Na grande maioria das vezes quando uma música faz muito sucesso e se imortaliza em nossas mentes e coração, atribuímos o feito ao intérprete e esquecemos da peça mais importante: o compositor.
O Conectado News entrevistou neste sábado (17), o músico e compositor Reinaldo Barbosa, que compôs em conjunto com Luiz Caldas, muitos sucessos, alguns deles indicados ao Grammy Latino, Virgílio do Forró, Chiclete com Banana, Trio Nordestino, Adelmário Coelho, Banda Rouxinol entre outros. Reynaldo conta sobre seu início de carreira, dificuldades enfrentadas durante a pandemia e sua agenda de shows.
"Sou cantor e compositor, mas foi uns três anos antes da pandemia foi que eu comecei a me virar para cantar e buscar o pão de cada dia. Sou natural de São Felipe e vim para Salvador com 17 anos, comecei a trabalhar na construção civil, depois fui para um posto de gasolina quando completei 18 anos, e lá conheci muita gente boa da música, inclusive Luiz Caldas, que é meu amigo até hoje, daí então eu tive a convicção que eu gostava de música, já vinha do interior com algumas composições, mas nada profissional. Cheguei a conhecer Bell Marques, Daniela Mercury, Margarete Menezes, isso como frentista no posto de gasolina. Sempre tive a vontade de ter uma música minha gravada e meu nome no disco de alguém, então, dava aquelas fitas cassete para as pessoas que passavam, Luiz Caldas abastecia seus três carros no posto onde eu trabalhava, fez amizade comigo, batíamos papo, eu dava a fita para ele. Em um belo dia,
Reynaldo conta em detalhes, como tudo começou a mudar em sua vida, quando Luiz Caldas o chamou para ir a sua residência.
"Luiz Caldas me disse: rapaz você vai sair que horas? Eu disse: as 14hs. Ele disse: Passe lá em casa para eu te mostrar um negócio. Me deu uma tremedeira forte, que pensei: meu Deus, na casa de Luiz Caldas, não é normal, isso é coisa divina. Ao sair do trabalho, falei com os colegas e eles me disseram que as fitas que eu dei, ele tinha jogado todas fora, que ele não escutava a música de ninguém. Quando cheguei lá, fui bem recebido, ele me chamou e disse: sabe aquelas fitas que você me deu? Estão todas aqui. Pegou uma pilha de 15 fitas na estante, e disse: você será um dos grandes compositores dessa terra, mas você precisa aprender só uma coisa. Ele sentou em um dos pianos que ele tem e começou a tocar, e me disse: Música é assim, tem princípio, meio e fim, as suas músicas tem uma ideia muito boa, mas você não está concluindo da forma que certa. Quando saí de lá mudei da água para o vinho, ao chegar em casa, comecei a compor bastante", contou.
Generosidade de Luiz Caldas
"Tempos depois, ele chegou no posto e mostrei uma música para ele e disse: Olha Luiz, fiz um forró, um arrasta-pé, escute isso aí. Isso aconteceu há cerca de 30 anos. Passei a compor bastante por entendi o que era composição. Meses depois, antes do São João, gravei uma música e mostrei para Luiz Caldas que disse: rapaz, essa música é muito linda, só que a minha música de trabalho de São João já está tocando, mas farei uma coisa para você, vou no estúdio fazer o arranjo dessa música e você vai botar a voz para ver como é que fica. A generosidade de Luiz me deixou sem palavras. Ele foi para o estúdio e pagou tudo, naquela época para gravar uma música se compararmos com os dias atuais custaria por volta de R$ 5 mil reais, porque você passava três dias no estúdio para gravar a música naquelas fitas dat, os músicos tinham que ir para o estúdio, não é como hoje que uma pessoa só grava tudo. Ele me levou para o Estúdio Verde na Ondina, estúdio muito famoso, e eu só pensava: como é que eu vou pagar esse negócio? Cheguei para ele e disse: Luiz, não tenho condição de pagar isso. Ele me respondeu: Fique frio, você é meu irmão, você é meu brother. Daí começamos a gravar, e a música saiu linda".
