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Conheça os novos talentos e histórias da música feirense

Conheça os novos talentos e histórias da música feirense

25/10/2020 08h59 Atualizada há 5 anos
Por: Conectado News
Conheça os novos talentos e histórias da música feirense

Não é só na Feiraguay que você encontra de tudo, a ampla cena musical da cidade também não deixa a desejar. Mas, ao contrário das famosas imitações vendidas na feira, a cena musical independente de lá tem esbanjado autenticidade. Do rap ao R&B, juntando a batida da eletrônica com o pagode, passando pelo samba e conversando com o arrocha: todos os ritmos parecem se encontrar na nova leva de artistas independentes de Feira de Santana. Sem rótulos que especifiquem a qual gênero pertencem, cada um faz o que bem entender, contanto que saia disso uma música envolvente e de qualidade.

A cidade parece mesmo ser boa em lançar novos ritmos. Foi de lá que saíram nomes como Luiz Caldas, considerado o pai do axé, e Russo Passapusso, vocalista do grupo BaianaSystem. Agora, novos personagens estão dispostos a levar o nome de Feira para o mundo.

Lerry é um deles e se apresenta como “músico de família”. Conta que uma de suas primeiras lembranças com a música é de quando o avô o ensinou a tocar bateria. Já participou de fanfarra, banda de rock, forró… até que se encontrou onde podia misturar todos esses ritmos. Hoje se identifica como DJ, produtor musical e compositor.

As suas músicas conseguem ir do groove ao grave no mesmo milésimo de segundo. Lerry produz sons irreverentes, que ele classifica como pagotrance, arrochadelic e grave brasileiro – são as misturas do pagodão baiano com o psytrance indiano, o arrocha com o psychedelic e o grave eletrônico com ritmos brasileiros, respectivamente.

“A gente chama de música eletrônica brasileira, que é a ideia de ter ritmos tradicionais do Brasil, da música afro-brasileira eletrificados, digitalizados, transformados em música eletrônica”, explica.

Lerry chegou a morar por um ano e oito meses em São Paulo até que decidiu voltar para Feira. Considera que não importa se está lá ou cá; para crescer, o artista independente precisa circular por diferentes lugares. “Feira é uma grande escola que ensina muitas coisas. Mas o artista, para sobreviver, não pode ficar parado no mesmo lugar, nem se for em Feira ou em São Paulo”, pondera.

Agora, está com um novo projeto em andamento. Honrando seus conterrâneos, prepara-se para lançar um disco com remixes apenas de artistas feirenses, se chamará Feira Beat Remix. Dentre os artistas remixados estão o grupo Africania – considerado por Lerry “o principal grupo alternativo da cidade” – e o cantor de reggae Dionorina, com a música Cobra Coral, lançada há mais de 20 anos.

Seguindo a mesma premissa de que “é preciso circular” está Duquesa. A artista vive na conexão Bahia-São Paulo desde que assinou contrato com a produtora Boogie Naipe, nome conhecido na indústria musical, responsável por produzir artistas como Mano Brown, Racionais e Liniker.

Nome de batismo: Jeysa Ribeiro Conceição. Mas assumiu o nobre título de Duquesa para tentar entrar em um grupo de rap na cidade, ainda adolescente. “Como Jeysa eu ficava muito tímida de ir lá e fazer acontecer. Aí eu fui pesquisando, pensei em Duquesa. Duquesa ficou bonito, ficou um negócio meio charmoso, um glamour”, conta.

Aos 15 anos, ela fez sua primeira participação musical. Cinco anos depois, já tem no currículo colaborações com Rincon Sapiência e com a cantora Ju Moraes. Vivendo nessa ponte, Duquesa conta que a vontade dela é ter condições de se manter entre o Sudeste e o Nordeste.

“A Bahia, no geral, não é um lugar de onde eu queira sair. É muito difícil ir para lá e não sentir falta daqui”, considera. Previsto para sair no dia 6 de novembro, a artista vai lançar o single Para para pensar nas plataformas digitais.

Mesmo tendo começado no rap, ela transita pelas diversas vertentes do hip-hop – movimento que engloba diversas manifestações da cultura negra: “Eu gosto de experimentar outras coisas e testar para ver até onde eu consigo ir, e acabo me identificando em um pouco de tudo”.

Dentro dos subgêneros do hip-hop, Duquesa já experimentou o boom bap e o trap, agora está querendo ir além dos limites para explorar o R&B. “Eu sou artista da música, você vai me ver fazendo de tudo. É isso o que me define: versatilidade”.

Vertentes

Na cena independente de Feira, difícil mesmo é encontrar artistas que consigam se definir em apenas um gênero musical – o que, talvez, traduza perfeitamente a contemporaneidade. Assim como Lerry e Duquesa passeiam por diversas vertentes para criar o seu próprio estilo, o grupo Roça Sound também.

