Alguns chamam de seresta acelerada, outros, sofrência. Em entrevista ao Programa Levante a Voz da Rádio Sociedade News FM, Jailton Barbosa, músico criador da banda Asas Livres e considerado o pai do Arrocha, com 37 anos de carreira, nada disso é verdade. Jailton conta um pouco sobre a história de 23 anos de sucesso da banda, que atualmente é composta por Jailton, Cleyton Lima e Dan Matos.
"Em 1986, devido à concorrência, montei essa banda com meus irmãos, era uma banda de Axé, e naquele ano concorria com artistas como Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, entre outros. Antes o nome da Banda era Pérola Negra e mudei para Asas Livres em 1988, ou seja, o Asas Livres surgiu como uma banda de Axé, depois migrou para Seresta e depois, tive a ideia de mudar. Quando a Banda era de Axé, concorríamos com Bel e Ivete, na Seresta, Violão de Ouro, Diógenes, Fred Dantas, Maura Reis, nisso pensei: Tenho que ser igual a esses músicos, porém, diferente, foi quando tive a ideia de criar algo diferenciado para que eu conseguisse me destacar, foi quando tive a felicidade de observar, mudar o ritmo, como era Seresta e tocava tudo, comecei a observar as músicas, o Sertanejo estava muito forte nessa época, outros grupos como o Raça Negra que estava bem, o KLB e nisso fui me inspirando a fazer algo diferente. Em São Francisco do Conde, minha cidade, comecei olhando a galera dançando, com uma sensualidade bacana, daí pensei: tenho que criar alguma coisa que tenha música e dança. Nisso, me mudei para Candeias, comecei a tocar no Mercado Popular em Candeias", disse.
Cachê início de carreira
"Digamos que nessa época era R$ 100 dividido para dois, tocava quatro vezes na semana, eu tinha R$ 200 garantido, com esse dinheiro fazia a minha feira, outras despesas, combustível para ir e no final das contas, não sei se sobrava R$20 reais."
Dan Matos
"Passei a integrar a banda no final de 2019 a convite de Jailton, mas já insistia para entrar na banda que não era dele, mas, do empresário que estava com ele na época. Sou natural de Irecê, mas morei em Brasília por sete anos, depois voltei para a Bahia em 2003, por fora do que estava acontecendo, cheguei e ouvi este CD dele tocando. Passaram-se os anos e a paixão pelo ritmo e pelas músicas foi só crescendo, até que em 2007 comecei a cantar em pequenas bandas, criei experiência e no tempo certo Jai me convidou".
O radialista Marcelo Fernandes explica essa mudança do vocalista do Asas Livres de São Francisco do Conde para Candeia.
"Jai mudou de São Francisco do Conde para Candeias, por lá ficou conhecido como o celeiro do Arrocha, todos os cantores de Arrocha que surgiram a partir do Asas Livres em diante gravavam no estúdio de Pereira, depois, em Ademir, era quem fazia as gravações e deixava com uma qualidade fora do comum e jogava na pirataria, responsável por difundir as bandas, fazendo com que as rádios começassem a tocar. Tocava tanto no meio pirata que as rádios se viram obrigadas a tocar, porque a música é boa, antigamente as gravadoras mandavam de vinil a CDs para as rádios, com o advento da pirataria, isso ficou mais fácil, estourava na rua, a rádio tinha que tocar, ninguem dependia mais de gravadora, nem de pedir para tocar nas rádios. Com isso, começaram a surgir as parcerias, quando começava a tocar demais na rádio, as rádios começaram a fazer parceria, chamando para tocar", comentou.
Jai conta sobre os bastidores da apresentação no Domingão do Faustão.
"Quando recebemos o convite já existiam várias bandas, então cada um queria aproveitar a melhor oportunidade, mas ficou uma coisa indefinida, porque cada um falava uma coisa e ninguém se preocupou, conseguiu se entender e dizer realmente como a coisa aconteceu, um disse que o ritmo é bolero com dendê, sendo sincero, neste momento, estava nos bastidores", disse.
CN - Você se considera o pai do Arrocha?