As composições de Reynaldo Barbosa começam a chamar atenção de outros músicos
"Outro amigo chamado John Leon gravou uma música minha “Saudade Quando Bate Dói” e chamou Virgílio para botar voz com ele nessa música. Virgílio gostou da música e me ligou, nisso já estava trabalhando em um posto de Feira de Santana, daqui a pouco recebo uma ligação dele me pedindo para usá-la. Isso para mim, foi uma maravilha, porque sabia que meu nome iria para o disco dele. A música foi a quarta mais tocada, concorrendo com outros estilos. Com isso, tomei gosto, no ano seguinte, Virgílio pediu outra música, uma que falasse de amor. Nisso, compus a música, “Vou Procurar o Meu Amor”, que também foi uma das músicas mais tocadas no São João".
Composição para a Banda Chiclete com Banana
"Passei a compor com outros parceiros, como Paulo Prata, que compôs comigo uma música do Chiclete com Banana “Eu Quero Esse Amor”, que também fez bastante sucesso, e nos colocou em evidência para a mídia, nos tornamos compositores de verdade".
Encontro com Carlinhos Brown
"De lá para cá, Luiz Caldas me disse: olha, você é um dos grandes compositores que conheço e será mais ainda. Um dia ele estava com Carlinhos Brown na casa dele, e Luiz chegou e disse: aqui é um grande irmão meu e é um dos maiores compositores que eu conheço vai ser um dos melhores, tão bom quanto nós dois. Fiquei com vergonha, e disse: Não fala um negócio desse não. Luiz me disse: você não sabe o potencial que você tem de composição. De tempos em tempos, Luiz Caldas sempre me liga e diz: Reynaldo estou com uma ideia, vem aqui pra gente terminar uma música, senão, faça alguma coisa falando de alguma coisa, faça aí e mande para mim que eu termino. Tenho em média 13 músicas em parceria com Luiz Caldas que concorreram ao Grammy Latino. Gravei um CD com um apanhado de músicas minhas que foram gravadas pelo Trio Nordestino, Adelmário Coelho, Virgílio, Banda Rouxinol, entre outros, fiz um trabalho maravilhoso, um CD acima da média", disse.
Dificuldades enfrentadas durante a pandemia
"Veio a pandemia, tirou todo o brilho do CD, viajando pelo mundo, shows cancelados, mas então, durante a pandemia, fiz muita coisa com Luiz Caldas, uma média de oito músicas, cinco entraram no trabalho dele, porque ele grava mensalmente.
Reynaldo finalizou, falando sobre sua agenda para o São João, que tem esperança de dias melhores, pois ainda não consegue viver da música, e espera que o prefeito de sua cidade natal São Felipe o contrate.
"Tenho agenda em Feira de Santana, Sapeaçu, vizinha a minha terra São Felipe, somos vizinhos, Sapeaçu Conceição do Almeida, Santo Antônio Jesus, minhas músicas tocam ali, faço um trabalho maravilhoso estudei naquela região. Preciso que as pessoas conheçam nosso trabalho, não é justo por exemplo, fazer um trabalho de forró maravilhoso e chegar em uma praça todo mundo cantando a minha música, mas não me conhece, isso é frustrante, não é bom. Espero que o prefeito de São Felipe tenha essa consciência de me contratar, até o momento não contratou. Estão faltando menos de oito dias para o São João, mas não me deu um toque final, tomara que ele tenha consciência e contrate um artista da terra, porque meu trabalho é autêntico, de raiz, e precisamos nos apresentar em nossa terra. Agradeço a Diogo Medrado, que me contratou para tocar no Pelourinho em Salvador, fiquei muito feliz com isso, mas ainda não é uma agenda que dá para viver da música, pagar as contas e os músicos, pois são quatro shows que estão em vista, mas o pouco com Deus é muito, tudo tem seu tempo, mas já venho com uma estrada muito larga e longa, ano que vem tenham certeza que virão músicas para emocionar todo mundo, desistir jamais, será o título da próxima música", concluiu.
Conheça um pouco mais sobre o trabalho de Reynaldo Barbosa nos vídeos abaixo.
Reportagem: Hely Beltrão
Mín. 17° Máx. 25°
Mín. 17° Máx. 25°
Chuvas esparsasMín. 17° Máx. 24°
Chuvas esparsas