Hoje, sábado, dia 07 de novembro, também é dia de Filhos e filhas da resistência. Nosso personagem da vida real é Ronaldo Mendes, advogado, que aos 44 anos de idade, tem muito conhecimento a compartilhar conosco. Acompanhem essa inspiradora história!
“Sou graduado pela UEFS (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) e com mestrado em Planejamento Ambiental, pela UCSAL (UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR). Casado com Susana Mendes, pai de 03 filhas: Isa, Maria Eduarda e Marina e a maior riqueza que posso guardar das experiências de vida são os amigos, que são muitos, que fiz nesta experiência, sobretudo, a partir da convivência com os irmãos dos Capuchinhos, quando assistia às terças-feiras e fazia os comentários nas missas que eram transmitidas, como ainda são, pela Rádio Sociedade. E ali pude fazer uma escola, de entender que nossa maior possibilidade na vida é aprender a servir às pessoas, ser amigo das pessoas, usar a amizade todos os dias, todos os momentos, pra suportar as intempéries, como temos agora em 2020 a experiência terrível do Coronavírus, onde pessoas morrem, adoecem e, às vezes, nem podemos visitar, nem podemos dar um abraço. E essa amizade que construímos ao longo da vida é o que nos faz sentir que vale a pena cada dia ser vivido com intensidade.”
Ronaldo contou ao Conectado News um pouco da sua trajetória: “eu tive a graça de Deus de ter sido criado numa família simples, humilde, ali na rua da Saudade, no bairro da Serraria Brasil, onde tive grandes experiências com os vizinhos, que eram pessoas boas, amigas, e ali nós construímos uma comunidade católica, que é hoje a igreja Nossa Senhora do Carmo. E a partir dos 14 anos, eu sempre ia à missa nos Capuchinhos, ia a pé, voltava a pé, não tinha carro, mas nesse caminho comecei a fazer amizade com as pessoas, as amizades foram se fortalecendo e eu fui criado naquele ambiente de fé, naquele ambiente de pessoas que buscaram conquistar as coisas a partir da fé. E hoje, adulto, eu olho para trás e vejo tantas pessoas daquele bairro onde eu nasci e me criei, que continuam lá e continuam me acompanhando na amizade adulta, por exemplo a Professora Vera da UEFS, mãe de Rendel e Adriano, ambos meus colegas de infância, e Dona Vera me acompanha hoje na rede social, é uma pessoa maravilhosa, irmã da ex-secretária Lúcia Miranda, para ter referência que as pessoas existem, portanto, são reais. Ela e outras pessoas que, lá na origem, conseguiram crescer e se destacar na sociedade. E como é que eu cheguei ao Direito? Fui servido da Justiça, fiz concurso no ano de 2000 para o TJ-BA, assumi esse concurso lá em Salvador, no Juizado Especial da Federação e me inquietei pra voltar pra Feira, queria muito voltar pra Feira. O concurso só podia ser removido a partir de 02 anos e pra Feira seria muito difícil, mas alguém me soprou, inspiração divina, que o Padre Gaspar Sadoc (falecido recentemente) tinha muito prestígio na Bahia e muita amizade com o Senador ACM e eu articulei, na minha mente, que se eu pedisse ao Padre Sadoc que ele pedisse a ACM, isso seria resolvido. Chegando lá o padre falou ‘mas menino, uma coisa simples dessa, vou incomodar o Senador? Não, de jeito nenhum! E escreveu uma carta, de próprio punho, para Rui Tourinho, que era um homem muito duro. Fui lá, me apresentei, e Rui Tourinho disse a mim: ‘não, aqui não tem esse negócio de jeitinho pra você voltar pra cidade não, não pode, se a lei disse que não pode, não pode, se a lei disser que pode, você vai. Diante daquela carta do Padre Sadoc, uma semana depois, saiu minha remoção no Diário Oficial, para Feira de Santana.”
“E chegando em Feira, eu trabalhava com vários juízes, e naquele tempo, que era plantão de juízes, fui trabalhar com Dr. Justino Farias, com Doutora Josefa Cristina, Dr. Osvaldo Rosa, Dr. Rosalvo Augusto e era uma experiência muito grande, nessa época eu era aluno de História da UEFS. E ali, trabalhando com o Direito, descobri a vocação para ser Advogado, era um sonho ser Advogado. E essa prática de trabalhar na Justiça, os juízes orientando, me deu a formação que tenho hoje e graças a Deus, as pessoas que acreditaram no meu trabalho, acreditaram-no meu potencial, até hoje me seguem, como muitos clientes de anos, que acompanharam essa trajetória, que agradeço a Deus, todos os dias, porque não é fácil advogar no país que vivemos, com tanto preconceito e racismo, que infelizmente ainda são fortes, fruto de anos de escravidão que, depois que foi eliminada, ficaram os efeitos, ficou essa ferida da humanidade, que durou muitos séculos e ainda persiste em suas consequências. Não foi fácil esse caminho de estudar, como continua sendo ainda muito difícil. Depois do governo do PT, e bom que se diga isso, para que as pessoas entendam que não é politicagem, mas é uma política de Estado, pobre teve muito mais oportunidade em estudar Direito, Medicina, várias áreas da Engenharia, porque houve uma multiplicação de escolas públicas, de programas de FIES, PROUNI, incentivos de bolsas, na minha época não, só tinha UEFS para fazer Direito ou em Salvador. Essa popularização do ensino superior é algo recente. Essa trajetória não foi fácil, mas foi possível.”
“Sobre ter sofrido preconceito por ser um advogado negro, Ronaldo relatou: “se eu disser que sofri, não é verdade. Porque eu sempre fui muito altivo, muito ousado, eu sempre e impus, nunca dei espaço para que alguém me tratasse diferente por ser negro, primeiro que eu não tenho complexo de cor, não tenho frustração nenhuma; sei que há pessoas que tem por terem sofrido alguma retaliação, eu, graças a Deus, não sofri nada. Mas existem episódios que eu percebo assim, alguém tomar aquele susto, ‘esse cara, esse negro?’ ‘que negro ousado!’ ‘esse negro é sabido, é diferente!’. As pessoas destacam sempre a cor da pele, como se fosse um plus da capacidade intelectual ou da ousadia de fazer determinada coisa. Certa vez eu fui num ambiente com o ex-prefeito José Ronaldo, que é importante aqui em Feira de Santana, e aí chegando nesse ambiente, nessa repartição pública com ele, ficamos sentados na antessala, esperando sermos chamados. Ele foi ao toilette, e eu fiquei sentado. Tinha uma pessoa la, um servidor público, que me disse ‘você, por exemplo, que é o motorista do ex-prefeito’, aí eu falei ‘não, eu sou advogado dele’, e o rapaz ficou desconsertado e eu levei na brincadeira, porque, de fato, não me ofendeu, porque ser motorista é uma questão muito honrosa. Nesse momento estávamos sentados eu, esse servidor público e o gerente do INSS da Queimadinha, na época. Só passei por esse episódio mais marcante, mas até hilário, mas nada disso me impediu de avançar.” revela Ronaldo.
E concluiu, com uma mensagem para a população negra: “busquem acreditar em Deus, Deus não faz acepção de pessoas, Deus não escolhe pessoas pela cor da pele, acreditem nos seus sonhos, vocês são capazes, a exemplo de muitos negros que se destacaram. E não permita que ninguém lhe diga que você não é capaz. Invista em vocês, estudem muito, leiam muito. Então, a educação é a base, o sonho é a alma e a fé em Deus é o combustível. Se encha de Deus, sempre.”
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Foto Arquivo pessoal
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