantas, bem lá atrás e se expandiu, poucos ciganos no sistema penitenciário, a maioria dos casos é briga entre famílias. A Pastoral dos Nômades vem fazendo um trabalho muito forte, algumas associações também, vem fazendo um trabalho muito sério de conscientização, melhorou muito, era bem pior essa situação de vingança, é uma coisa cultural, perversa, mas estamos trabalhando essa situação, amadurecendo, porque 70% do nosso povo é analfabeto. Se puxarmos na internet, encontraremos o relato de muitas brigas, no estado da Bahia é crônico a questão das brigas entre família, mas não deveria ser assim, a cultura, o esclarecimento, educação do dia a dia, acredito que estamos mudando um pouco essa cultura", disse. 

Ao ser questionado a respeito do casamento entre dois adolescentes de 14 anos, Rogério afirmou que se trata apenas de uma questão cultural, para proteção dos jovens e da cultura cigana.

"Isso não é tão preocupante porque a questão dos ciganos é família, proteção, não queremos infringir a lei, é uma coisa cultural do nosso povo cigano, da proteção de uma família junto com a outra, já faz um acordo para quando tiver na idade entre12 a 14 anos e acham que podem se juntar, quem decide é o casal, os dois se casam e fica numa casa, sob a proteção dos pais na questão do bem-estar de dar uma casa, um conforto, alimentos, na cabeça nossa é a proteção para evitar de se envolver com pessoas não ciganas, na questão da tradição, mas infelizmente está acontecendo, cigano casando com não cigano e se contaminando, fugindo do padrão da nossa realidade e aprendendo coisas que não devem, na internet vemos tudo isso aí. O casamento é uma questão de proteção, cultural, muita gente acha estranho casar com 12 ou 13 anos, mas tem gente que casa com 23 e não dá certo, uma bagunça total, em nosso caso é uma questão de proteção, para que os dois possam caminhar desde cedo juntos e ter as famílias sempre do lado, na Bahia tem a cultura de acampamento, mas se observarmos que tem ruas no estado da Bahia que chama rua dos Ciganos, eles casam e moram um próximos dos outros, a proximidade também é uma forma de não se misturar com não cigano para preservar a nossa cultura", concluiu.

Reportagem: Luiz Santos e Hely Beltrão

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