Nos últimos dias, uma polêmica floresceu no jardim da música brasileira. Toni Garrido, cantor de voz marcante e alma inquieta, decidiu mudar um verso da canção Girassol, sucesso que há mais de vinte anos ilumina corações. Ele trocou “a grandeza de um menino” por “a grandeza de uma menina, de uma mulher”. E bastou um verso para dividir o país.
Uns aplaudiram. Outros torceram o nariz. E eu fiquei pensando: será que é errado revisitar o passado com novos olhos? A arte, afinal, é um espelho do tempo. O que parecia inocente em 1999 pode soar desconfortável em 2025. A sociedade muda, as palavras ganham outros pesos, e até o amor pede revisão. Talvez Toni tenha feito o que muitos de nós evitamos: voltar ao que dissemos e admitir “hoje, eu já não penso mais assim”.
Mas há também o outro lado. Uma música é feita de muitas mãos, e mudar uma palavra sem combinar pode soar como puxar uma pétala do girassol sem avisar ao jardim. A arte é viva, sim, mas também é memória coletiva. E quando se mexe numa lembrança, é bom fazer isso com carinho, porque há quem ainda dance com a versão antiga.
Eu, particularmente, não vejo machismo em dizer que pra ser homem é preciso ter a grandeza de um menino. Sempre li esse verso como um convite à pureza, à doçura, à leveza que o tempo endurece. Mas entendo o gesto de Toni. Talvez ele só tenha querido dizer que as mulheres também têm grandeza e têm mesmo.
O que me encanta nessa história é perceber que estamos aprendendo a olhar pro mundo com mais cuidado. A discutir palavras, a questionar letras, a revisar discursos. Não pra apagar o passado, mas pra iluminar o presente.
E se a música é sobre girassóis, talvez o recado seja esse: o importante é continuar virando o rosto pro sol, mesmo que o ângulo mude com o tempo.
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