“Às vezes, eu acho que é hip-hop, às vezes eu acho que é underground, eu só sei que é alternativo”, conta Nick Amaro, integrante do grupo. Sintetizando ainda mais, Nick descreve o som produzido pelo grupo como “junção das músicas da periferia do Brasil e de fora”.

Formado por Nick Amaro (DJ e MC), Bomani (DJ e MC), Paulo Balla (MC) e Edy Murfi (dançarino), o Roça Sound tem se tornado um dos principais nomes da cena de Feira, com apenas cinco anos de existência.

Talvez você esteja sentindo falta de algum instrumentista, mas não estranhe. O grupo utiliza a técnica de soundsystem, originária da Jamaica e que já conquistou o mundo. É usada também por grupos como BaianaSystem e Ministereo Público e consiste, basicamente, na criação de música através de grandes aparelhagens de som, fazendo mixagens e criando novas batidas.

Em Feira, a agenda de shows costuma ser movimentada. Um dos eventos mais marcantes para o grupo é o Feira Noise – maior festival de música independente da cidade, que completou 10 anos em 2019.

Fora de Feira, a intimidade com o público ainda não é a mesma. “A gente se sente muito abraçado aqui em Feira, mas quando a gente parte para outras coisas maiores, como Carnaval e até fora do estado, a gente vê que a gente tem muito o que aprender ainda”, conta Nick.

Para aprender, é preciso continuar. O grupo está envolvido com a produção de um EP com quatro faixas, cada uma conta com a participação de uma cantora de um estado diferente do Brasil. São elas: a paraense Keila, a pernambucana Jessica Caitano, a paulista Mis Ivy e a baiana, também natural de Feira de Santana, Paula Sanffer. O projeto está saindo do papel e sendo produzido por Lerry.

Referência

Perto dos outros artistas emergentes, o grupo Africania já viveu de tudo um pouco. Sempre se reinventando, é como se a banda nunca envelhecesse, e talvez a alcunha de banda os simplifique: Africania se mostra mais como um movimento.

O grupo, que já foi ora sexteto ora quinteto, hoje é integrado por Bel da Bonita (voz e percussão), Cid Fiuza (guitarrista), Daniel Penha (voz e violão) e Levi Labizone (DJ), além de outros colaboradores.

Fundada por Bel em 2006, da configuração da Africania de 14 anos atrás só restou o criador, afinal, é ele quem dá os passos dos próximos rumos. Bel se descreve como “uma espécie de estuário para onde escorrem as forças de pessoas que gostam de arte, que se importam com a música brasileira e com a música do mundo”.

Em 48 anos de vida, 32 foram dedicados à música. Nascido na roça, foi para Feira quando criança para estudar. “Todo mundo que chega aqui vira de Feira”, diz ele. “Feira de Santana foi a cidade que me deu régua e compasso para a vida”.

Logo quando começaram, costumavam tocar em festas raves, e a banda participou inclusive do Universo Paralello – maior festival de música eletrônica do Brasil, que ocorre bienalmente na Praia de Pratigi. A relação com os festivais alternativos é tão duradoura que Africania se orgulha em ter participado de todas as edições do Ressonar, festival que ocorre a cada primeira lua cheia do ano, na Chapada Diamantina.

Samba de batuque

Agora, o grupo está lançando um álbum dedicado ao samba de batuque, que se chama O curador do museu do imaginário.

Cid Fiuza, guitarrista, entrou no grupo porque sentiu que aquela história a ser contada também era a história dele. “Esse disco era justamente a raiz que eu precisava para dar solidez à minha arte. Com esse disco, eu não estou fazendo algo que adquiri com o mundo, mas com as minhas próprias raízes”, conta Cid, natural de Água Fria, município do sertão baiano.

“A gente não tem interesse que esse disco seja colocado como disco folclórico, bucólico. Ele tem uma musicalidade que vem do jazz, do trance, o minimal e a música brasileira de raiz, de tudo a gente bebe um pouco”, conta Bel, ressaltando que o samba rural nunca havia sido realmente gravado e produzido em formato de álbum.

Se, depois desse projeto, surgir uma outra vertente que queiram explorar, nada os impede. “O grupo Africania não se define como um grupo que vai ficar se alimentando apenas de um gênero. A gente é um grupo inquieto, temos ainda muitas pesquisas e informações que queremos levar ao público”, enfatiza Bel.

Em parceria com o estúdio Via Sonora, ao qual fazem questão de agradecer, Africania se mantém viva e, seguindo a sua proposta inicial, em constante movimento.

Conectadonews.com.br

Fonte A TARDE

Foto: Adilton Venegeroles

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