Aconteceu no dia 25 de maio no Palácio do Itamaraty em Brasília -DF, um almoço oferecido pelo governo brasileiro para marcar o Dia da África e também o encerramento do seminário "Brasil-África: relançando parcerias".
O evento contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da primeira dama Janja Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Anielle Franco (Igualdade Racial), Marina Silva (Meio Ambiente), Margareth Menezes (Cultura), Carlos Fávaro (Agricultura), do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, e do secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberger Barbosa, além de parlamentares, e dos embaixadores e encarregados de negócios de países africanos que participaram do seminário.
Também esteve presente no evento, a feirense Karine de Souza Silva, Doutora e Mestre em Direito e Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina. Em entrevista ao Conectado News, Karine comentou sobre a importância do evento.
"Para nós que somos negros, é um dia muito importante, porque é o dia que se celebra a libertação da África instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela União Africana, organização internacional que integra estados do continente africano e representa a defesa emancipação da África e uma vitória por conta das lutas de libertação nacional. A África foi um continente explorado e invadido pelos europeus, por isso, é uma data importante para refletir a contribuição do continente africano para o mundo, para a história e também reconhecendo a importância da cultura e da história africana, do povo africano para a construção do nosso país, é uma data muito festejada pelo povo africano, e aqui no Brasil, que tem uma população predominantemente africana, é uma forma de reforçarmos a importância da nossa identidade negra, e também conhecer o povo africano e de mostrar a importância dessa população para a construção do país, tanto de forma política, econômica e social. É importante celebrar esse dia de resistência, mostrar uma África muito além dessa ideia de escravidão, mostrar o protagonismo dos povos africanos contra a objetificação, escravidão ou protagonismo político que os povos africanos sempre tiveram desde que chegaram em nosso país", disse.
Karine detalhou seu início de carreira, sua relação e importância que Feira de Santana tem para a sua formação acadêmica.
"Iniciei minha formação básica em Feira de Santana, agradeço as minhas professoras, a minha mãe também que é professora, pelas oportunidades que tive de formação em Feira, estou em Santa Catarina há 25 anos, mas estudei em Feira, também estudei em Salvador, sempre tive vocação para docência, enquanto professora minha área de formação é o direito, trabalho com direito e relações internacionais, meu irmão trabalha na Caixa Econômica Federal e também é professor em Feira, à docência sempre esteve comigo e como diz Gilberto Gil, na música “Aquele Abraço”: “A Bahia já me deu régua e compasso”. Por meio da docência, acabei internacionalizando a minha carreira, fiz pós-doutorado na Bélgica, sou professora convidada de várias universidades internacionais, como nos Estados Unidos, europeias e também no continente africano, atuei no comitê de transição do governo Lula na pasta de Relações Exteriores, formado por especialistas na área de política externa e se dedicou a estabelecer as agenda prioritárias do governo. Carrego Feira de Santana, sempre comigo, sou do bairro Serraria Brasil, as pessoas que estiveram comigo durante toda a minha trajetória, amigos e amigas que tenho, a minha família foram todos daí, eu saí de Feira, mas ela continua comigo, são pessoas que marcaram a minha existência, aprendi muito e é por Feira de Santana também que tenho esse ativismo com relação à justiça racial e de gênero, Feira é um município que tem uma população negra muito grande, a minha militância e trajetória, sempre esteve comprometida com os direitos humanos, justiça social e racial, e é por Feira, pela Bahia e pelas pessoas que estiveram e continuam comigo na minha trajetória e pelas pessoas que virão, a minha militância é comprometida com a transformação do mundo por meio da educação e a promoção da justiça racial, social e de gênero", contou.
No âmbito das relações internacionais, Karine comentou sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e os interesses brasileiros no conflito.
"É considerado um dos temas principais que estão sendo pontuados nos meios de comunicação, o Brasil tem o interesse tentar pacificar esse conflito, que tem a ver com questões econômicas, políticas, recursos naturais e pacificação da Europa, mas também é importante observar que existem outros conflitos que estão acontecendo no mundo hoje, onde temos uma geopolítica bastante marcada por várias guerras, há um tabuleiro de negociações, é um jogo bastante complicado entre povos irmãos, mas, observamos que esse conflito tem a ver com disputas econômicas e geopolíticas naquela área, e isso acabou atraindo a atenção dos principais polos protagonistas da cena internacional, como Estados Unidos e Europa, é um conflito que desestabiliza a Europa. Nós que trabalhamos com a área de imigração, observamos que os imigrantes, pessoas em situação de refúgio, que queriam sair daquela região, que queria uma acolhida igual as outras pessoas brancas, essas pessoas tiveram muita dificuldade, precisamos também lembrar como essa hierarquias de raça perpassam esses conflitos, o que gera muita migração, das pessoas que estão ali, o Brasil tem aberto as portas para recepção de imigrantes da Ucrânia, é importante que outras potências do mundo tratem da mesma forma os refugiados negros que vivem, moram ou que nasceram nessa região, promovendo os direitos humanos dessas pessoas", afirmou.
Ao ser indagada sobre as declarações do presidente Lula durante a visita do presidente venezuelano Nicolás Maduro ao Brasil, Karine disse que não fala em nome do governo brasileiro, mas que é necessário o reestabelecimento de relações com o pais vizinho.
"Outro tema dificil, porque o governo anterior, por ter uma posição de concreto isolacionismo internacional, acabou se afastando da Venezuela, país da nossa região, importante para geopolítica brasileira. É necessário observar que a saída do Brasil, a falta de contato com a Venezuela, fez com que a nossa região se transformasse em um campo de discurso entre Estados Unidos, Rússia e China, me parece que o jogo desempenhado pelo presidente Lula é uma aproximação com a Venezuela e o respeito ao artigo quarto da Constituição, que é a não interferência em assuntos internos. O que o Lula precisa fazer é respeitar essas normas internacionais sobre o que acontece dentro da Venezuela, o problema é que a narrativa que circulam são elaboradas por pessoas que não conhecem a fundo o que está acontecendo na Venezuela, concluiu.
Reportagem: Luiz Santos
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