"Com certeza, porque existe uma criação, o criador, quem antes de mim? Esse ritmo foi algo que criei, não tem nada a ver com seresta acelerada, que difere do Arrocha. Eu tive a felicidade de encontrar Pablo, que foi um show meu, o menino que era tecladista e tocava com ele “me deu” ele, dizendo: estou indo embora para o Rio de Janeiro, deixa ele aí com você, tome conta, esse menino canta muito. Peguei, levei para casa, saí sem filho e voltei com um. A partir daí, consegui fazer o ritmo e pronto. Quem tem uma história antes, uma explicação para a criação do Arrocha? Qual foi a primeira banda de Arrocha? O que tem antes de mim? O sucesso veio naturalmente, pé na estrada, tocando, apareceram oportunidades para entrar em festas grandes e daí por diante que começamos a chegar em nosso objetivo, quando estouramos com o primeiro CD, que foi o “Boa Noite Aracaju”, que deveria ser “Boa Noite Candeias”, Boa noite Aracaju foi só história para dizer que estava mais longe. Foi tudo criação minha", afirmou.
História do Nome da Banda
"Quando fiz a mudança do nome Pérola Negra, pesou um pouco na época, nessa época era um pouco pesado. O nome Pérola Negra alimenta algo que já existe, eu negão com o nome da Banda Pérola Negra, pelo amor de Deus, nós mesmos estávamos alimentando um preconceito, vamos acabar com isso. Durante as conversas para troca de nome da banda, meu primo apareceu, quando chegou perto, brincou e virou as costas e tinha escrito na camisa dele, Asas Livres. Pensei na mesma hora: nome bom, porque estamos saindo de preconceito, história de racismo rumo a liberdade. Tivemos a ideia, de uma pomba com a asa aberta com as correntes quebradas no pé, representando a liberdade", contou.
Jai conta sobre a nova fase do Asas e explica a diferença do Arrocha para a Sofrência
Durante esse período tivemos algumas mudanças, inclusive tentaram até emplacar a sofrência. Mas o que é a sofrência? Não existe. Existe o Arrocha, porque assim foi batizado, porque um dos cantores que passou pela banda e Pablo deu continuidade, que dizia durante os shows, Arrocha Arrocha! A sofrência que muitos dizem, é o estado que você fica escutando Arrocha e sofrendo, sofrência de sofrer, de saudade. Tentaram emplacar, mas não deu certo, porque a sofrência não é ritmo. Com o passar do tempo, foram surgindo outras bandas, cada um foi seguindo um estilo diferente do Asas Livres, mais acelerado, misturado com Seresta ou Arrocha com pagode, mas, o romantismo do Asas Livres continuou. Com o passar do tempo, foram necessárias mudanças, atualizar, por isso, vim com trabalhos diferentes e não deu certo. Mas agora, com o passar do tempo, tive que resgatar de novo toda a minha raiz, que dura até hoje e as pessoas gostam mais das músicas antigas do Asas, do que as atuais, a música mais atual da banda que estourou foi do CD Livres em 2013 e 2014, mas as pessoas gostam de relembrar do Asas Livres daquela época, por que deveria sair e deixar de fazer o que as pessoas querem ouvir, o que as pessoas pedem? Por isso passei um tempo meio sumido, por conta dessa transição, acompanhar o mercado deixou um pouco de lado minha raiz. No trabalho novo voltei as minhas raízes, o romantismo, que tem muita gente tocando o ritmo do Asas Livres, fiz com muito carinho, porque é um trabalho romântico, resgata a raiz da banda, músicas que tocam o coração como era antes, e graças a Deus, tudo certo", disse.
Jai conclui, dizendo que tem um grande carinho por Feira de Santana.
"Candeias onde começou, é o berço, a terra mãe, mas, um dos maiores shows que fiz em minha vida no início foi aqui em Feira. Quando tocamos aqui na Estação da Música, Pablo e eu, foi o show que mais marcou a minha carreira", concluiu.
Ouça na íntegra em nosso podcast.
Reportagem: Luiz Santos
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